Aliviar a culpa

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Na manhã seguinte, quando o despertador de Rafaella tocou e ela acordou, Gizelly não estava mais lá.

Antes de ir para o trabalho, Rafaella passou na casa de Mariana para vê-la. Foi até o seu quarto, abrindo a porta de mansinho e dando uma olhada para dentro. Quando viu que ela estava dormindo, deu um passo para sair.

- Oi. – Ela murmurou, piscando.

- Oi. – Disse Rafaella entrando no quarto. – Como é que você está?

- Feliz por ter voltado para casa. – Mari esfregou o canto dos olhos. – Está tudo bem?

- Claro... Só queria ver como você estava antes de ir trabalhar. Devo voltar aqui mais ou menos às sete. Vou comprar comida no caminho, então me mande uma mensagem lá pelas seis horas me dizendo o que você quer... – Rafaella se interrompeu com um bocejo.

- Não conseguiu descansar? – Perguntou Mariana.

- Não muito, mas valeu a pena não ter dormido o quanto eu planejava. – Admitiu Rafaella timidamente.

- Que tipo de vitaminas Bicalho toma?

- Hã?

- Para te deixar neste estado, aquela mulher só pode tomar alguma coisa. Vocês passaram um fim de semana trepando e ainda sobrou energia para ontem. Normal isso não é.

Rafaella ficou toda sem graça.

Mariana deu uma gargalhada.

- Está meio escuro aqui, mas aposto que você está vermelha.

Rafaella se apoiou no batente da porta e suspirou.

- Tem alguma coisa errada com a Gizelly. Ontem ela estava muito estranha, sinto que tem algo que ela não quer me dizer. – Confessou suas inseguranças a irmã.

- Você já tentou conversar com ela?

- Nem tive chances. Desde quando retornamos ela anda muito distante... E quando finalmente oude está com ela o que ganhei foi uma noite de sexo selvagem e nenhuma explicação sobre o que está acontecendo com ela. Ela disse que as coisas iam ter que ser assim. Não sei nem do que ela estava falando.

Mariana concordou com a cabeça.

- Pelo visto você entendeu tudo. – Comentou Rafaella.

- A parte do sexo acho que entendi.

- Uma forma de aliviar a culpa? – Disse Rafaella, sentindo um frio na espinha.

- Provavelmente. – Ela concordou em voz baixa.

Rafaella fechou os olhos e tentou digerir aquela confirmação. Mas logo se recompos.

- Preciso ir. Até mais tarde.

O problema dos pesadelos era que eles sempre pegavam Rafaella desprevenida. Apareciam nos momentos de maior vulnerabilidade, bagunçando totalmente a sua cabeça quando ela se encontrava mais indefesa.

E não ocorriam apenas quando ela estava dormindo.

Ela se sentia agoniada enquanto Telma e Paula discutiam os últimos detalhes sobre o festival que a escola iria realizar, sem conseguir desviar sua atenção do fato de que Gizelly estava do outro lado da mesa.

Ela estava a ignorando deliberadamente desde o momento em que Rafaella entrou na sala de reunião junto com os outros professores escolhidos para aquele projeto e a secretária de Gizelly, a não ser por um aperto de mãos formal quando chegaram. Aquele breve toque de pele contra pele havia deixado Rafaella toda acesa, seu corpo a reconhecera imediatamente como a pessoa que tinha lhe proporcionado prazer a noite toda. Gizelly, por sua vez, pareceu alheia ao contato, e seu olhar estava distante quando cumprimentou Rafaella.

O contraste em relação ao modo que Gizelly estava se comportando hoje e a como se comportava antes de retornarem da viagem era imenso. Antes ela não conseguia tirar os olhos de Rafaella. Seu olhar era ávido e ardente. Agora, Gizelly se apressou em levantar ao término da reunião, caminhou até a porta se limitando a lançar para Rafaella um único olhar, rápido e inescrutável.

Rafaella voltou para sua sala e mergulhou no trabalho durante toda a manhã. Rafaella resolveu pular o horário do almoço e permanecer em sua sala organizando o material atrasado por conta de sua falta na semana. Durante este período não recebeu nenhum sinal de que Gizelly estava na escola, ela não a procurou e nem respondeu as mensagens que tinha enviado para ela.

Como ainda faltava alguns minutos para o turno da tarde iniciar, resolveu ocupar sua mente verificando os e-mails.

Tudo mudou quando Rafaella abriu a sua caixa de mensagens.

O alerta do Google que ela havia programado com o nome de Gizelly estava à sua espera. Ela abriu a mensagem na esperança de descobrir em que Gizelly vinha trabalhando tanto. A expressão "novo affair" em algumas das manchetes saltou aos seus olhos. O nó no estômago voltou, mais apertado do que nunca.

Rafaella abriu o primeiro link, que a levou a um site de fofoca que exibia fotos de Gizelly almoçando com Luiza no Chef Rouge. Estavam em uma mesa bem perto da janela, e a mão de Luiza repousava sobre o antebraço de Gizelly.

Gizelly vestia a mesma roupa que estava na reunião pela manhã, destruindo a esperança de Rafaella que aquelas imagens fossem antigas.

As suas mãos começaram a suar. Ela resolveu se torturar ao ponto de abrir todos os outros links e olhar as fotos. Em algumas delas Gizelly estava sorrindo, parecendo bem contente para uma mulher cuja a noiva estava passando por uma situação difícil em relação a irmã acidentada.

Rafaella sentiu ânsia de vômito. E vonta de de gritar. De ir atrás de Gizelly e perguntar o que ela pretendia com aquilo.

Rafaella tentou se manter calma, precisava controlar suas emoções, logo os alunos chegariam e ela teria que voltar ao trabalho.

A tarde passou se arrastando, enquanto Rafaella lutava para manter sua cabeça focada no trabalho. Até aquele momento, Gizelly não tinha retornar nenhuma de suas ligações e nem respondido a suas mensagens.

Ela se sentia perdida e ferida.

Rafaella sabia que algo estava muito errado, mas ao ver aquelas fotos seu mundo ruiu. Assim que chegou o fim do expediente foi embora sem passar pelo escritorio de Gizelly. 

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