Capítulo 36

332 41 38
                                    

"(...) Há tempo para cada propósito debaixo do céu"¹ 

) Há tempo para cada propósito debaixo do céu"¹ 

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O resto da noite foi tranquila.

Houve uma discussão quanto a cama, nem Helena ou Lorenzo estavam dispostos a ceder. Helena não se sentia confortável em dividi-la, no entanto, rejeitava a ideia de dormir no chão. Não daria oportunidade para sentir dores se alastrarem por seu corpo, já estava cheia delas, seria bastante desconfortável. Apelou para o cavalheirismo do marido, porém ele disse que não abriria mão. De acordo com ele, a velhice chegara rapidamente, antes do que ele pôde prever. Argumentou o quanto as viagens constantes esgotaram suas energias, estava acordado desde de o momento que o sol raiou, não passava por sua cabeça a ideia de trocar a sua confortável cama por lençóis no chão. Comentou o quanto a cama era larga, por isso não faria tamanho sacrifício desnecessariamente. Ao fim, Helena decidiu esperar o marido dormir para enfim deitar, para melhor conforto, acrescentou as almofadas numa justa divisão da cama.

Enquanto esperava Lorenzo dormir, procurou um livro interessante nas prateleiras. Um empoeirado escondido atrás das filas minimamente organizadas por ordem alfabética, a capa era negra, um tanto esbranquiçada pela poeira. Provavelmente estava intocado há anos. Soprou a poeira. O espirro foi inevitável. Sentou-se na poltrona cinzenta. Por cima do livro viu Lorenzo concentrado rabiscando algo num caderno de capa vermelha.

Havia uma dedicatória em belas letras.

"Conheça o Amor e um dia transborde-o. Da sua majestosa e incomparável esposa, Tamires."

Era uma bíblia. Encrespou o cenho. Não esperava ver aquela espécie de livro em Andorra, especialmente na biblioteca particular de Lorenzo. Os pais de Lorenzo eram cristãos? Lorenzo não era cristão, certo? Nunca ouviu falar sobre isso. Não deixou de ver as notas de rodapés, foi estudada. Lançou um olhar desconfiado para Lorenzo. Notou que, por alguma tola razão via Lorenzo como um homem de pré-conceitos. Pensando bem, não era tolice, ele realmente era cheio de deduções.

Do outro lado do quarto, Lorenzo ergueu os olhos, encontrou o olhar desconfiado da esposa sobre o livro velho. Demorou-se a ali. O que aquele livro estava fazendo em seu quarto, seria melhor dizer, no castelo? Já não sumira com ele anos atrás?

— Você gosta dessas histórias? Não parece o seu estilo.— ela perguntou curiosa.

— Não é. Foi dos meus pais.— o desgosto na voz dimanou de forma tão suave, impossível de notar.

— Isso é ótimo, não sabia que eram cristãos!— exclamou animada.— É estranho que isso não esteja nos registros. Certamente é um marco na antiga sociedade intolerante.— buscou em sua mente algo nos livros que leu.— Não que hoje em dia difira em larga escala, porém, as pessoas matavam por isso na época.

Lorenzo ergueu uma das sobrancelhas. Por que ela estava tão animada com aquela notícia? Não é como se o mundo fosse desfeito, ou refeito por tal crença. Sinceramente, naquela época, seria apenas mais um problema para resolver, era melhor que não estivesse registrado. Sinceramente, que bom que não estava registrado.

Caminhos de ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora