Capítulo 3

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"Não tenha medo, pois eu estou com você(...)"– Isaías 43:5

É de conhecimento geral dos leitores que há momentos e locais que combinam perfeitamente com a leitura

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É de conhecimento geral dos leitores que há momentos e locais que combinam perfeitamente com a leitura. Para uns pode ser de frente para a janela do quarto, para outros seria um manta cobrindo-o até o busto ao lado de uma vela aromatizada no escuro das nuvens carregadas de água. Para Helena, o melhor lugar para um boa leitura, especialmente em dias chuvosos, era a sala-jardim, poderia dizer que era o seu local secreto. Desde a morte de Isobel, seis anos atrás, aquela área do palácio havia ficado abandonada, as pessoas eram proibidas de ir até lá. O rei dizia que não queria que a memória da esposa fosse profanada. Sabendo  então do silêncio que era, Helena passou a visitar com constância aquele lugar, de alguma forma se sentia confortável. Estar rodeada de plantas diversas, ouvir o canto dos pássaros que ali se abrigavam nos dias de chuva, era como estar dentro de um de seus romances, onde a princesa tinha a companhia de animais.

Era impressionante ninguém ter descoberto onde ela ficava, ou simplesmente podiam não se importar. Não era do seu interesse, contanto que a deixassem em paz, mergulhada em seus livros.  Era melhor do que ficar no campo de visão de Isor.

Um forte barulho chama a sua atenção. Parecia alguma coisa caindo, levantou-se do divã num pulo, assustada. Seus olhos quase saíram de órbita quando viram um homem em pé na sua frente, encharcado de água, seus cabelos eram longos, na altura do ombros, gotejavam água, seus olhos amarelados causaram terror em Helena. Nunca tinha visto alguém tão furioso, o nariz do homem estava franzido parecia que ele estava pronto para atacá-la. Não bastava ele estar furioso, suas roupas verde escuro estavam manchadas de sangue, a capa igualmente verde, cobria boa parte do seu rosto, com clareza via seu olho esquerdo, de resto o sangue pintava sem pudor algum. Era uma imagem grotesca.

— Q-q-quem é você?— deu um passo para trás. Olhou ao redor a procura de algo para se defender.

O homem maneou a cabeça para o lado com um riso de escárnio.

Já não bastava a imagem bizarra daquele homem, ele começara a mudar, parecia mais jovem, a imagem começava a se tornar um vermelho puro, as paredes de vidro pareciam se comprimir, o sol sumiu então um quarto velho assumiu a posição da sala-jardim. Teias de aranhas para todos os lados, algo rangia, parecia a fechadura de uma porta. Um espelho magicamente surgiu na sua frente, então ela viu a si mesma, mais jovem, uma adolescente, talvez uma criança, era confuso.

Não sendo o suficiente uma mão segurou o seu ombro, era um garoto encapuzado, era mais alto, mas suas mãos indicavam a sua pouca idade, era provável que estivesse na fase da juventude. Ela tentou observá-lo, mas não conseguiu ver nada, além de olhos claros.

— Eu estou em dívida...

Helena abriu os olhos, percebeu que tremia muito, seus lençóis estavam úmidos. Engoliu em seco ainda com a mente perturbada pelo pesadelo. Olhou no relógio, o ponteiro marcava 15h horas. O sol deveria estar alto, mas invés disso as nuvens negras cobriam o céu, sendo iluminado por relâmpagos distantes.

Ela soltou um ar lentamente buscando retornar ao ritmo normal do coração.

Onde estava Lana nesses momentos? Despejou o vidro de água no copo, o que estava na sua cabeceira. Sempre o mesmo sonho durante os últimos meses, algumas coisas mudavam, exceto o garoto ou homem, ainda não sabia qual era a idade dele.

Tinha esses sonhos desde os 11 anos, até onde se lembrava, porém com o tempo eles passaram a aparecer com frequências menores, era a primeira vez que via aquela homem. Não deveria ter nenhum significado especial. 

