Capítulo 43

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"(...) Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno." ¹

A friagem tornou-se um fator comum em Andorra aos olhos de Helena, já estava acostumada com o clima, porém deveria dizer, o nariz estava congelando naquela invernia absurda

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A friagem tornou-se um fator comum em Andorra aos olhos de Helena, já estava acostumada com o clima, porém deveria dizer, o nariz estava congelando naquela invernia absurda. Mesmo enrolada em todas as cobertas possíveis, o frio não lhe deixava dormir de maneira alguma. Jogou-as para o lado, estressada por estar acordada tão tarde sem conseguir unir os olhos, nem por raros minutos.

Preferia acreditar que sua insônia provinha do frio estressante, não da sua breve discussão com Lorenzo. Após a praia eles não se encontraram sequer para jantar. Sofia e Tom preferiram fazer sua refeição no quarto, então outra vez ela comeu a sós. Parecia um regresso. Poderia mesmo se acostumar tão rápido com a companhia de Lorenzo? Mesmo que ele não dissesse nada, se ele não estivesse ocupado, estaria olhando-a com os olhos cerrados, questionando sobre algo que não saia por seus lábios, sinceramente acreditava que ele o fazia puramente para irritá-la incitando-a a pensar que havia algo de errado, algo que ela precisava saber. É claro, ele se divertia em irritá-la.

Não teve escolha senão deitar-se mais cedo naquela noite.

Já tinha orado para, quem sabe passar, o tempo e pegar no sono. Contou o que houve durante o dia a Deus; expôs suas queixas e como achava absurda a atitude de Lorenzo e quão inaceitável era não ter influência alguma sobre aquela decisão. Aproveitou para orar por seus amigos, familiares e todos ali no castelo além do povo de Andorra.

Em tal ponto da madrugada já desistira de dormir. Apenas se conformou com a dor de cabeça que viria no dia seguinte, mas não estava disposta a ler ou exercer quaisquer atividades no horário do precioso sono, se recusava terminantemente — chutou os ar e mais alguns lençóis, como uma criança birrenta. Foi naquele momento que ouviu cordas de um violino sendo arranhadas melodicamente, numa sinfonia suave e melancólica, tal qual aquela madrugada fria. Não era a única com dificuldades para dormir.

Pôs-se de pé imediatamente. Sua primeira ideia foi conversar com o músico da noite. A conversa de horas atrás não chegou ao fim. Atravessou a primeira porta de ligação, aquela que dava acesso ao guarda-roupas. Iria discutir, estava pronta para fazê-lo e com melhores argumentos. Assim que atravessou a porta de acesso ao quarto dele o som foi intensificado, como gritos, uma fúria velada e belamente entoada num pentagrama sonoramente harmônico.

Aquele quarto estava pouco mais claro que o seu. As cortinas estavam abertas, permitindo a luz noturna adentrar ao máximo que podia, não era exatamente claro devido à presença das nuvens ao lado de fora, porém o suficiente para enxergar o brilho vazio nos olhos de Lorenzo no exato momento que os abriu. Julgando pela seriedade, não era bem-vinda naquele momento.

— Convido-a a se retirar, majestade, como pode ver estou ocupado. — voltou a fechar os olhos, virou as costas para ela dando o vislumbre do roupão felpudo cor de vinho, apesar disso não deixou de deslizar o arco sobre as cordas habilmente. Desconsiderou sua presença por completo. Uma veia de irritação saltou em sua testa.

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