Capítulo 21

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O tempo havia fechado

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O tempo havia fechado. A suave chuva tornou-se num poderoso aguaceiro. O cheiro de água misturada a madeira e terra preenchia a casa de modo terno. O silêncio era necessário. Nem sempre palavras são a melhor alternativa para estabelecer uma linha de pensamentos ou uma ligação. Era isso que acontecia naquela singela e confortável sala. Sem soluços, sem gritos ou choro desesperador, apenas duas pessoas, buscando em silêncio o conforto, de encontro a esperança há muito tempo inexistente a ligação do amor entre alguém que gerou e amou com a vida o fruto de si mesmo. 

As mãos de Helena seguravam as roupas um tanto largas de algodão com precisão. A cabeça encostada na cabeça no peito do pai possibilitava ouvir o som abafado dos batimentos cardíacos, agora regulados. 

Jerrin acariciava levemente os fios presos acima do coque bem amarrado de Helena. O seu outro braço prendia-na num abraço. Parecia irreal estar ali depois de 15 anos longe, irreal olhar nos olhos castanhos médio e não ver mais uma menina de cinco anos que corria atrás dele vestida em pijamas para lhe contar uma história. Não que ela precisasse correr, mesmo assim o fazia. 

Segurou os braços da filha afastando-a. Sorriu largamente. Ela parecia bem. Não parecia tanto com Isobel, era mais parecida com ele, especialmente a cor dos olhos, em parte o cabelo tinha tons mais claros. A felicidade que sentia por finalmente estar diante dela em vida e saúde foi tudo que pediu durante uma década. Ela o manteve vivo, mesmo que não pudesse vê-la, sabia que estava viva. Às vezes algum soldado lhe contava sobre a princesa generosa que era, o tom grosseiro e cínico mostrava a sua verdadeira intenção, deixá-lo ainda mais pesaroso, o soldado não notava que não era uma tortura e sim um combustível. 

A última vez que viu Isobel não foi diante do Isor e sim após a morte. O corpo da mulher que amava foi levado até ele na cela, não havia mais cor em suas bochechas rosadas, nem nos lábios avermelhados naturalmente. Ele sabia que ela havia se casado com o inimigo, porém não a julgou, era por Helena tinha consciência disso, mesmo assim isso não o impediu de sentir raiva, não dela e sim de si mesmo por não ter sido capaz de proteger a família e submetê-las a um homem asqueroso para continuarem vivas. Ver a esposa sem vida, sangrando, cheia de machucados foi mais do que pôde suportar. Por um longo tempo ficou em silêncio, imerso em sua dor e desespero, esperando e ansiando para que a sua existência chegasse ao fim logo, até que um soldado disse as seguintes palavras: "sua filha é tão petulante quanto você, o corpo dela será o próximo a visitar essa cela". As palavras não faziam sentido para ele estava tanto tempo ali que nada mais fazia sentido, era apenas desconexo. Mas aquela frase ameaçadora lhe trouxe a realidade novamente, Helena existia, estava viva, havia algo naquele mundo que pedia para ele continuar existindo e viver. Ele a via finalmente. Sua adorável garotinha falante crescera, parecia saudável, uma jovem mulher. 

Os olhos dela corriam buscando e memorizando cada detalhe do rosto dele. As linhas de expressão na testa e as rugas ao redor dos olhos enquanto sorria. Era muito melhor que suas memórias outrora adormecidas ou um quadro. Não poderia comparar-se ao abraço acolhedor. 

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