Desejos

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"Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada." -
Do Desejo – Hilda Hilst

Para Gizelly, ser solteira era ótimo. Não queria ficar a vida toda procurando pela pessoa certa, pois em sua visão era uma busca que sempre terminaria em frustração.

Ficar uma noite somente não passa pela cabeça de muitas mulheres, mas Gizelly adorava seus relacionamentos casuais. Pois amava sua liberdade, encontrou neles a solução para o que desejava; relações sexuais descomplicadas e sem compromisso. A entrega a um desejo, uma entrega à intensidade do gozo carnal, ao invés de uma busca enfadonha pelo sentido vazio da procura pela pessoa certa.

Passado algum tempo, Gizelly despertou incomodada com o calor que sentia. Estava acostumada a dormir só, e o calor provocado pelo corpo de Rafa fez com que ela acordasse.

Endireitou-se na cama, afastando um pouco seu corpo do de Rafa, tomando cuidado para não a acordar. Aproveitou a oportunidade para observá-la.

Rafa dormia serenamente com o lençol enrolado à volta da cintura. Tinha uma expressão tranquila, sua respiração despreocupada e inocente. Gizelly estendeu a mão para acariciar seu rosto, mas hesitou no último momento. Tinha medo de lhe tocar e acabar por lhe acordar.

Como era possível que aquele momento de amor tivesse sido tão intenso? Já tinha conhecido inúmeras mulheres, ido pra cama com um número considerável delas. Mas nunca com tamanha intensidade quanto desta vez. Gizelly temia a energia, o raio poderoso que tinha surgido entre elas.

Rafa gemeu e abriu os olhos. Os seus olhares encontraram-se. Ela pestanejou e sorriu.

- Olá – disse enquanto se sentava.

O lençol deslizou do seu corpo, expondo o umbigo, a tatuagem e parte do seu púbis.

- Olá- respondeu Gizelly num sussurro.

- Nossa já anoiteceu. – Disse Rafa com espanto, ao se dar conta que tinha dormido demais.

- Calma, ainda é cedo – Gizelly disse enquanto aproximava seu rosto lentamente do de Rafa, hesitando como se estivesse pedindo a permissão dela. Ambas ficaram imóveis. Mesmo estando tão perto a única coisa que tocava o corpo de Rafa era a respiração pesada de Gizelly.

Gizelly continuou sem se mexer, mantendo o olhar fixo no da Rafa. Ele conseguia ser sedutor e doce ao mesmo tempo. E aquele olhar a deixava louca. Os seus lábios se tocaram finalmente, iniciando um beijo delicado e sem urgência. Foi um beijo mais longo do que os anteriores. Apertou-a contra o seu corpo quente e solido e saboreou-a. Ela desfrutou do seu sabor e do seu toque, colada a ela.

Ali nua, beijando aquela mulher, Rafaella sentiu impulsos percorrer seu corpo, quando envolveu seus braços em Gizelly, com a intenção de diminuir ainda mais a distância. Gizelly percorreu os dedos pela cintura dela e a apertou contra seu copo novamente. A deitou com um puxão.

- Ui! – Ela deu um gritinho sendo pega de surpresa pela atitude de Gizelly.

- Você é tão gostosa – Disse Gizelly com a voz rouca de excitação.

- Não quanto você – Respondeu Rafa com um sorriso safado no rosto.

- Queria fazer tanta coisa contigo, mas tenho medo que se assuste e fuja de mim – Dizia enquanto mexia seu quadril contra o de Rafa.

- Por que eu fugiria? – Rafa quis saber.

- Você ainda não está preparada para conhecer meus gostos peculiares... porém podemos experimentar algo mais sutil. Algo que tinha em mente pra mais cedo. - Falou em quanto se levantava, em um tom que misturava um tesão duro e uma diversão carinhosa.

Pegando a taça de vinho que havia deixado no side table, sentou-se na cama novamente ao lado de Rafa.

- Você confia em mim? – Perguntou Gizelly.

Rafaela ponderou antes de responder. – Confio.

- Preciso que você mantenha sua mente aberta, livre de pudores. Você não precisa ter vergonha do que venhamos a fazer dentro deste quarto. O que acontecer aqui, ficará aqui. Entendeu?

- Sim, entendi. – Responde Rafa

- Então vamos lá... Hora da brincadeira – Disse dando um sorriso de canto – O vinho está quente, mas vai servir. Se algo te deixar desconfortável, me sinaliza. Ok?

- Ok!

- Certo, não irei fazer nada que venha te machucar, não intencionalmente. Por isto preciso que você seja sincera caso eu faça algo que cause desconforto.

- Tudo bem, entendi.

- Segure - Disse Gizelly ao entregar a taça não mãos de Rafa. Adotando um tom de autoridade.

Ao entregar a taça, se levantou e andou em direção ao seu banheiro, voltando de lá com um frasco na mão. Ao se aproximar o deixou em cima da cama.

- Pronto... vamos lá. Lembre-se, se sentir desconforto a gente para no mesmo instante.

- Não irei – Respondeu Rafa repleta de ansiedade e expectativa do que iria acontecer.

- Tímida? - Sussurrou com divertimento contra sua orelha, escorregando os dedos pelo rosto ruborizado da Rafa - Esta taça fica comigo.

- Huum... não! – Embora estivesse, estava muito excitada com a expectativa de saber o que Gizelly iria fazer, não queria falar nada que fizesse com que ela voltasse atrás do que pretendia.

- Você vai fazer o que eu quero, não vai, Rafa?

Neste momento o coração de Rafaella começou a bater tão forte, que ela se perguntava se Gizelly consegue ouvi-lo.

- Sim, irei. – Respondeu Rafa com um brilho de excitação em seus olhos.

Era vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora