Capítulo 63

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"(...) há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: (...) tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de jogar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz."¹

Dócil, quieta e lentamente a maresia açoitava o navio no terno silêncio da madrugada

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Dócil, quieta e lentamente a maresia açoitava o navio no terno silêncio da madrugada. Os marinheiros cobriam-se em capas, agradeciam por não estar frio, isso facilitaria a passagem.

No interior do transporte, reis e príncipes conversavam na cozinha. Aquele não era um navio comum de passagem. Havia os navios de carga, navios turistas e os navios reais, usados pela realeza para fins exclusivos de viagens ou visitas destinado à família real, este não era usado com frequência. Diferente dos outros possuía uma estrutura maior e com certo conforto como sala de jantar, quartos com mobília mais parecida dos castelos, porém estavam fixas nas paredes.

A rainha observava as ondas baterem contra o navio em ritmo comum. Não conseguiu dormir. O que lhe pareceu estranho, visto que dormiu particularmente bem nos momentos que navegou; talvez fosse a motivação que induzia o descanso sereno, e aquele não era o caso.

Fechou os olhos e inspirou um pouco mais do ar, deixou os respingos da maresia soprar em seu rosto, braços. Era acalentador.

Há algumas horas disse ao esposo que deveriam descansar, mas, ela mesma estava preparando-se para sentar no chão e ver o céu nublado, brilhante.

Há meses já não era atormentada por sonhos, aquela noite foi uma exceção. Não poderia dizer que foi um pesadelo, apenas lembranças que ela ainda desejava esquecer. Àquela altura da vida ela sabia: nem sempre é possível esquecer, e neste casos o melhor a ser feito era superar, mas nem sempre é tão simples.

Apesar de sentir certo peso sobre si, procurava lembrar da linha estrada percorrida. Houve um tempo que ficou em completo silêncio, fechou os olhos para as necessidades do povo e focou em si mesma, em sua sobrevivência, mas, então descobriu que ações e problemas de outros a afetavam independente da sua escolha, lutar por eles ou fingir que não existiam acarretaria em problemas. Depois disso, aprendeu a ser gentil, agir com cautela e por fim sair da zona de conforto ou morrer sabendo que nada foi feito para mudar uma situação ruim, complicada.

Se fechasse os olhos naquele momento conseguiria lembrar dos seus dias em Albânia. Os momentos de rebeldia e imprudência adolescente que quase lhe custou a vida. As cenas das conversas com seus amigos cristãos; o aroma dos biscoitos quentes de Andrea, o sorriso largo nos lábios dela de Lila e Afonso ao receber sua visita. Ela ainda nutria amor por aquela família e carinho, mesmo que não comentasse sobre eles, estavam sem suas orações. Não podia esquecer que foram eles a mostrar o Deus que ela esqueceu.

Não tinham contato por motivos óbvios de um passado não resolvido e problemático entre o marido e Afonso o qual era tenso e doloroso o suficiente para não criar oportunidade alguma para antigas feridas serem expostas. Afonso não foi proibido apenas de entrar em Andorra. Qualquer contato foi cortado. Além disso, ele se mostrou muito inconveniente cortando mais possibilidades de contato, então ficaria bem guardando as boas memórias, sempre desejaria o melhor da vida para ele.

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