Capítulo Sessenta e Oito

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Acordei assustada, primeiro que Micael. Os passarinhos cantavam sob a nossa janela, avisando que o dia já estava posto. Me levantei, tomei uma ducha e coloquei um vestido confortável. Na minha cabeça, quanto mais vestidos eu usasse, mais minha barriga iria ficar escondida.

Micael entrou na suíte enquanto eu terminava de passar o protetor solar em meu rosto, logo após de escovar os cabelos.

— Bom dia. — Levantou a tampa do sanitário, fazendo sua higiene da manhã.

— Bom dia. — Sorri leve à ele.

— Estou cansado. — Deu descarga, entrou no box em seguida, tomando um banho. — Acho que a vernissage está me deixando cansado!

— Sua vernissage será só no mês que vem. — Tranquilizei Micael. — Eu vou preparar o café!

— Pode fazer ovos com bacon? — Me pediu.

Micael não era muito de pedir, mas achei engraçado o jeito que havia pedido, como um menininho da mamãe. Assenti e joguei um beijo, saindo da suíte.

Desci para à cozinha em busca de ovos com bacon para Micael. Meu estômago mais uma vez me surpreendendo quando coloquei o bacon na frigideira, o cheiro não me fazia bem naquele momento! Retirei os ovos, bacon e despejei um suco de laranja no copo de vidro, arrumando o lugar de Micael, que estaria descendo em minutos.

— Que cheiro delicioso! — Estava animado. — Você dormiu bem? Sentiu cólicas? — Referiu-se à minha menstruação de mentira.

— Ah, não. Até que foi tranquilo. — Me sentei, esperando que ele ficasse mais perto.

Assisti Micael mastigar o bacon com vontade, fazendo caras e bocas. Eu iria vomitar! O cheiro estava me fazendo mal, minha pressão estava baixa, meu corpo mole. Não podia desmaiar naquele momento.

— Não vai comer o bacon? — Apontou com a faca em direção ao meu prato, vendo que estava totalmente vazio.

— Não quero. — Torci o nariz. — O médico me receitou torradas de grãos.

— Torradas de grãos? Isso deve ser horrível, querida. — Micael fez uma careta, voltando a comer.

Respirei fundo, medindo para não vomitar na mesa e não desmaiar. Estava ficando difícil!

— Sabe o que eu estava pensando? — Micael deixou os talheres no prato, agora, vazio.

— Me conte. — Apoiei minha cabeça em minhas mãos.

— Poderíamos fazer um tour em Nova Iorque. O que você acha? Depois da vernissage. — Micael estava bastante animado com a viagem.

— Você quer ficar mais um tempinho em Nova Iorque?

— Seria bom levar você para conhecer! É uma experiência divertida.

— Pode ser. — Rolei os olhos. — Tina e Francis vão ficar mais um pouco?

— Não quero saber dos dois, por enquanto. — Soou sarcástico mas eu sabia que ele estava falando sério.

— Micael?

— Sim? — Subiu o olhar para mim.

— Estou grávida!

A feição angelical que Micael estava definitivamente desapareceu. Um Micael ríspido, abatido, inconformado e processado se criou em minha frente. Minha saliva pareceu estar cheia de espinhos quando engoli pela primeira vez, digerindo a loucura que eu havia feito.

— Eu descobri no dia em que estava doente. Porque eu não estava doente! — Abaixei a cabeça, confessando um crime para ele. — Tirei o DIU na consulta médica, um mês atrás, eu também menti para você. — Soltei um suspiro pesado, encarando Micael de volta.

Ele não parava de me encarar, como um maníaco! Detalhou todos os objetos que estava na mesa, rolou os olhos e soltou um suspiro leve, sorrindo em seguida. Franzi meu cenho quando presenciei aquilo, sem entender nada.

— Que... Maravilha, querida! — Ele ainda estava sorrindo. — Eu estou extremamente feliz!

A parede de terror que estava na minha mente simplesmente desmoronou.

— Você... — Sorri um pouco. — Você... Você está feliz? Você gostou da notícia? — Meu coração se aliviou.

— MAS É CLARO QUE NÃO!

Micael quebrou o prato de vidro com as mãos, deu um soco na madeira e saiu da cadeira em segundos, revoltado. Veio em minha direção, pegando em meu pescoço e me jogando contra à parede.

— VOCÊ.... HUMMM! — Rosnou com o punho fechado, me esquivei de levar um soco. Ele não fez nada. — EU MANDEI VOCÊ ENGRAVIDAR? QUANDO EU MANDEI VOCÊ ENGRAVIDAR, PORRA? — Gritou na minha frente, bastante nervoso.

— O BEBÊ É MEU, MICAEL! — Tomei coragem. — ERA NÍTIDO QUE EU IRIA ENGRAVIDAR! TRANSAMOS BASTANTE, ISSO ACONTECE QUANDO CASAIS TRANSAM DEMAIS. E ISSO É UMA COISA QUE FAZEMOS MUITO! — Arranhei os seus dedos, tentando me desfazer das suas mãos em meu pescoço.

— É PARA ISSO QUE VOCÊ TEM A PORRA DO DIU! — Deixou o meu pescoço, me fazendo cair até o rodapé da parede. Comecei a chorar em silêncio.

— Se você não quiser, tudo bem. Podemos prosseguir com a ideia de eu ser mãe solteira.

— Vá se foder! Eu transei com você, eu gozei em você, eu fiz essa porra de feto e você quer ser mãe solteira? — Colocou as mãos na cintura. — Você não entendeu ainda que eu não quero ser pai? Imagine uma criança crescendo nesse mundo? Vendo a situação que vivemos!

— Temos uma ótima situação para sustentar uma criança, Micael.

— NÃO, NÃO TEMOS! — Jogou a cadeira longe. — O que você vai dizer para a criança quando ela perguntar dos avós? Hein? — Chegou perto do meu rosto, apertando o meu maxilar. — Você vai dizer que o avô dela é um estuprador e mafioso? Que a avó é lésbica e chupa boceta? Ou então vai dizer que os avós maternos são abilolados por Deus e a puta que pariu? HEIN? — Gritou novamente, me assustando. — Você já imaginou isso na sua cabecinha de BOSTA?

Senti raiva, nojo! Vi Micael se levantar até uma estante na cozinha, buscando o seu potinho de comprimidos. Os abriu, tomando quatro de uma vez. Arregalei os meus olhos.

— Eu não estou pronto para ser pai, Sophia. — Me encarou de novo. — Eu nunca vou estar pronto para ser pai!

— Você pode mudar sendo pai, Micael. — Abracei os meus joelhos. — Eu quero te mostrar que você pode ser um ótimo pai! Você pode ser aquilo que não teve.

— Você me decepcionou, mais uma vez! Me decepcionou! — Encarou o chão, tomando coragem. Saiu de perto, quebrando mais algumas coisas na sala.

Fiquei no chão por alguns minutos, escutando vidros e mais utensílios da minha casa serem quebrados. Música alta, cheiro de cigarro e garrafas de uísques sendo abertas e desperdiçadas. Uma novidade? Micael tinha odiado a descoberta de ser pai!

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