Capítulo 53

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Beatriz

Jade: Meu Deus Bia, essa não é Kelly que mora na rua de trás? - Falou assim que íamos saindo do postinho e a Kelly tava na recepção gritando desesperada enquanto a mãe dela tentava a acalmar.

Bia: O que houve? Por que ela tá assim?

Márcia: Meu neto foi baleado durante o confronto e não resistiu. - Disse chorando.

Jade: Meu Deus, é revoltante isso! Aí passa na televisão que os bandidos atacaram a polícia, que mataram policial, mas e os cidadãos de bem que a polícia matou? E as crianças, as mulheres? Meu Deus do céu! - Disse passando a mão no rosto.

A Kelly estava inconsolável e eu entendo a dor dela, quando uma mãe perde um filho, todas perdem também.

Estava indo pra casa quando encontrei o Allan no meio do caminho, a Jade desceu pra casa da vovó e eu fiquei porque estava sem condições nenhuma de descer pra casa da tia Pri e contar ao Bernardo que o amiguinho dele tinha morrido e que o avô que ele tanto amava tava entre a vida e a morte.

Allan: Eu sinto muito pelo seu pai, a gente fez de tudo pra que ele não participasse do confronto mas foi em vão. Ele já não tava se sentindo muito bem antes, o Príncipe só faltou prender ele dentro de casa junto com a Jade.

Bia: Ele tava sentindo o que?

Allan: Falta de ar como sempre.

Bia: Meu pai começou a fumar cedo e agora o pulmão não está aguentando, a mãe já tinha falado pra ele procurar um médico mas ele foi super ignorante com ela, depois de velho ficou rabugento, incrível isso.

Allan: Teu pai sempre teve essa marra, eu sempre me inspirei nele por causa disso.

Bia: Mas ele não pode meter marra pra cima de todo mundo a ponto de querer tá sempre certo mesmo sabendo que tá todo errado, se espelha nisso não Allan, se não tu vai ficar uma pessoa impossível de lidar igual ao meu pai.

Allan: Cadê nosso menino? - Me derretia quando ele chamava o Bê de "nosso".

Bia: Na casa da tia Priscila, tô sem coragem de descer lá e dizer a ele sobre o meu pai e sobre a morte do Henrique.

Allan: Filho da Kelly? - Assenti. - Revoltante isso, puta que pariu.

Bia: Eu tô com uma dor tão grande no meu peito que tu nem imagina, é horrível ter a notícia da morte de amigos, de parentes, crianças, mulheres, pessoas inocentes depois de cada confronto. Eu amo a Rocinha, eu nasci aqui, aqui é a minha casa mas as vezes eu só queria ter uma vida normal de menina do asfalto, sem tanta tragédia ao meu redor. - Falei chorando.

Ele apenas me puxou pro peito dele e ficou alisando o meu cabelo, em seguida beijou minha testa e eu consegui me sentir um pouco segura.

Allan: O que quer fazer agora? Que ir pra casa? Comer alguma coisa?

Bia: Mudei de ideia, vou conversar com o Bernardo, prometi pra ele que assim que eu tivesse notícias falaria pra ele.

Allan: Vou contigo e te ajudo. - Assenti e a gente desceu pra casa da tia Priscila.

Meu filho estava na sala com a Thalita que tentava animar ele mas parecia em vão porque ele não chegava nem a dar um sorriso falso.

Bernardo: Por que você demorou tanto mamãe? Tava com o papai?

Allan: Sua mamãe me encontrou ali por acaso. - Disse pegando ele no braço e dando um beijo na bochecha dele.

Bia: A gente precisa conversar sobre algumas coisas que estão acontecendo que não são muito legais, filho.

Bernardo: O que aconteceu, mamãe? O vovô Ret tá mal?

Bia: Sim amor, ele tá mal e um dos seus amiguinhos da escola infelizmente não está mas entre nós.

Priscila: De quem você tá falando?

Bia: Henrique, filho da Kelly! Infelizmente uma bala perdida atingiu ele e ele não resistiu.

Priscila: Meu Deus, que absurdo! Até quando vamos ter que passar por isso?

Bernardo: Ele foi morar com papai do céu mamãe? - Assenti. - Mas a gente não só deve morrer quando tá bem velhinho? Porque ele morreu ainda criança? Isso não tá certo.

Bia: Essa deveria ser a fase da vida meu amor, mas não temos o poder de mudar toda essa maldade que nos rodeia. - Ele se abraçou comigo e eu sentir meu peito apertar.

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