Capítulo 42

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"Mais preciosa é do que os rubis, e tudo mais que se possa desejar não se compara a ela"¹

"Mais preciosa é do que os rubis, e tudo mais que se possa desejar não se compara a ela"¹

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Eis o fim de mais um dia. O frio diminuíra um pouco mais desde que Helena retornou ao palácio no fim da tarde, surpreendentemente, passou horas ao lado do marido. Era de fato um quase milagre. Não estava acostumada a tê-lo tão próximo, apesar de apreciar silenciosamente a companhia. Depois da ida ao vilarejo de Antônia, foram ao porto de Beaumont e ali ficaram na praia por alguns momentos. Helena sentou na areia gelada e Lorenzo acompanhou o movimento. Devido ao frio, o trânsito em áreas abertas era diminuto. Ninguém em sã consciência sairia de casa com o grande risco de chuvas torrenciais, exceto eles. As ondas do mar se chocavam contra as paredes do cais mais ao longe, a maré subia rapidamente, tão veloz quanto o céu escurecia. Helena olhava tudo escurecer com atenção e receio, talvez devessem ir logo para o castelo, mas Lorenzo não parecia se importar. Ao contrário disso, admirava aquela cena conflitante à primavera e flores espalhadas pelos campos naquela cidade.

Lentamente a rainha escolheu as pernas, trazendo para o peito, tal como o marido estava. O observava sem pudor algum. O rosto coberto pelo capuz negro não impedia o brilho nos olhos âmbar, parecia uma réstia de sol em meio o escuro, era belo e acalentador.

— Não existem muitas pessoas que apreciam tempestades.— ditou para quebrar o silêncio. Estavam ali há um tempo considerável sem falar absolutamente nada. Deveria ter algo para dizer. Aquele raro momento livre juntos não costumava acontecer.

— Não é admiração, apenas observância, mas é correto dizer a maior parte das pessoas não veem a beleza que o tempo tempestuoso oferece. Poder, força, brutalidade, faz-me lembrar que apesar de ter controle sobre quase tudo, e com um mover de mãos incitar disputas, manejar os pequenos reinos como bem entender, não sou capaz de afastar as nuvens, parar a chuva ou impedir os raios de cair. Poder é bom, mas humildade é necessária. Procuro me lembrar... — suspirou — das minhas responsabilidades.

— Você já chegou a esquecer em algum momento?

Lorenzo abaixou a cabeça fazendo um sinal negativo enquanto um meio sorriso brincava em seus lábios. Ela sorriu de volta. Não o imaginava como um homem irresponsável, nem mesmo as poucas memórias de infância lhe remetiam a tal ideia. Analisando a história nos livros, Lorenzo sempre foi um garoto, rapaz, homem de responsabilidades e maturidade à frente do seu tempo. Às vezes ele perdia um pouco de humanidade aos olhos dela. Todos os movimentos dele pareciam arquitetados, cada palavra, até mesmo sua maneira de ataques verbais era pretensiosa. Poucas vezes o vira agir apenas como um homem, sem o peso da coroa sobre a sua cabeça. Cada parte do rosto dele gritava calmaria, sempre. Chegava ser assustador. Como ele conseguia? No início pensava ser arte de manipulação. Com mais um pouco de convivência tinha mais um ponto a acrescentar, ele poderia ser manipulador quando desejava, porém, a calmaria era questão de personalidade. Welir, seu professor disse que Lorenzo sempre foi surpreendente aos olhos dos pais justamente por sua serenidade e maturidade absurda tão jovem. Ele parecia intocável aos olhos de Helena, o que ela sabia ser uma grande mentira. Por mais poderoso que se mostrasse ninguém era imbatível, por isso ela não desviou os olhos dele quando fez a seguinte pergunta:

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