Monstro sem alma

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Na manhã seguinte, Rafaella acordou com uma determinação gigantesca dentro de si. Não iria ficar mais de braços cruzados sem fazer nada, se contentando com migalhas e nem afundada em autopiedade.

Naquele dia, Gizelly não apareceu na escola. No fundo, Rafaella se sentiu grata por isto.

No final do dia foi até o novo endereço de Luiza. Ela agora tinha um apartamento fixo, ela agora morava bem perto de Gizelly, era só virar a esquina. Rafaella sabia que aquilo não poderia ser coincidência. Agradeceu pela irmã ter encontrado as informações que ela desejava.

Rafaella se apresentou na portaria e teve que esperar vinte minutos até receber permissão para subir ao oitavo andar. Tocou a campainha e quem abriu a porta foi uma Luiza de cara lavada e sem nenhuma produção, vestida apenas com um robe de seda longo. Ela era lindíssima com seus cabelos negros sedosos, e se movia com uma elegância natural e admirável.

Rafaella estava vestida com seu vestido cinza sem manga favorito e ficou feliz com a escolha. Perto dela, sempre se sentia sem sal perto de Luiza.

- Rafaella. – Luiza sussurrou. – Que surpresa.

- Desculpe aparecer sem avisar. Só preciso fazer uma perguntinha rápida.

- Ah, é? – Luiza manteve a porta parcialmente fechada e se apoiou no batente.

- Posso entrar? – Perguntou Rafaella sem cerimônia.

- Hã... – Luiza olhou para trás. – Acho melhor não.

- Não me importa se você estiver acompanhada, e pode ficar tranquila que só vai levar um minutinho.

- Rafaella. – Luiza passou a língua pelos lábios. – Nem sei como dizer isso...

As mãos de Rafaella estavam tremendo, e ela sentiu um nó no estômago ao imaginar Gizelly pelada atrás dela após ter sua foda interrompida pela ex-noiva sem noção. Rafaella conhecia bem os desejos sexuais de Gizelly.

E pensando bem, ela a conhecia bem mesmo. A ponto de poder dizer.

- Vamos parar com essa palhaçada, Luiza.

Luiza arregalou os olhos.

Rafaella abriu um sorriso irônico.

- Gizelly é perdidamente apaixonada por mim. Ela não está trepando com você.

Luiza logo se recompôs.

- E nem com você. Disso eu sei bem, já que ela passa todo o tempo livre comigo.

Então Rafaella se deu conta que não teria outra opção a não ser ter aquela conversa ali mesmo no corredor.

- Conheço bem Gizelly. Nem sempre entendo o que ela faz, mais isso é outra história. Tenho certeza que ela disse logo de cara que vocês duas não teriam nada, porque eu sei que ela não iludiria você. Sei que nosso afastamento tem a ver com alguma das suas tramoias, mas não pense que eu irei ficar de braços cruzados vendo você tentar estragar o que temos.

- Que historinha interessante. Ela sabe que você está aqui?

- Não, mas você vai contar. Fique à vontade. Só queria que você soubesse que não vai ser tão fácil assim pra você. Não irei facilitar em nada.

Luiza abriu um sorriso sarcástico.

- Até agora vimos quem está em vantagem. Boa sorte em sua falha tentativa.

- Escute só. Você nunca vai ter Gizelly da maneira como gostaria. E eu sei como isso machuca. Estou vivendo com essa sensação há semanas. Sinto muito por você, de verdade. E é ai que está sua redenção, Luiza. Se você prestar bem atenção, vai ver que ela sente minha falta. Seja uma boa amiga, porque é a única coisa que te resta na vida dela. Ser apenas uma velha amiga. Mas se você continuar fazendo, seja lá o que esteja, no final nem isso você terá

- Você pode enfiar sua solidariedade no cu. – Luiza explodiu. – Guarde pra si mesma. É comigo que ela está ficando sempre que pode.

- Ah, não posso esquecer da pergunta que disse que tinha, só queria perguntar olhando diretamente em seus olhos, se contentar com migalhas que Gizelly te oferece vale todo esse esforço que está fazendo para nos separar? – Rafaella virou as costas na direção do elevador e disse por cima do ombro. – Tenha uma boa noite.

Luiza bateu a porta com força atrás de Rafaella.

Quando voltou ao seu carro, Rafaella partiu em direção ao seu segundo destino.

Marcela Mc Gowan estava trabalhando em um projeto social com mulheres vítimas de violência de todos os tipos, a sede do projeto ficava no edifício um tanto modesto, mas por dentro era espaçoso e acolhedor. O chão da sala de espera era revestido com tábuas de madeira escura e as paredes estavam cobertas de fotos de paisagens.

Rafaella passou pela recepção depois se sentou, mas pouco depois foi chamada pela secretaria. Foi conduzida ao escritório de Marcela, e ela se levantou da cadeira e saiu de trás da mesa quando Rafaella chegou.

- Rafaella. – Ela estendeu a mão e Rafaella a cumprimentou. – Você não precisava marcar consulta.

- Eu não sabia como entrar em contato com você. – Rafaella abriu um sorrisinho.

- Sente. – disse Marcela apontando para a cadeira.

Rafaella se sentou, mas Marcela permaneceu de pé, apoiada contra a mesa, agarrando as bordas com as mãos. Era uma posição de quem queria mostrar que estava no controle, e Rafaella não entendeu por que ela achou necessário fazer isso ao falar com ela.

- Em que posso ajudar? – Ela perguntou.

Marcela tinha um ar tranquilo e confiante e um sorriso no rosto. Com sua boa aparência e sua educação, Rafaella tinha certeza de que qualquer mulher confiaria em sua capacidade e integridade.

- Você conhece a Luiza a um certo tempo, e também tiveram algum tipo de relação amorosa. Gostaria que você me contasse um pouco mais sobre ela, e o que a levou a ter algum tipo de obsessão por minha noiva.

Marcela se fechou no mesmo instante e se endireitou.

- Não posso falar sobre Luiza.

- Ah, qual é. – Rafaella se recostou e cruzou as pernas. – Esperava mais de você.

- Gizelly não é quem você pensa. Ela é um monstro sem alma que corrompe as mulheres.

Rafaella tentou segurar a risada que teimava em querer sair da sua garganta ao ouvir o absurdo que acabara de ser dito pela mulher em sua frente.

- Eu conheço muito bem minha noiva, e acho que esta descrição, dela ser um mostro sem alma, se encaixa mais em sua querida protegida. – Rebateu Rafaella.

- Fiz minha parte e alertei você. – Seu olhar era duro, seus lábios estavam contorcidos. – Se prefere jogar sua vida fora, correndo atrás de um ser como ela, não há nada que eu possa falar ou fazer.

- ainda vou descobrir tudo sobre sua queria Luiza. Só precisava perguntar cara a cara. Precisava saber se você também estar envolvida nas tramoias dela. Precisava saber se eu estava certa.

- Não está. Não há mais nenhuma ligação entre Luiza e eu. Ela e sua queria noiva se merecem.


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