Capítulo Quarenta e Cinco

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Dois dias depois.

Era fim de semana! Pedi um táxi para ir até a casa da mamãe e do papai. A vernissage foi cancelada e Micael foi levado por Marjorie até a clínica de auto-ajuda, ficando por duas semanas para a liberação dos seus remédios.

Fui recebida com bolo de chocolate e tortas de frango com queijo. Contei as novidades sobre minha adaptação na vida de casada, mas não ousei em transmitir minha angústia e tristeza. Mamãe faria um relatório e me cobraria o divórcio em segundos.

— Onde está o Anthony? — Ajudei mamãe à lavar a louça.

— Acho que ainda não te contei. — Tinha um riso bobo nos lábios. — Anthony está conhecendo uma garota! — Aquilo me fez rir.

— Uma garota? — Fiquei boquiaberta. — E aí? O que está aprontando com ela?

— Está me dando um trabalho, se é que você me entende. — Mamãe lavou os pratos. — Seu pai está conversando muito com ele, sabe como é.

— E como sei. — Rimos baixinho. — Ainda mais o Anthony.

— Mas achei bom ele ter saído desse mundo de fantasias, ele precisa crescer.

— Só precisa ter cuidado com ela. — Frisei o assunto importante, mamãe estava com medo, justamente por isso.

— Micael está gostando do Canadá?

Menti para mamãe sobre a viagem do Micael à negócios. Na minha história, ele havia ido para o Canadá em busca de empresários para novas vernissages futuras. Ela não entendia do assunto então entendeu perfeitamente.

— Ele me mandou mensagens, disse que está calor por lá. — Fingi serenidade. — Deveria ter ido com ele.

— Deveria mesmo! Você precisa passear antes de ter responsabilidades mais importantes. — Mamãe soltou um risinho ao meu lado.

— Como assim, mamãe? — Fiquei sem entender. Deixei os pratos secos em cima da mesa, pronto para guarda-los.

— Sophia, não seja idiota. — Mamãe sorriu. — Vocês já estão tentando um bebê?

— Mamãe, não. — Neguei. — Não vamos ter um bebê, acabamos de nos casar.

— Vocês deveriam pensar sobre isso, Sophia. Estão novos! Depois é uma burocracia para conseguir engravidar.

— Você não acha que eu estou muito nova?

— Mas já está casada, isso é o que importa! — Ficou um pouco brava. — Eu acho melhor...

— Não mamãe, a senhora não tem que achar nada! Isso é um assunto meu e do Micael. E outra. — Deixei ela incrédula com o meu tom de voz, tendo coragem para falar tudo. — Optamos por usar um método contraceptivo infalível.

— Você está tomando remédio?

— Se chama DIU. — Contei. — É inserido na minha vagina, encostando nas...

— Valha-me Deus, Sophia! — Saiu andando, irritada. — Isso é coisa do Diabo! Restringir um bebê é coisa do Diabo!

— Não é mamãe, nunca foi coisa do Diabo.

— Na minha época as pessoas tinham vontade de construir uma família, assim que se casavam. Está na Bíblia!

— Mamãe, a senhora precisa parar com isso. Entendeu? — Chamei sua atenção, segurando em seus ombros. — Eu e Micael conversamos e achamos melhor adiarmos a ideia de um filho, apenas por enquanto. Ainda não está na hora! — Rolei os olhos. — Temos planos mas não imaginamos uma criança no meio deles. Então, não se preocupe. — Dei um beijo em sua testa.

Ela ficou séria mas não disse mais nada. A porta da frente se abriu, revelando Anthony com uma bicicleta.

— Soph! — Me abraçou, deixando a bicicleta cair e fazer um estrondo.

— Cabeça dura! Como você está? — Baguncei os seus cabelos.

— Estou bem. O Micael não veio?

— O Micael está viajando. Eu vou passar alguns dias por aqui, com vocês. — Anthony se animou.

— E por que a gente não pode ir na sua casa? Agora que você virou rica, não convida a gente para a sua casa.

— Anthony! — Mamãe o reprimiu.

— Você pode ir quando quiser na minha casa. — Sorri leve.

— Quero ir na sua casa na semana que vem.

— Pode ir! — Queria rir das caretas de Anthony mas deixei quieto. Optei por irritá-lo à tarde inteira com o fato dele ter uma namoradinha.

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— Caraca, que loucura!

Tina ficou boquiaberta depois de tudo o que eu contei. A mesa ficou pequena para ela, que se apoiava e tinha os lábios abertos, dando uma expressão de desenho animado.

— Para você ver. — Observei um vaso de flores falso, fazendo uma ótima decoração. — Não sei ao certo quando ele vai voltar da clínica. Deram o mínimo de duas semanas.

— Nunca é duas semanas. — Pausou. — Como você sente com tudo isso?

— Me sinto estranha! Parece que à qualquer momento eu vou acordar e vamos estar na sala de aula, com Victor me irritando e Amélie contando sobre o vovô que transou na semana passada.

Tina soltou uma gargalhada.

— Falando em Victor, ele perguntou de você na colação de grau.

— O que ele disse? — Levantei uma sobrancelha.

— Disse que sente muito por não fazer as suas vontades. — Ri. — Eu acho que ele se referiu ao sexo, com certeza.

— Ele te pediu desculpas?

— Mais ou menos. — Tina fez uma careta. — Fico feliz que o amo tenha terminado.

— E Amélie?

— Deve estar sendo feliz por aí, eu não faço ideia. — Desconversou. — Preciso te contar uma coisa! — Ficou feliz ao anunciar.

— O que? Não me diga que você está grávida.

— NÃO! Cruzes! — Ri da suas caretas. — Irei viajar, no mês que vem.

— Sua mãe pagou uma viagem? — Me animei.

— Tecnicamente não. — Tina deu um risinho, pela primeira vez vi ela corar. — Digamos que eu conheci um cara pela internet, mas nós já se encontramos. Ele é hipster mas sexy e tem um pau enorme, grosso com veias, enfim. — Fiz caretas dos detalhes. — Ele comprou um trailer! Vamos viajar por aí, criar o nosso mundo.

— Então você virou hipster? — Segurei meu riso. Tina mostrou o dedo do meio.

— Claro que não.

— Você vai conseguir viajar em um trailer durante... Sei lá quantos dias?

— Eu vou ficar dando todos os dias no trailer. Tem algo mais gostoso do que isso?

— Ãn... Acho que sim. — Meu riso morreu ao lembrar do meu querido marido.

Seria difícil ficar duas semanas sem sexo, ainda mais sem o sexo dele. Másculo e forte! Não podia trazer consolos de borracha para a casa dos meus pais, e também, não podia abandoná-los para uma rápida masturbação. É, eu estava com saudade do meu marido.

— Não me diga que você estava pensando nisso? — Tina mostrou a língua, fazendo uma careta engraçada.

— Prefiro não dizer o que eu estava pensando.

— Você apanha e ainda consegue pensar em coisas eróticas com ele? Meu Deus! — Tina arregalou os olhos. — Me desculpa, eu não queria ter dito isso.

— Está tudo bem. O que aconteceu fica no passado, sabemos que ele tem todos os problemas. — Fiquei séria. — Só quero que ele fique bem e volte totalmente normal de lá.

— Vai ser um desafio mas aposto que você vai se sentir bem com isso! — Tina sorriu leve, me acolhendo.

Também espero isso, Tina. Também espero!

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