Nova chance

635 88 1
                                    


· Perspectiva de Gizelly

O final de semana, como sempre para Gizelly, havia passado muito rápido. Está ao lado da sua noiva, sem se preocupar com nada além do que fazê-la feliz era o que mais amava fazer.

Já era segunda. Dia de voltar a rotina exaustiva que sua vida profissional exigia. Entre reuniões e preparativos para a inauguração da nova escola, Gizelly planejava resolver de uma vez por todas a ponta solta que tinha deixado em segundo plano em suas prioridades.

Os passos de Marcela estavam sento monitorados por alguém da confiança de Gizelly. Sua rotina não era repleta de tarefas, ao contrário, ela cada vez mais se afundava dentro de um pequeno cubículo o qual teve que alugar após romper a sociedade com Gizelly. Rompimento este que a deixou em péssimas condições financeiras. O trabalho na ONG era tudo que restara em sua vida, o que ainda a prendia na cidade.

Por mais que acreditasse que Marcela merecia estar naquela situação a qual escolheu, resolveu não cruzar mais os braços. Gizelly no fundo a entendia, Marcela tinha acreditado nas palavras daquela que julgou ser o amor da sua vida.

Amar alguém nem sempre é a melhor coisa que acontece na vida de uma pessoa, ainda mais quando só uma parte possui este sentimento.

Quando se ama cegamente alguém, o amor tornasse perigoso. Você fica vulnerável e propenso a cometer loucuras por ela, as vezes para protege-la, Gizelly refletiu sobre seu amor por Rafaella. E as vezes de forma que não permite enxergar quem realmente o ser amado é, o que era o caso de Marcela.

Ao fim da tarde, Gizelly foi até a ONG onde Marcela ainda prestava atendimento.

O horário que havia escolhido foi estratégico, sabia que naquele horário Marcela estaria sozinha e que a recepcionista não estaria na entrada, assim facilitando seu encontro com Marcela sem causar alardes.

- Boa tarde, Marcela. – Disse ao entrar na sala, fechando a porta atrás de si.

Marcela estava sentada atrás da mesa, remexendo alguns papeis com um semblante de preocupação. Quando notou a presença de Gizelly na sala sua fisionomia mudou drasticamente. A raiva ardia em seus olhos.

- Que merda você está fazendo aqui? – Perguntou em fúria.

Gizelly levantou as mãos em sinal de rendição.

- Vim em missão de paz, então vamos tentar ser civilizadas por dois minutos. É o que peço.

Gizelly caminhou até a cadeira vazia em frente a mesa, Marcela a seguiu com o olhar, o ódio ainda estava presente neles.

- É muita cara de pau da sua parte ainda ter coragem de pisar aquilo depois de tudo. Depois de ter a matado. Depois de ter destruído nossas vidas.

- Não destruir a vida de ninguém, apenas tentei proteger aquela que amo. E por saber como o amor é capaz de nos modificar e transformar nossas prioridades em nada quando se diz a respeito do outro, eu entendo sua cegueira. Não me entenda mal. – Gizelly levantou o dedo indicador pedindo um minuto quando Macela ameaçou interrompe-la. – Eu entendo o seu amor cego por Luiza. Entendo que não queira ver a situação como realmente ela é. Mas você não pode destruir sua vida por alguém que não merece. Quando conversamos no evento beneficente, vi a mulher incrível que você é. E olhe só, olha onde você foi parar por acreditar em alguém que estava apenas lhe usando. No inicio eu não me importei em lhe explicar nada, deixei que me odiasse e que tirasse suas próprias conclusões. E pra ser sincera, até dois dias atras ainda não me importava. Talvez seja a convivência com Rafaella, talvez seja o amor que estamos construindo tenha mudado algo dentro de mim, mas eu não poderia mais cruzar os braços para a sua situação. Eu sei que você foi atras da Rafaella assim que soube da morte de Luiza.

Marcela havia emagrecido, suas faces empalideceram, o rosto alongou, os olhos afundados em dois sulcos que marcavam sua face.

Ela abaixou a cabeça ao ouvir sobre sua explosão de fúria contra Rafaella.

- Mas sei também que não passou de uma ameaça vazia. De um momento de desespero e sofrimento por perder alguém que tanto amava. Você nunca tentou nada contra ela, e sei que nunca irá tentar. Você não é uma pessoa ruim, Marcela. E você também sabe disso. Acredito que minha palavra não é de grande valia para você, mas peço que dê uma olhada neste material. – Gizelly a entregou uma pasta. – Tudo o que você pensa sobre Luiza, sobre ela ter sido a vitima não passar de uma ilusão. Ela não era quem você pensava. Você está destruindo sua vida por alguém que nem conhecia. Alguém que não vale todo esse sofrimento.

Gizelly esperou em silêncio que ela verificasse cada documento contido naquela pasta. Gizelly sabia que aquelas provas iriam abrir os olhos de Marcela. Iria fazer com que ela enxergasse a verdadeira história.

Marcela foleou os documentos repetidas vezes.

O seu rosto era uma mistura de tristeza e decepção.

- Eu não acredito o quanto fui idiota. Como pude acreditar em alguém como ela? Isso tudo não pode ser verdade. – Marcela lutava contras as lagrimas que começavam a se acumular em seus olhos. – Eu fui capaz... Eu. Eu não entendo.

Marcela não estava conseguindo controlar suas emoções, Gizelly a entendia.

- Não vim aqui para evidenciar seus erros, mas sim para que você não continuo os cometendo. Não vale a pena destruir sua vida e carreira por esta pessoa.

- Eu disse coisas horríveis para ela. Para você. Eu... Eu desistir dos meus sonhos. Desistir de tudo por ela. – Interrompeu Marcela.

Agora as lagrimas desciam sem controle pelo rosto de Marcela.

Gizelly esperou pacientemente até que ela se acalmasse, para só então continuar.

- O que passou não mais importa, mas saiba que se você chegasse perto de um fio de cabelo da Rafaella, não estaríamos tendo esta conversa. – Gizelly remexeu na cadeira. – O fato de compreender seus motivos, não me fazem ter compaixão ao ponto de esquecer totalmente tudo o que você fez. Sei que tenho minha parcela de culpa. Mas não se engane comigo, não quando o assunto é a segurança e bem estar da minha mulher.

Marcela a olhava em silêncio.

O ódio antes estampado em seu rosto deu lugar ao arrependimento. Seu olhar transparecia o que sua alma sentia, a culpa que sentia.

- Quero lhe fazer uma proposta, mas quero que você reflita sobre ela e que só depois de ter certeza aceite ou não. A veja como sua segunda chance, como uma forma de se redimir das suas más escolhas. Eu acredito muito no seu potencial, e só por isto resolvi fazer esta proposta – Continuou Gizelly.

Gizelly remexeu em sua bolsa, pegando um envelope pardo e entregando a Marcela. Nele continha um contrato informando sobre todos os detalhes que envolvia aquele acordo.

- Você tem até o final da semana para me dá um parecer. Pense sobre tudo o que conversamos e sobre como estar sua vida e se é assim que deseja que ela permaneça. A filial fica na argentina, isso significa uma mudança significativa. Hernandez Valdez estará na cidade na sexta-feira. Você tem até lá para decidir.

Gizelly começa a se levantar para sair.

- Obrigada! – Diz Marcela. – E me desculpe por tudo o que causei a vocês. Muito obrigada.

- Pense bem sobre tudo o que conversamos. Irei aguardar sua resposta.

- Não precisa aguardar. Posso dá-la agora mesmo. Eu aceito. – Disse Marcela, sua voz tomada pela certeza. 

Era vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora