Capítulo Vinte e Um

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— Deus me fez uma pessoa muito boa mesmo.

Tina tinha os braços cruzados enquanto me encarava com desprezo. Bebi toda a água com açúcar que estava dentro do copo, ficando com vergonha de manter um contato visual digno, depois de tudo.

— Você precisa me ajudar! — A encarei. — Papai e mamãe podem morrer por isso.

— Ok. E por que eles podem morrer por isso? — Tina se sentou na cadeira, de frente para mim. — Eu disse para você que esse cara era cilada, Sophia.

— O pai dele... Ele tem um pai mafioso e sei lá o que. — Mesmo não conhecendo, eu tinha medo do seu pai. — Mas ele ameaçou o papai! Eu realmente estou com medo do que ele possa fazer.

— Ele deu de ameaçar a sua família agora? — Tina levantou uma sobrancelha. — E você ainda gosta desse cara?

— Tina!

— Estou falando apenas a verdade, Sophia. — Abriu as mãos. — Vejamos. — Fez uma pausa drástica. — Você está triplamente ferrada porquê fugiu de casa, quebrou uma promessa e está há três passos de ficar órfã. — Tina sorriu falsa para mim, colocando as mãos debaixo do rosto. — E você ainda quer que eu te ajude!

— Eu sei que errei muito com você mas Tina, não podemos acabar a nossa amizade assim.

— Pera aí. VOCÊ decidiu acabar a nossa amizade assim, desde quando conheceu esse doente mental do cacete. — Apontou para mim. — Eu te avisei, tentei entrar na onda da porra do trisal e mesmo assim você ficou cega.

— Eu não gostei de fazer um trisal, isso não é para mim. — Me defendi.

— Tudo bem, até entendo que você possa não ter gostado. — Rendeu as mãos. — Mas está extremamente obcecada por esse cara que só vai te fazer mal!

— E por que você acha isso? — Lhe enfrentei, ficando um pouco com raiva.

— Porque ele é abusivo, Sophia! Ele não gosta de mim, fez uma promessa idiota com você, que por fim, está quebrando de todas as maneiras. — Soltou. — Você não pensa quando ele descobrir?

— Ele não vai descobrir. — Engoli seco.

— E você tem tanta certeza assim?

— Mas ele não vai!

— Certo, certo. — Tina estava se cansando. — Eu vou te ajudar porque ainda gosto muito de você, porém, fiquei triste com a fala do seu pai que ficou do lado daquele ogro. — Lembrou do acontecido. — Nossa amizade não poderia acabar desse jeito, eu concordo plenamente.

Aquilo me fez sorrir um pouco, em meio às emoções que estávamos tendo.

— Você pode dormir aqui hoje e amanhã vamos arranjar um jeito de te manter segura. — Tina assentiu, ainda pensando no que fazer. — Caraca, você é mais doida do que eu pensei!

— Obrigada, obrigada, obrigada. — Segurei em suas mãos, dando um beijo demorado enquanto minhas lágrimas caíam. — Meu pai não pode sonhar que eu estou aqui.

— Ninguém pode sonhar que você está aqui. Principalmente o Micael. — Me relembrou. — Vamos criar uma zona de conforto para você, mas, eu preciso avisar Amélie.

Amélie! Havia me esquecido completamente de Amélie, que também precisava das minhas desculpas.

— Meu Deus, a Amélie! — Fiquei boquiaberta. — Ela deve estar bem triste comigo, sim?

— Um pouco. Tirando o fato que ela também odeia o Micael. — Tina balançou a cabeça dos dois lados, querendo rir. — Você precisa mudar de namorado urgente, esse foi reprovado por todas nós.

Iria rir mas fui surpreendida pelo barulho da campainha, me assustando um pouco. Observei os lados da casa e me escondi o mais rápido que pude, deixando Tina atender.

Fiquei atrás de um móvel, perto da porta, onde consegui escutar a voz de Tina nitidamente.

— Ah, é você. — Sua voz murchou um pouco.

— Por que essa cara? Estava falando com um fantasma?

Amélie havia chegado, aquela hora da noite. Impossível ser coisa do destino, no mínimo, Tina mandou mensagens à ela enquanto eu estava chorando, contando o meu desastre da vida.

— Antes fosse. — Tina revirou os olhos. — Pode sair, Sophia. É a Amélie! — Disse por fim.

Sai de trás do móvel com cara de cachorrinho que caiu da mudança, ficando corada ao ver Amélie, com vergonha por tudo o que aconteceu. Ela balbuciou algo mas não terminou, pois Tina estava afiada com suas respostas. Como sempre.

— O que essa nojenta está fazendo aqui? — Amélie me observou de cima à baixo.

— Seguinte, não menospreze, ela ainda é a nossa amiga. — Tina começou. — A história é: Micael ameaçou o senhor Joseph, Sophia fugiu de casa porque será despejada quando o sol amanhecer e... Está correndo o risco de virar órfã!

Amélie ficou boquiaberta, raciocinando todas as notícias que acabou de receber. Tina rolou os olhos e fez uma pose de poder, como se estivesse na razão de todos os conselhos ditos por ela, antes de tudo isso acontecer. Sim, ela se exibia muito às vezes.

— E o que ela está fazendo aqui? — Amélie não havia entendido absolutamente nada ainda.

— Ela vai ficar aqui até as coisas esfriarem. O pai dela não pode saber que ela está aqui e muito menos o Micael.

— Sério Tina, você é muito idiota! — As duas começaram a discutir. — Ela pisa na gente e você ainda acolhe ela na sua casa. Você deveria é mais que se foder! — Aquilo me doeu.

— Qual foi, Amélie? Pega leve! — Tina pulou na frente, lhe acalmando. — É a primeira paixão da Sophia, eu sei que ele tem problema mental mas não podemos deixar ela correr todos os riscos.

— Ninguém mandou ela se meter com pessoas erradas, igual à esse cara. — Amélie cuspiu as palavras, me machucando por dentro. — Você trocou a gente por um homem, nunca fizemos isso com você!

— E os velhos que você saiu, Amélie, hein? — Criei coragem. — Todo o desprezo, as mentiras, o jeito que você criava um encontro imaginário na sua cabeça e me fazia participar, mesmo eu não querendo estar lá. — Lhe relembrei. — Eu sofri bastante na sua mão e mesmo assim não abri mão da sua amizade, que por sinal, sempre foi me desprezar para sair com esses velhos imundos!

Tina me encarava com surpresa. Nunca falaria isso para elas, mas estava criando uma coragem interna surreal.

— Eu acho que você deveria rever direito antes de julgar o meu problema! — Cerrei os dentes.

— Parem as duas, por favor. — Tina se intrometeu. — Amélie, ou você aceita a Sophia de volta, ou então, pode dar Adeus à minha amizade! — As duas se encararam.

Amélie engoliu seco, processando a frase dita por Tina, que ficou brava alguns segundos esperando pela resposta.

Nosso trio nunca esteve tão abalado ultimamente...

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