Capítulo Noventa

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Micael saiu às pressas comigo, chamando um táxi de sua preferência para irmos à minha antiga casa. Estava ansioso quando encarou a janela diversas vezes, com medo de alguém estar nos seguindo.

— O que vamos fazer? — Perguntei com medo, vendo que Micael também estava aflito.

— Vamos ir para casa. A nossa casa! — Segurou minha mão.

— Sim. — Assenti leve e ainda segurei na mão de Micael, que estava ficando mais calmo.

Quando o táxi parou, vimos Francis e Tina saírem de um carro, que obviamente não eram deles. Correu até nós, com um ar de que já sabiam o que havia acontecido.

— Vocês precisam ir! — Tina disse apressada, me empurrando para dentro.

— Ele já sabe. — Micael ficou em transe. — Precisamos ir, rápido!

— Para onde? — Fiquei com medo quando Tina seguiu me empurrando, fazendo com que eu fosse rápido. — Alguém pode me dizer o que está acontecendo?

— Marjorie se juntou com Borges, irão destruir a vida de vocês. — Francis contou, me apressando. — Micael, verifique sua passagem!

— Deve estar no meu guarda-roupa. — Entrou em casa, vasculhando as gavetas e subindo às escadas.

Tina me abraçou de lado, fazendo carinho em meus braços. Beijou o topo da minha cabeça, mas ainda sim, eu estava confusa com tudo o que estava acontecendo.

— Não imaginei que ela fosse assim. — Soltei.

— Ninguém imaginou, ela sempre foi a melhor mãe do mundo. — Tina bufou. — Micael sabe o que fazer, eu espero.

— Será que você pode me dizer o que vai acontecer comigo? — Encarei Tina com medo, vendo a pressa de ambos na casa. Francis andava de um lado para outro.

— Vamos fugir! — Micael desceu com seu passaporte, uma mochila e outra roupa em seu corpo. — Se ficarmos aqui, vamos morrer.

— Apressem logo, Marjorie deve estar chegando. — Francis esfregou as mãos, ansioso. Tina me ajudou a sair, me levando até o carro que estava na garagem. Micael entrou em seguida, ajustando o câmbio antes de sair.

Me encarou enquanto arrumava o retrovisor.

— Desculpe por estar sendo assim. — Nos encaramos.

— Não tem outro jeito, Micael. Vamos logo! — Minha cabeça, agora, pensava em automático.

Eu não queria saber para onde estávamos indo, ou então, para onde iríamos. Meu medo maior era de Borges nos encontrar e fazer algo, ainda mais com Marjorie, que me surpreendeu em ser a pessoa que é.

— Quando se estabilizar, mande notícias! — Francis encostou na porta do carro, apertou a mão de Micael.

— Pode deixar. — Micael assentiu leve, respirando fundo.

— Se cuida, amiga! — Tina estava com os olhos marejados. — Quero ver esse bebê logo.

— Ainda vai demorar um pouco. — Sorri leve. — Vou sentir saudades!

— Eu também.

— Vamos indo? — Micael colocou as mãos no volante, se preparou quando soltou a embreagem e acelerou o veículo, que arrancou-se no chão da garagem.

Encarei a saída de Bordéus pela janela, triste por deixar tudo para trás novamente. Micael dirigia rápido, como se estivesse fugindo de alguém. E estava mesmo!

— Temos um plano? — O encarei, segurando o cinto de segurança.

— Vamos fugir do país.

— DO PAÍS? COMO ASSIM DO PAÍS?

— Fugindo, Sophia. — Disse simples. — Não podemos ficar mais nessa região. Todos vão nos procurar!

— Então esse era o plano da sua mãe o tempo todo? — Minha garganta fez um nó. — Nos separar para cuidar de você? Como se você fosse frágil à ponto de não conseguir fazer nada?

— Eu não sei qual era o plano inicial da minha mãe. — Estava nitidamente chateado com aquela conversa. — Só consigo pensar para onde podemos ir.

— Eu não consigo pensar em nada disso, Micael. — Coloquei as mãos na cabeça. — Eu só quero que esse pesadelo acabe.

Fiquei sem respostas quando Micael preferiu prestar a atenção na estrada, que estava altamente perigosa em suas mãos. Ele optou por um aeroporto fora de Bordéus, estacionando o carro longe do local, tirando sua mochila e entrando junto comigo.

— Não saia daqui! Eu vou ao caixa eletrônico tirar dinheiro para comprar as nossas passagens. — Me avisou, me dando um beijo rápido na testa e saindo na frente.

Fui atrás como uma turrona chata, não obedecendo às ordens de Micael. Fiquei ao seu lado quando ele cerrou os olhos, sem paciência.

— Eu não mandei você ficar me esperando?

— Eu não quero ficar sozinha!

Micael bufou e seguiu andando, me tendo ao seu lado. Paramos em frente à um caixa eletrônico, dentro do aeroporto. Ele abriu sua mochila pegando algo, digitou nos botões enormes da máquina, franzindo o cenho após colocar sua digital.

— PORRA! — Me assustou com o seu grito, socou a tela do caixa eletrônico.

— O que aconteceu?

— Ela bloqueou a minha conta. Eu não consigo ter mais acesso à nada! — Micael estava com raiva. Teclou nervoso, socando a tela mais uma vez. — A gente não tem mais dinheiro! — Colocou as mãos na cabeça, andando de um lado para o outro.

— Não acredito. — Fiquei incrédula. — O dinheiro da sua vernissage...

— Na conta. — Micael apontou para a tela, ainda andando de um lado para o outro. — A gente não tem mais acesso, vamos ter que voltar para Bordéus.

— NEM PENSAR! — Fiquei na frente de Micael, segurando os seus braços. — A gente precisa se acalmar e pensar em outra coisa, não podemos voltar.

Micael ficou pensativo, tirou minhas mãos de si e continuou à andar de um lado para o outro, ainda pensando no que fazer.

— Vamos voltar para o carro, eu vou ligar para o Francis. — Segurou a minha mão, me puxando para ir junto.


Micael fez todo o caminho de volta, parando em frente à casa de Francis e Tina. O mesmo já havia ligado para dizer que estávamos voltando, contando o que tinha acontecido.

— Eu pensei que iria me livrar de você. — Tina cruzou os braços, fazendo caretas à Micael.

— Digo o mesmo, Tina.

— O que vai fazer agora? — Francis estava sentado no braço do sofá.

— Podemos ficar aqui? — Micael levantou os ombros, fazendo uma careta triste, como um cachorrinho que caiu de mudança.

— MAS N... — Tina aumentou o tom de voz.

— Tina, Micael é meu amigo! — Parou a noiva. — Claro que você pode ficar. Fique o tempo que quiser, até você arranjar alguma coisa.

— Você sabe que isso não vai dar certo. — Tina encarou Francis com raiva.

— Tina, por favor... — Passou a mão no rosto. — Micael está precisando de ajuda, vamos ser...

— Tanto faz. Eu só quero você fazendo algo rápido para juntar dinheiro e sair da minha casa. Está entendendo?

Tina deu seu ultimato final à Micael, que pela primeira vez assentiu, sem discutir ou fazer algo do tipo, como sempre fazia.

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