Capítulo 02

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Beatriz ☘

Bernardo: Mamãe conta uma história pra mim. - Pediu com a cara de anjinho.

Bia: Era uma vez uma linda menina...

Bernardo: Não mamãe, essas não! Eu quero aquelas que o vovô Ret conta que ele matava e torturava os inimigos dele. - Falou animado.

Bia: O meu pai te conta essas histórias? - Ele assentiu. - Meu Deus do céu!

Bernardo: Você também já matou alguém, mamãe?

Bia: Bernardo isso não são assuntos pra crianças, vai dormir que tu tá bêbado de sono. - Ele bufou e se deitou, dei um beijo na testa dele e sair do quarto indo pra cozinha.

A pergunta dele me deu gatilho, mas não arrependimento por ter matado o pai dele.

Conheci o Rodrigo em um dos desfiles no qual eu estava modelando, ele era amigo de uma colega minha... Conversa vai, conversa vem, acabamos ficando e eu nunca vi nada de mal nele, depois que peguei confiança nele, começamos a namorar e eu apresentei ele pra minha família. No início ele não sabia que eu era filha de traficante, só veio descobrir depois e reagiu de boa.

Depois de um ano de namoro eu engravidei do Bernardo e nós decidimos morar juntos, eu queria morar aqui no morro mas ele nunca aceitou, então fui morar com ele em uma chácara afastada de tudo.

Meus pais nunca foram com a cara dele, principalmente o meu pai que era o mais surrtado de todos e depois que eu disse que iria morar fora do morro foi aí que ele surtou de verdade, e eu deveria ter dado ouvidos aos surtos dele, mas na minha mente era só ciúmes de pai.

Depois que o Bernardo nasceu começou todo o inferno na minha vida, ele começou a chegar bêbado, me xingar de um monte de coisa, me bater e me prender dentro de casa, quando eu ameaçava deixar ele, ele me batia mais ainda e dizia que ia entregar os meus pais para polícia. Eu só sabia chorar e pedir forças a Deus pra aguentar tudo isso calada e sozinha, e assim se passaram três anos.

Um dia ele chegou em casa e só porque eu não tinha lavado os pratos ele me bateu tanto que eu quase ficava sem andar, ainda cortou o meu cabelo e tudo isso na frente do Bernardo que só chorava e em seguida desmaiou... Ele pegou o menino nos braços e quando ele acordou disse que ele não tinha que ficar com medo porque mulher era mandada pelo homem e que quando fazia alguma coisa errada tinha que apanhar mesmo.

Nesse dia eu acordei pra vida, ele me pediu pra trazer uma taça de vinho pra ele e eu fiz isso com gosto, peguei um remédio pra dormir e coloquei dentro, em questão de minutos o filho da puta já tinha capotado no sofá, esperei o Bernardo dormir e fui honrar o meu nome.

Eu sou filha do Filipe Ret e da Anna Estrella, eles me ensinaram a ser forte e não abaixar a cabeça pra nenhum filho da puta e eu não ia decepcionar os meus pais sendo uma fraca e deixando um homem me fazer de lixo. Peguei uma faca bem amolada e só dei uma no pescoço dele fazendo a cabeça dele rolar pela sala, olhei aquilo satisfeita, peguei uma taça de vinho e bebi em comemoração pela morte do arrombado.

Em seguida arrumei minhas coisas e as do Bernardo e coloquei ele no carro ainda dormindo e dei partida pra rocinha. Cheguei na casa dos meus pais quase 4 da manhã assustando eles e os meus irmãos também, meu pai disse uma pá de coisa comigo por eu ter escondido isso deles mas também disse que tinha ficado orgulhoso pela atitude que eu tomei.

Nunca disse ao Bernardo que eu tinha matado o pai dele e ele também nunca perguntou pelo pai, mesmo o Rodrigo não sendo um pai presente eu ainda tenho medo e receio de como ele vai reagir se souber da verdade.

Manu: Colfoi minha galega? Ainda acordada? - Chegou e de longe já dava pra ver que ela tava bêbada.

Passei um tempo morando com os meus pais até a Manu se mudar pro morro e nós decidimos morar juntas.

Bia: Tava pensando na vida, e tu tava por onde?

Manu: Baile do Vidigal. - Disse tirando o salto. - Vamo dormir de conchinha? Tô tão carente. - Se jogou no sofá.

Bia: Primeiro vai tomar um banho e escovar esses dentes Manuela, tu tá fedendo a cachaça e a perfume forte de macho.

Manu: Claro, tô desanimada da vida e vivendo cada dia como se não houvesse o amanhã.

Bia: É nessas idéias que qualquer dia tu aparece morta, maluca! - Disse subindo as escadas.

Beatriz Faria, 25 anos

Crias Da Rocinha Onde histórias criam vida. Descubra agora