Capítulo 68

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"Sinto que estou afundando, mas eu sei que conseguirei sair vivo se eu parar de te chamar de meu amor, e seguir em frente"²

"Sinto que estou afundando, mas eu sei que conseguirei sair vivo se eu parar de te chamar de meu amor, e seguir em frente"²

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Eco.

Seria uma boa definição para seus muitos dias em Albânia. O som de sua própria respiração ecoava aos seus ouvidos. Lembrando-a, precisava respirar com calma para manter a mente em ordem.

A lua e as estrelas brilhavam incandescentes como o era desde a criação, entretanto, as nuvens densamente acinzentadas as cobriam. Os relâmpagos cada vez mais próximos não temiam cegar qualquer um com sua luminosidade furiosa.

Sua mente ecoava, silenciando partes de um passado que ela desejava, precisava saber.

Na sacada — diante das luzes distantes da área popular da ilha — ela deixava o vento bater contra o seu rosto, observava em silêncio a tempestade se aproximar da terra que estava outrora quente e agradável. As mãos apertaram a madeira clara do parapeito, externando o o desconforto interno Apesar da tensão escorrendo por seu estômago, envolvendo sua pele de forma gradual, quase sufocante, ela sentia-se melhor. As lágrimas já não desciam naquele momento, mas seu coração, este estava uma desordem. Ela tentava entender o que acontecera, como agir. Encontrar algo em sua mente com o poder de aplacar tal nervosismo. Não havia. Horas atrás seu pai tentou convencê-la que poderia ser uma memória infundada; ele a abraçou e acariciou sua cabeça, chiou em sua ouvido suavemente, lembrando-a: ele, seu pai, estava lá e acima disso, Deus. Ela não estava sozinha no presente e futuro, independente do que fizera.

Deus... a menção dEele lhe cobriu de vergonha momentânea. E se fizera algo de errado, como iria lidar? O que Deus pensaria dela? Em meio aquela confusão, o Espírito a acalmou, lembrando-a de respirar corretamente e diminuir a velocidade de seus pensamentos, Ele estava lá por ela, independente da circunstância.

Estava sozinha no quarto há cinco minutos. Jerrin esteve ao seu lado durante as últimas duas horas. A consolou, limpou suas lágrimas, ficou em silêncio, a consolou outra vez e fez companhia; respeitou-a quando ela permaneceu sentada no sofá em silêncio. Saiu apenas para preparar algo para comer e — mesmo não tendo dito — para ela usar seu momento a sós para conversar com Deus.

A situação não era simples, ela sabia disso, desejou fugir, gritar, esquecer. Talvez ela também o desejasse no passado, há dez anos. Não lembrar do passado a deixava ansiosa no decorrer dos anos, por vezes apavorada, no fundo, ela sempre soube: havia algo errado, ainda assim, era melhor fingir que não a afetava o fato de estar sem memórias de meses de sua vida, porque temia ser ruim demais. O conhecimento básico sobre o que houve antes do seu "desaparecimento inexplicável" — a morte brutal da sua mãe — era o suficiente para expelir boa parte da sua curiosidade. Naquele momento ela não poderia dizer o que escolheria se houvesse uma segunda oportunidade. Escolheria a ausência de memórias ou viveria sob a constante lembrança de assistir, viver por dias sendo torturada, ver laços fraternos sendo cortados à força do mundo, de modo maligno, cruel?

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