Momentos de tensão

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Quando chegaram no estacionamento do prédio, Gizelly correu para abrir a porta para Rafaella, depois contornou o carro para ocupar seu lugar atras do volante.

O carro parecia estar andando bem devagar para Rafaella. Tudo parecia estar em câmera lenta.

Rafaella agarrou a manga da blusa de Gizelly.

- O que aconteceu? – Implorou para saber.

- Ela foi atropelada no sábado a noite. – Respondeu Gizelly, mantendo o olhar no caminho que percorria.

- Como você ficou sabendo?

- A Manu, ela deixou recado no meu celular.

- A Manu...? – Rafaella a olhou sem entender nada. – Por que ela não...

Rafaella se deu conta de que não tinham como entrar em contato com ela. Ela estava sem o celular o final de semana inteiro e quando chegou estava muito cansada para verificá-lo. Ela foi imediatamente dominada pela preocupação e pelo sentimento de culpa. Mal conseguia respirar.

A relação com a irmã tinha melhorado significativamente após o incidente com Bianca e ela. Sua irmã tinha decidido ficar um pouco mais na cidade, a casa antes ocupada por Bianca agora era a sua moradia. Os dias foram passando e Rafaella acreditava que não demoraria para ela se instalar na cidade definitivamente.

- Meu anjo. – Gizelly tirou a mão do cambio do carro e puxou a sua cabeça, para que Rafaella apoiasse ao seu ombro. – Não fique se remoendo. Primeiro vamos ver como ela está.

- Mas já faz praticamente três dias, Gizelly. Eu não estava lá. – Se lamentou.

As lágrimas começaram a descer pelo seu rosto e não pararam mais, mesmo depois de chegarem ao hospital. Rafaella não conseguiu reparar em nada no interior do edifício, sua atenção estava voltada totalmente para a ansiedade que a consumia. Ela agradeceu a Deus por estar acompanhada de Gizelly, que se manteve calma e senhora da situação. Uma funcionária as ofereceu o numero do quarto de Mariana, mas ela não poderia ajudá-las em mais nada. Gizelly teve que fazer uma série de telefonemas em plena madrugada para garantir o acesso ao quarto fora do horário de visita.

Ao entrar no quarto e ver o estado de sua irmã, o coração de Rafaella se desfez em pedaços e suas pernas fraquejaram. Se não fosse por Gizelly, ela teria desabado.

A sua irmã estava deitada em silêncio completo, imóvel em uma cama. Sua cabeça estava enfaixada e a lateral do seu rosto estava roxa. Um dos braços estava engessado e pelo outro ela tomava soro.

Gizelly a levou para mais perto da cama, com o braço em torno da sua cintura para lhe amparar. Ela chorava aos soluços, lágrimas grossas e mornas escorriam por seu rosto. Era o máximo que Rafaella podia fazer em termos de silêncio.

Ainda assim, sua irmã deve ter a ouvido ou sentido a sua presença. Suas pálpebras tremeram um pouco, depois se abriram. Mari precisou de alguns momentos para conseguir ver Rafaella. Quando olhou para ela, piscou algumas vezes e as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto.

- Mana. – Rafaella correu até ela e colocou a sua mão sobre a dela. – Estou aqui.

Mariana lhe apertou com tanta força que até doeu.

- Rafa.

- Desculpa não ter vindo antes. Eu estava sem celular. Não fazia ideia... Teria vindo se soubesse.

- Não se preocupe. Você está aqui agora. – Mariana lutou para engolir em seco. – Minha nossa... tudo dói.

- Vou chamar a enfermeira. – Anunciou Gizelly, passando as mãos nas costa de Rafaella antes de sair.

- Está com sede? – Pergunta Rafaella ao ver uma jarrinha com água e um copo na mesa do quarto.

- Muita.

- Posso sentar você? Ou é melhor não? – Rafaella está com medo de fazer alguma coisa que aumentasse a dor que Mariana sentia.

- Pode.

Usando um controle remoto que estava perto da mão de Mari, Rafaella ergueu a parte de cima da cama para que ela pudesse se sentar. Depois levou o copo até sua boca e observou enquanto ela bebia com vontade.

Mariana relaxou com um suspiro.

- Mas o que foi que aconteceu? – Perguntou Rafaella, deixando o copo vazio de lado e agarrando de novo a mão da irmã.

- Eu não sei ao certo. – A voz de Mariana era fraca, quase um sussurro. – Me atropelaram. Quando eu vi, já estava no chão. Foi tudo muito rápido. A pessoa fugiu sem prestar socorro.

A amizade entre Mariana e Manoela nasceu após compartilharem momentos de tensão no hospital enquanto aguardavam notícias sobre o estado de Rafaella. Ali cresceu um vínculo entre as duas naturalmente.

- Atropelada? – Só de pensar, Rafaella se sentiu fisicamente mal. – Que loucura.

- Nem fale. – Ela concordou, franzindo a testa numa expressão de dor.

- Desculpe. – Rafaella recuou um pouco.

- Não precisa pedir desculpas, mana. Eu estou... – Mari fechou os olhos. – Estou exausta

Foi neste momento que a enfermeira entrou, usando um avental decorado de desenhos de depressores linguais e estetoscópios antropomorfizados. Ela examinou o estado geral de Mariana, mediu sua pressão arterial e por fim aplicou a medicação.

A enfermeira olhou para Rafaella.

- Ela precisa descansar. Você pode voltar durante o horário de visita.

Mariana lançou um olhar de desespero para Rafaella.

- Não vá embora. – Implorou.

- Ela não vai sair daqui. – Informou Gizelly ao voltar para o quarto. – Já mandei trazerem uma cama extra.

Rafaella não imaginou que fosse possível amar Gizelly ainda mais, mas ela sempre arrumava um jeito de provar que era.

A enfermeira sorriu timidamente para Gizelly, e não disfarçou seu olhar de admiração por ela. Isto causou uma pequena faísca de ciumes em Rafaella.

Com relutancia, a enfermeira tirou os olhos de Gizelly e voltou a sua atenção para Rafaella quando ela lhe dirigiu a palavra.

- E ela precisa de mais água. – Rafaella avisou a enfermeira.

Ela pegou a jarra e saiu.

Gizelly foi até a cama e falou com Mariana.

- O que aconteceu? – Perguntou num tom sério.

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