Capítulo Trinta e Oito

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Fiquei poucas vezes com Timothé nos verões, quando vínhamos para Elba. Não passavam de beijos, iguais aos de criança. Jamais pensei em perder a virgindade com ele, e também, não passavam de beijos e mais beijos.

— Desde quando você tem um ex-namorado? — Micael ficou furioso quando me encarou, sempre mudando os lados para fuzilar Timothé com os olhos.

— Você não contou para ele, Sô? — Timothé cutucou.

— O nome dela é Sophia! — Micael o segurou pelo braço.

— Ai cara, está me machucando! — Timothé reclamou, tinha os olhos arregalados e a expressão bem séria agora.

— É melhor você vazar daqui antes que eu faça prato de canibal com esse corpinho de filé de borboleta que você tem. — Micael lhe deu um empurrão, fazendo Timothé cair em cima da bicicleta.

O barulho chamou a atenção de algumas pessoas que caminhavam pelo píer, mas Micael não ligou. Tive suas mãos fortes em meu braço, me puxando para longe dali.

— Eu quero saber que história é essa de você ter um ex-namorado. — Cerrou os dentes enquanto me levava para longe dali.

— Você está me machucando, sabia? — Reclamei.

— Foda-se! — Foi grosso. — Me dá essa merda. — Jogou o meu sorvete no chão. Fiquei incrédula.

— Meu sorvete!

— Me fala, de onde você conheceu esse moleque? — Me chacoalhou como um maluco, estava com medo dele.

— Ele é um idiota que ficava comigo nos verões, quando vínhamos para cá. — Respondi com pressa, estava com medo do Micael fazer alguma coisa comigo. — Não passou de selinhos e beijos de criança! Ele sempre me respeitou!

— Beijos de criança? Para o caralho com beijos de criança, Sophia! — Micael andou de um lado para o outro, passando a mão no rosto. — Fique sabendo que se ele aparecer de novo, será um homem morto. Entendeu?

— Sim. — Passei a mão em meu braço, aliviando a dor. — Você não precisa ficar desse jeito quando alguém vier falar comigo.

— Eu sou o seu noivo, posso ficar do jeito que eu quiser! — Rebateu.

— Mas não me machucar desse jeito. — Continuei alisando o meu braço. — Quero voltar para o sobrado. — Pedi.

— Vamos voltar, esse passeio já deu o que tinha que dar. — Micael saiu na frente, pisando em cima do meu sorvete que se derretia no chão.

Quando voltamos, Micael mudou totalmente de humor, se passando mais alegre e confiante para a mamãe e o papai, o que me fez morrer por dentro. Tentei esconder os meus braços que ganhariam hematomas por seus dedos fortes pressionarem na minha pele. Eu queria ir para a casa. Para a minha casa!

— Gostaram do passeio? Você não parece muito contente. — Mamãe observou minha face. Realmente, eu não estava feliz com nada.

— Só fiquei um pouco cansada. — Menti. — O que fizeram enquanto estávamos fora?

— Cupcakes de baunilha com chocolate. — Mamãe deu um sorriso leve. — Quer me contar o que aconteceu? — Segurou em minhas mãos.

Dei uma leve observada para Micael, que semicerrou os olhos para mim, em tom de ameaça.

— Acho que eu estou ansiosa com o casamento. — Mudei de assunto muito rápido, o que também não era uma mentira.

— Aposto que vai ser uma festa daquelas! — Mamãe estava ansiosa.

— Optamos por um almoço. — Respondi e vi ela murchar por completo. — Apenas a família.

— Só a família? — Mamãe fez uma careta de surpresa. — Um gesto lindo mas e seus amigos da escola?

— Eu não tenho mais amigos, mamãe. — Aquela frase foi triste para mim. — Tina e Amélie não são boa companhia. A senhora não lembra?

— É, você tem razão. — Ficou pensativa. — Gosto do Micael porque ele me mostrou ser uma pessoa totalmente diferente do que ele é! Tão família, prestativo e... Você vai ser muito feliz ao lado dele, querida. — Mamãe me deu um abraço.

— Obrigada. — Sorri falsa à ela, que não estava reparando como eu estava triste com aquilo.

— O que estão fazendo? — Papai apareceu perto de nós.

— Estávamos conversando sobre o casamento. — Mamãe respondeu por mim. — Micael e ela optaram por um almoço.

— Hum, almoço? — Papai levantou as sobrancelhas. — Optaram por almoço no casamento? Que maravilha! — Virou-se para Micael, soltando.

— Pois não? — Micael fingiu não entender o que estava acontecendo.

— Sophia estava contando que será um almoço de casamento. Isso foi em consenso? — Papai quis saber.

— Sim, optamos por ser fácil e também... Vai ser só a família! — Micael sorriu em seguida. — Não precisamos de uma festa de arromba, não é mesmo?

— Você vai se casar, Sophia? Que legal! —Milla me soltou um aceno, feliz com a notícia. — Meus parabéns.

— Obrigada. — Dei um sorriso forçado. — Vou subir um pouco, estou com dor de cabeça. — Na realidade, eu não estava querendo suportar a cara do Micael. Subir foi minha única solução.

— Você precisa de algum analgésico? — Ele ficou preocupado, me irritando mais ainda.

— Não, estou bem. — Soei grossa antes de começar a subir. Micael me seguiu, onde revirei os olhos e bufei. Queria paz. Queria a minha casa! Queria as minhas amigas de volta!

Atravessei o corredor com ele atrás de mim, como um espírito obsessor.

— Será que você pode me deixar em paz? — Me virei, o encarando.

— Eu queria te pedir desculpas. — Soltou. — Meu sangue esquentou, eu não deveria ter feito aquilo.

— Você sempre pede desculpas e acha que vai sair ileso disso, não é mesmo?

— Eu já te pedi desculpas. — Rolou os olhos. — Todo mundo erra!

— Só que ultimamente você está errando mais do que da conta. — Me estressei. — Você não pode ser assim, Micael! Você não pode se irritar com qualquer pessoa que chegue perto de mim!

— Eu só quero proteger você.

— Isso não é uma proteção, Micael! Isso já é... — Decidi ficar quieta.

— Isso já é o que? — Nos encaramos. — Anda, vamos! Isso já é o que?

— Nada. — Fiquei cabisbaixa. — Quero ficar sozinha!

— Você me desculpa? — Tentou segurar na minha mão.

— Eu só quero ficar sozinha, por favor.

Estava cansada de falar, o que foi melhor no momento era pedir e sair andando, sem deixar ele soltar o que estava pensando.

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