Capítulo Cinquenta e Três

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— Para onde nós vamos?

Perguntei à Micael que fechava a mala pequena, verificando se havia esquecido algo. Andou até a suíte, dando um confere.

— Não podemos ficar aqui. — Colocou a mala no chão. — Meu pai sabe aonde eu moro!

— Sua mãe não deu cobertura? — Disse incrédula, achando que Marjorie estava nos acobertando.

— Minha mãe deve estar em pé de guerra com o meu pai. Como sempre. — Levou a mala consigo para fora do quarto. Fui atrás.

Mas parei quando escutamos a campainha. Micael fez uma cara de espanto, me fazendo voltar dois degraus à cima.

— Caralho, é ele! — Se apressou em me esconder.

— E agora? Ai meu Deus! — Estava trêmula, bastante nervosa.

— Se esconde no armário. Rápido! — Micael abriu o guarda-roupa, me escondendo atrás de algumas roupas que ainda estavam no plástico.

Fiquei agachada, segurando os joelhos. Com medo de alguém me pegar e fazer alguma coisa. Conseguia escutar uma voz rouca vindo de baixo, junto com a de Micael.

— Pensei que não iria me atender.

— Estava guardando alguns projetos.

— Ainda está pintando?

O silêncio havia tomado conta. Logo consegui escutar de novo.

— Onde está a sua esposa? Eu quero conhecê-la!

— Está viajando, com os pais.

Amenizei minha respiração pesada quando escutei passos subindo à escada.

Agora estavam no quarto. Eu precisava me esconder ao máximo, segurar as minhas mãos e fechar os olhos, firmes.

— Sua casa ainda continua a mesma.

— Não necessariamente. — Micael respondeu.

— Malas? Você também vai viajar?

— Sophia deixou quando estava escolhendo uma. — Micael tinha naturalidade ao responder, não transparecendo que estava com medo.

— Já reparou que ela nunca está aqui quando eu quero visita-los?

— Vai ver porque ela tem coisas à fazer.

— Que tipo de coisa? Eu nunca vi essa menina, desde que você se casou.

— E nem irá ver, dependendo da situação.

— Essa garota não é Léa. Fique tranquilo!

— Ainda bem que ela não é a Léa, pai. — Estava um pouco irritado.

— Você não consegue esquecê-la, não é mesmo? Depois de tanto tempo, não consegue passar uma borracha nisso?

— Você matou ela, como quer que eu passe uma borracha nisso?

— Passando! Todo mundo erra, Micael. Fui sangue frio ao tirar a vida de Léa, mas me arrependi.

— Sua cara não treme, pai. Você nunca se arrependeu de ter matado Léa!

— Ela mereceu mas ainda sim tenho remorso da história. O tempo passa, as pessoas mudam.

— E você continua o mesmo filho da puta.

Estava com medo dele me achar ali, dentro do guarda-roupa. Fiquei em silêncio total, tendo as mãos na boca, como se fosse falar algo naquele momento.

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