Capítulo 76

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"Sobre tudo que se deve guardar, guarda o teu coração, porque deles procedem as fontes da vida." - Pv 4:23

Lorenzo bateu com força o portão de ferro, avisando ao seu prisioneiro a sua chegada

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Lorenzo bateu com força o portão de ferro, avisando ao seu prisioneiro a sua chegada. O cheiro asqueroso de sangue era imundo a qualquer narina, decerto não era o espaço preferido de ninguém. Seus olhos vagaram para o prisioneiro com os braços pendurados por correntes no teto. A respiração do homem condenado era alta, profunda, a área do tórax e abdome tinha lacerações avermelhadas. Em seu rosto sujo da poeira, sangue e suar deixavam ainda mais nítido o cansaço daquele maldito usurpador.

— Vossa majestade, eu não esperava vê-lo após a surra de ontem. — Tom empurrou a cadeira para o rei sentar-se enquanto observava Isor exaurido, sujo, ferido. — Belas vestes. Sentiu saudades? Ouça-me. Soube que prisioneiros têm a benevolência de um último pedido. Deixe-me ver a cria de Isobel.

Os olhos castanhos claros se fixaram no grande homem assentado diante de seus olhos. Como de costume, as roupas caras lhe conferiam um ar mais nobre do que ele provavelmente tinha. Em nada se parecia com o garoto nu implorando para deixar a sua irmã ir embora em troca da sua vida. Velhos e saudosos tempos. Olhando-lhe, percebia o quão tolo foi ao não aproveitar para tomar Andorra quando pôde. Deveria ter sido um pouco mais ambicioso. Foi um lamentável erro não matá-lo naqueles dias. Pessoalmente nunca fez nada, mas sabia o que os seus soldados faziam. Ele tinha planos para visitar o herdeiro de Lanka, que ele jurava estar morto, ainda não sabia o que fazer com ele apesar de ter decidido o destino dos irmãos, entretanto, ele fugiu antes disso.

— Oh, perdão, vocês brigaram, não? — Lorenzo não respondeu. Ele sabia que brigariam após a revelação da morte do tão estimado Ezra. — Não se ressinta por uma discussão, vossa majestade, aquela garota é inútil assim como a mãe dela. São duas aproveitadoras.

Seu estômago ainda se revirava ao lembrar dos olhos ácidos daquela mulher. Ela teve o fim merecido. Se ela tivesse sido correta, se tivesse mantido sua palavra ao dizer que se casariam, se não tivesse corrido atrás do seu melhor amigo apenas por ser o rei, não estariam naquela cela tendo aquela conversa. Desde o início, Isobel pertencia-lhe, mas Jerrin não foi inteligente o suficiente para perceber que ele a amou primeiro. Maldita cobra sedutora! Usou a posição de duque para chegar ao posto de rainha, como se ele fosse um objeto descartável. Acaso era justo fazê-lo? Isor estava disposto a perdoar Jerrin, afinal, eram amigos de infância. Ele cresceu como um servo do castelo, filho de um mercenário, abandonado pelo pai, filho de uma prostituta, morta pelas mãos do próprio pai quando ele tinha cinco anos, mas Jerrin cresceu como um príncipe tendo todo o ouro que desejou. Mesmo em mundos diferentes eram bons amigos, continuaram a ser mesmo quando o rei matou seu pai por traição, afinal, sua amizade com Jerrin não poderia ser facilmente abalada.

Isobel era a mulher mais bela que já teve a oportunidade de olhar, ela tinha belos sorrisos, uma bela voz, capaz de inebriar o mais forte dos homens e ele foi a sua isca. Por ser uma nobre órfã ela precisava da segurança de um casamento e ele estava disposto a isso, afinal, era um duque, fora promovido quando Jerrin assumiu o reino. Mas, quando Isobel constatou haver oportunidade de ser mais que uma duquesa, rejeitou o seu pedido de casamento e devolveu todos os presentes usados para conquistá-la.

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