Prendeu os cabelos num coque frouxo, soltou o ar pesadamente outra vez. Não costumava sonhar durante o dia.

Decidiu se lavar, tirar o suor das roupas e do corpo iriam ajudá-la a continuar com o dia. Assim o fez. Ao sair do banheiro escolheu um vestido na cor rosê, tendo por enfeite um cinto com flores de tecido, nos pés calçou uma bota de salto e os cabelos presos no topo da cabeça sem paparicos, apenas um coque firmado com grampos. Considerando o frio que fazia, vestiu um belo casaco preto com detalhes dourados nas bordas.

Quando saiu do quarto se surpreendeu por não ver nenhum dos seus soldados. Não era do seu feitio reclamar com seus funcionários, mas eles eram os soldados, tem a função de protegê-la, eles deveriam estar no corredor. Estão na casa de um desconhecido, cheio de soldados desconhecidos e grandes em poder militar. Pensando melhor, se os soldados de Andorra realmente faziam jus a sua fama, então seus míseros 11 soldados eram apenas um símbolo de proteção. Nada podiam fazer. 

Ao descer as escadas notou algo estranho. As cortinas estavam fechados, as luminárias apagadas, estava tudo terrivelmente frio.

"Que estranho, não existe nenhum barulho" apertou o interruptor da sala de estar, não ascendeu.

"Ótimo!" foi a coisa mais coerente que ela conseguiu pensar no momento, — os pensamentos incoerentes variavam rapidamente, podia ser coisas como ataque ao castelo, forças enigmáticas e na melhor das hipóteses brincadeira de mal gosto— se antes estava suando por conta do sonho conturbado, agora ela via a grande possibilidade de suar frio por causa da realidade. Por misericórdia, tinha alguma coisa errada ali.

O som de uma porta rangendo lhe chamou atenção, rapidamente ela correu para a sala de jantar ficou atrás da parede. Lamentou por não estar com nenhuma arma ou sequer conhecer aquele castelo quando lhe foi oferecida a chance, onde Lana estava? Onde todos estavam? Qual era a possibilidade de não haver ninguém ali?

Olhou ao redor procurando algo que pudesse usar de defesa, mas não encontrou, nada de facas e as cadeiras que viu eram muito pesadas para serem usadas para arremesso. Prendeu o ar ao ver um vaso de cerâmica azulado. Em passos leves e rápidos pegou o objeto e seguiu para outro compartimento. Outra vez ficou atrás de uma parede.

Ouviu passos e um assovio. Nunca se lamentou tanto por ter acordado de um sonho. Ao menos o sonho não era real. Tinha uma pessoa andando e cantarolando, vindo na sua direção. Por que justo naquele dia não tinha  luz? Por que raios a janela estava coberta? Céus, fora atraída para a morte?

Seu peito subia e descia numa velocidade surreal, o coração batia tão acelerado e forte que podia jurar ouvi-lo dentro de si.

A pessoa começou a se aproximar mais e mais ao ponto dela distinguir a melodia. Foi repentino, inesperado, uma lembrança tão vívida que a fez tremer.

"Eles me despacharam para lhes encontrar uma fortuna
Um baú cheio de diamantes e ouro
A casa estava acordada
Com sombras e monstros
Os corredores ecoavam e rangiam
Estou chorando, eles estão vindo atrás de mim
Por favor, pare, você está me assustando!" 

Mais próximo, menos de dez passos, com certeza. Cada vez mais próximo.

Então ele surgiu. Vestido de preto, carregando uma espada, a qual ela não precisou olhar duas vezes para notar o quão letal era. Ela fez o que deveria fazer, se proteger.

O vaso rapidamente foi na direção do homem. Maldita hora que ousou tal coisa. Não foi o suficiente. Ele havia desviado mesmo estando tão perto.

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E então? Façam suas opostas sobre o que está acontecendo. 👀A música citada: Halsey "Control"Boa noite(bom dia pra quem estiver lendo durante o dia), não esqueçam de votar e se estiver gostando adicionar na biblioteca. Até logo lindas(os) 🚶‍♀️

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