Capítulo 15: SeteAlém

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(Nathan)

21h20min – 7 de fevereiro – Domingo.

O silêncio dentro do carro estava ficando cada vez mais incomodo, por mais que estivéssemos nos aproximando da nossa casa, eu queria tentar ao menos - uma última vez - uma reaproximação.

— Conseguiu achar tudo que queria no shopping, mãe? — pergunto baixinho enquanto olho pela janela do carro e aproveito para acenar para o guarda do nosso condomínio.

— É sério que você quer falar sobre isso? — Dona Ana suspira em desanimo.

Olho para ela de soslaio e noto a expressão descontente em seu rosto.

— Acho que precisamos começar por algum lugar, não é? — indago, inseguro.

— Não, filho. Eu acho que não temos sobre o que falar. E se você tem coisas para falar, desculpe, mas não estou disposta a ouvir. — Dona Ana se limitou em ser curta e grossa.

Comprimi o lábio e engoli o nó que se formou em minha garganta. Quanto mais o tempo passa, mais difícil é nossa interação.

Mais inalcançável minha mãe fica. Mais insustentável a nossa relação se torna.

— Não quer tentar? — pressiono novamente e ganho um olhar irritado da minha mãe.

— Já disse que não! — Dona Ana disse rispidamente.

Quando minha mãe entrou na nossa rua, fiz questão de observar a aparência de nossa casa. Por fora ela é linda, bem cuidada. Não que por dentro ela não seja... 

O que estou querendo dizer, é que por fora dá a impressão de ser um lugar acolhedor, mas só por fora. Porque lá dentro não é assim há bastante tempo. Talvez seja por isso que eu goste tanto de ficar no Léo, me sinto acolhido lá. Me sinto importante. Lá eu existo.

Aqui não. Não para a Dona Ana. Não como antes.

— É um assunto banal, mãe. Não estou pedindo muito. — falo, chateado.

— Nathan, chega disso. Não vamos conversar. Nem sobre assuntos banais, nem sobre o outro assunto. — minha mãe me lança um olhar de aviso, mas resolvo ignorar.

— Você sabe que não vai poder ficar fugindo desse assunto, não é? Uma hora teremos que falar sobre isso. — encaro minha mãe com seriedade.

— Quem devia tomar a iniciativa não é você. Até porque, que eu saiba, eu ainda sou a mãe aqui.

— Pois não parece. — rebato e ela me olha com irritação. — Você não tem agido como uma. — falo baixinho.

Percebo que a afetei no momento em que ela desvia o olhar do meu e abre a porta do carro.

— A conversa acabou. Boa noite! — minha mãe diz antes de bater a porta e seguir para dentro de casa.

Eu não estou pedindo muito. Ou será que estou? Entendo que minha mãe tem o tempo dela. Mas, eu ainda estou aqui. Por que ela não conversa comigo?

Ao sentir meus lábios secos, passo minha língua por ele, umedecendo-o. Levo minhas mãos até o meu rosto e esfrego-o, frustrado.

Pego minha mochila no banco de trás do carro, pego também as sacolas de compras e saio do mesmo. Faço como a minha mãe, entro em casa pela porta que tem na lateral da garagem.

Sigo lentamente até a sala, encontrando a minha mãe sentada com seu melhor amigo em mãos. Uma taça de vinho. Percebendo a minha presença, ela me encara com frieza e volta bebericar o líquido da taça.

Descobrindo o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora