Indiferente a mim

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A lembrança veio a mente de Gizelly.

Elas tinham feito uma visita à casa de um amigo no interior.

Estava frio, já era fim do inverno. Na foto parecíam felizes e apaixonadas. Em certo sentido, Gizelly achava que estavam. Mas Gizelly havia recusado o convite de passar a noite lá, para a decepção de Luiza.

Aquele lugar pareceu romântico demais para Gizelly, e compartilhar uma noite ali ao lado de Luiza, para ela, compricaria o relacionamento que matinham. Por mais que o arranjo com Luiza naquela época estivesse sendo o suficiente, Gizelly estava satisfeita como era. Sem compricações, romantismo ou rotulos. E assim acreditava que compartilhava da mesma visão que Luiza.

Gizelly respirou fundo para se desvencilhar do passado.

- Rafaella e eu vamos nos casar em um mês. O que tenho com ela é inquebrável. Nada pode se comparar ao que temos. – Disse Gizelly, num tom calmo.

Luiza ficou tensa.

Luiza virou a cabeça e olhou para o outro lado. Em seguida pegou a caixa, remexeu na pilha de fotos e encontrou uma delas na praia.

Gizelly estava em pé com água até a cintura. Luiza estava agarrada a ela, com as pernas em torno do seu corpo, os braços sobre seus ombros e as mãos nos seus cabelos. Com a cabeça jogada para trás, ela ria, em uma imagem que irradiava alegria. Gizelly a segurava com força, os olhos vidrados nela. Havia gratidão ali, e admiração. Afeto. Desejo. Quem não conhecesse Gizelly pensaria que ela estava apaixonada.

Era o objetivo de Luiza. Gizelly vem sempre negando que tenha amado alguém antes de Rafaella, e era absoluta verdade. Da forma mais publica possivel, Luiza estava determinada a provar que Gizelly estava mentindo.

Luiza se inclinou para a frente, olhou para a foto e depois para Gizelly. Sua expectativa era tangivel, como se Gizelly pudesse estar prestes a ter uma grande epifania. Luiza passou os dedos no colar, e Gizelly percebeu que ela o havia dado de presente, uma corrente simples com um pingente de coração dourado.

Gizelly não sabia quem havia tirado a foto, nem se lembrava de onde estavam na ocasião, e para Gizelly não fazia diferença.

- O que você quer provar com isso, Luiza? Nós tivemos algo. E terminou. Você decidiu assim, e eu vi que foi a melhor decisão que tomou. Não existe mais nada entre nós. – Gizelly tentava se manter calma.

- Então por que está exaltada? Você não é indiferente a mim, Gizelly.

- Não mesmo. Você me irrita. Essas fotos só me fazem apreciar ainda mais o que tenho com Rafaella. E saber que isso vai deixar você magoada não me deixa com nenhuma saudade do passado. Este é o nosso ultimo adeus, Luiza. Tentei ser o paciente o quanto pude com você e suas investidas, mas já passou da hora de você cair em si e entender que nem mesmo me trazendo aqui mil e umas imagens, ou supostas provas de que éramos felizes juntas vai me fazer mudar o que sinto por Rafaella. Nada vai mudar o que sinto por ela, então poupe suas energias e siga a sua vida. Esqueça o que passou. – Gizelly a encarou com firmeza, para que visse a sua determinação. – Se voltar aqui, os seguranças não irão deixar você entrar.

- Eu não vou voltar, você vai ter que...

A porta do escritorio foi aberta, o movimento interrompeu a fala de Luiza.

Antes mesmo de saber quem interropia, Gizelly podia sentir a sua presença. Gizelly se perguntava se algum dia conseguiria estar na presença dela sem sentir o chão se mover sob os seus pés.

Rafaella parou de repente, dando a Gizelly o prazer de olhá-la.

Gizelly poderia dizer que Rafaella era angelicalmente linda, não fosse sua sensualidade escancarada, que sempre fazia desejar sexo selvagem com ela.

Contra a sua vontade, a mente de Gizelly se lembrou de seu cheiro e sua pele sob suas mãos. De sua risada aberta que enchia Gizelly de alegria. De sua sexualidade, que fazia Gizelly estremecer. Eram recordações viscerais. Tudo dentro de Gizelly ganhou vida em uma onda de energia. Gizelly não sentia isso em nenhum momento quando não estava com ela.

Luiza foi a primeira a falar.

- Olá, Rafaella.

Gizelly sentiu a irritação tomar conta dela. A necessidade de proteger a pessoa mais importante na vida dela era primordial.

Gizelly se endireitou, jogou a foto de volta na caixa e foi até sua noiva. Em comparação com Luiza, estava vestida com decoro, com uma saia preta de risca de giz e uma camisa de seda sem manga com um brilho perolado. A onda de calor que Gizelly sentiu era a prova de que ela precisava para determinar qual delas era mais sexy.

Rafaella. Naquele dia e sempre.

A atração que sentia fez atravessar a sala com passos acelerados.

Meu amor.

Gizelly não disse isso em voz alta, porque não precisava. Rafaella pôde sentir o calor das palavras não ditas.

Gizelly estendeu a mão, e ao sentir a familiaridade de sua pele, apertou com força.

Rafaella se virou a fim de cumprimentar a mulher que de forma nenhuma era páreo para ela.

- Luiza.

Gizelly não se virou para olhar.

- Preciso ir. – Disse Luiza atrás de Gizelly. – Essas cópias são suas, Gizelly.

Incapaz de tirar os olhos de Rafaella, Gizelly falou por cima do ombro:

- Pode levar. Eu não as quero.

- Você deveria ver até o fim. – Luiza rebateu, chegando mais perto.

- Por quê? – Perguntou Gizelly irritada olhando para Luiza quando ela parou ao seu lado. – Se eu tiver algum interesse, posso sempre dar uma olhada no seu videoclipe. – Ironizou

O sorriso de Luiza ficou tenso.

- Adeus, Rafaella. Gizelly.

Quando Luiza saiu, Gizelly deu mais um passo na direção de Rafaella, eliminando de vez a distância entre elas. Segurou sua outra mão, inclinando-se para a frente a fim de inalar seu perfume. Uma sensação de calma a invadiu.

- Como é bom ter você por perto. – Gizelly murmurou as palavras junto á sua testa, querendo a maior proximidade possível. – Já estava morrendo de saudades.

Fechando os olhos, Rafaella se apoiou contra Gizelly com um suspiro.

Gizelly podia sentir a tensão em seu corpo, apertou suas mãos com mais força.

- Tudo bem com você? – Perguntou Gizellu num tom manso.

- Sim, estou bem. Só não esperava vê-la aqui.

- Eu também não. – Gizelly se afastou. Voltou até a mesa, tampando a caixa e a jogando no lixo.

-É?

- É. – Gizelly a observou. – E o que vai fazer agora?

- Tenho um casamento para organizar.

- Ah. – Gizelly abriu um sorriso. Depois de convence-la sobre a data. Rafaella finalmente tinha escolhido uma. O cartão que havia enviado com as flores trazia esta informação. 

Era vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora