Capítulo Quatro

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Não me dei conta que estava com a jardineira quando passei o portãozinho de madeira, trancando em seguida. As luzes da sala estavam acesas, e provavelmente, papai já deveria ter chegado. Me agachei no gramado, andando em passos leves até à janela do meu quarto, onde abri por fora, com um truque de mestres daqueles.

Mas não esperava ver Anthony sentado na cadeira giratória, fazendo dever na minha escrivaninha de madeira.

— O que você está fazendo no meu quarto? — Questionei após fechar a janela.

— A mamãe mandou eu vir para cá. — Respondeu calmo, não ligando. — Ela e o papai estavam discutindo quando eu cheguei.

— E aonde você estava? — Passei por ele, sentando em minha cama de solteiro.

— Na casa do Herinsson. — Me observou. — Por que você está vestida como uma puta?

— Não é tão curto. — Me defendi. — E eu estava na festa de Bordéus, no centro. — Anthony entreabriu os lábios mas eu o parei. — Não conta para mamãe!

— O papai iria te matar se soubesse que você estava na festa do centro. — E como iria! — Quem te trouxe?

— Eu vim de ônibus. — Menti. Não iria contar ao Anthony que Micael me trouxe.

Ele ficou em silêncio. Ajuntou o seu material e saiu da escrivaninha, sem eu mandar.

— O jantar já deve estar pronto. — Abriu a porta e saiu, sem dizer mais nada.

Troquei de roupa e fui para a sala de jantar, o mais rápido possível. Mamãe estava quieta, mexendo em sua salada e Anthony arrumava os talheres em cima da toalha vermelha. Papai se levantou, alongando os braços e caminhando até à mesa de jantar.

O clima estava estranho por conta da discussão recente.

— Querida, você pode me ajudar? — Mamãe tinha a travessa de vidro em mãos. Sua salada estava pronta.

— Claro. — Sabia que ela estava precisando dos temperos, que ainda não estavam na mesa.

Papai se sentou em seu lugar, ainda em silêncio.

— Já está tudo pronto? — Observou a mesa. — Estou com fome! — Protestou.

— Sophia pegou os temperos. — Mamãe respondeu, seca. — Agora sim podemos jantar. — Fuzilou papai com o olhar.

Iniciamos a nossa oração e depois jantamos. Apenas o som dos talheres era nítido em toda a sala de jantar. Conseguia escutar o papai mastigando com toda precisão, sem ter contato visual conosco. Mamãe esboçava alguns sorrisos para dizer que estava tudo bem, mas na verdade, não estava.

Ajudei a mamãe quando terminamos o jantar. Anthony secou a louça enquanto eu lavava. Papai se retirou da mesa assim que acabou de comer, indo para o quarto.

Tomei um banho quente, escovei os meus dentes e vesti meu pijama. Peguei o cartão que Micael havia me dado, lendo todas as informações quando me sentei na cama, concentrada.

Seu nome e sobrenome estampavam o pequeno pedaço de papel duradouro. Logo após, a sua profissão em uma frase discreta, com mais informações de contato e até um site.

Micael era artista! Pintava quadros e estava estudando para promover vernissages na cidade. Gostei de ver os seus quadros, que estavam expostos no site. Além de lindo, também era um excelente artista. Soltei um suspiro pesado após fechar a tampa no notebook, me arrumando para dormir.

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Meu rosto estava queimando pelo frio excessivo. Esfreguei minhas mãos e tentei me esquentar enquanto passava pelo portão da escola. Não encontrei Tina e muito menos Amélie na entrada, o que foi estranho.

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