Capítulo Setenta e Quatro

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— Não consigo falar alguma coisa, preciso beber!

Tina desceu às escadas quando Marjorie foi embora. Caminhei até à geladeira, lhe entregando uma cerveja.

— Eu não sei o que fazer nesse atual estado. — Apoiei as mãos no balcão.

— Agora você vai ficar solteira. Não era isso que você queria? — Tina abriu a latinha, tomando um gole.

— Eu queria me livrar dele de um jeito... Um jeito que não fosse tão radical. — Gesticulei.

— Sophia, eu já disse milhões de vezes que ele iria matar você. — Pausou. — Pense que agora ele vai estar com pessoas de bem, que vão fazer ele. — Tina pausou.

— Vão fazer ele virar gente de verdade? — Levantei uma sobrancelha.

— Você que está dizendo, não eu. — Teve deboche em sua voz, fazendo graça da situação. — Quanto tempo ele vai ficar na clínica?

— Seis anos.

Tina cuspiu a cerveja e arregalou os olhos.

— SEIS ANOS? MEU DEUS! — Colocou as mãos na boca. — Seis anos é muita coisa!

— São seis anos, Tina. — Vasculhei os armários. Fiquei com fome! — Acho que não vou conseguir ficar sozinha em seis anos.

— Você quer conhecer outra pessoa?

— Não digo nesse quesito, Tina. Digo no quesito de ficar sozinha nessa imensidão de casa. — Abri um provolone. — Você quer?

— Hum, não. — Tina torceu o nariz. — Você pode ir para a sua mãe ou então morar em casa.

— Não quero morar na sua casa. — Estava dispensando essa ideia.

— Eu tenho uma solução para a sua solidão! — Tina fez uma careta, levantando o dedo indicador.

— Então me fale. Estou disposta à ouvir!

— Você pode dar a volta por cima e tomar conta de toda à situação, como por exemplo. — Deu uma pausa. — A vernissage do Micael será mês que vem, não? Faça a vernissage! Vá no lugar dele!

— Eu não entendo nada de pinturas, Tina.

— É só você inventar alguma coisa que compre os idiotas. Vamos, Sophia! Vai ser divertido!

— Eu não quero mexer em algo que é dele.

— Mas ele tirou algo precioso de você.

Tina foi rude com as palavras, me fazendo pensar. Respirei fundo e encarei os cavaletes que estavam na sala, os quadros prontos para a vernissage, que aconteceria no mês que vem. Estava próximo!

— Tudo bem, eu até posso fazer isso por ele. — Vi Tina bater palmas. — Mas fique sabendo que eu só irei fazer isso e nada mais.

— Você está achando que vai acontecer mais alguma coisa? — Teve um olhar sarcástico para mim.

— Conheço você, Tina. — Vi ela rir. — Não quero fazer isso com ele. Micael está doente! Não em uma colônia de férias.

— E se você encontrar uma pessoa especial na vernissage?

— Eu amo o Micael.

— Mas ele irá ficar seis anos naquele lugar, Sophia. Você não vai ficar sem transar durante seis anos! — Foi séria e autêntica.

— Não quero mais falar desse assunto com você. Vou viver a minha vida, bem longe dele, e como! — Fiquei em transe, imaginando uma vida totalmente diferente.

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Depois da noite conturbada que eu tive, foi difícil acreditar que Micael estava em uma clínica, se recuperando, ficando seis anos por lá. Eu tinha que seguir uma vida sozinha, sem ninguém, me acostumar com a solidão, já que voltar para a casa da mamãe não seria uma boa ideia.

Levantei cedo naquela manhã, fiz minhas higienes matinais mas reparei em algo totalmente estranho. Meu estômago estava se revirando, um enjoo repentino e náuseas sem parar! Lembrei do queijo que havia comido ontem, descartando possibilidades de estar doente por conta da ausência de Micael.

Sim, eu poderia adoecer por sentir falta dele! Mas neguei isso em seguida, vendo que era coisa da minha cabeça.

Tomei um café da manhã especial, tirei o lixo, reguei o jardim e pesquisei algumas telas de Micael, criando um texto onde eu falaria na vernissage. Passei horas escolhendo quadros que já estavam prontos, logo após de dar um jeito na casa, que estava uma bagunça por ontem. Vi que Marjorie havia levado a arma que Micael estava usando, esqueci até de procurar onde ele estava guardando aquilo.

E por fim, fiz um almoço somente para mim. Era estranho estar sozinha, fazer coisas somente para você. Era assim que eu pensava.

Mas o que estava me incomodando de fato era o meu estômago, que se revirava cada vez mais. Fui ao banheiro quando terminei de almoçar, verificando minha barriga dura e grande, como se eu estivesse cheia. Não estava com dor de barriga e muito menos vontade de ir, mas estava estranhando aquilo em meu estômago, me dando um mal estar terrível.

Mais à tarde, liguei para Tina para saber se ela estava passando mal. Porém, recebi respostas opostas do que eu estava pensando. Tina estava bem! Apenas com uma leve dor de cabeça pelo fardo de cerveja tomado.

E enquanto ela estava bem, eu estava péssima!

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