Capítulo Quarenta e Oito

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Correr entre passos de fantasmas foi uma coisa muito difícil à se fazer, quando sai do banho e me enrolei em um roupão felpudo, descendo as escadas para saber o que havia dentro da caixa.

Dei minha própria cobertura quando observei a minha sala e cozinha por cima da escada, descendo devagar e verificando se Micael não estaria por perto. Assisti sua sombra andar de um cômodo para o outro, com a caixa debaixo do braço. Ele falava ao telefone.

— Não, eu consegui voltar hoje. — Entrou na cozinha, deixando a caixa em cima da bancada. — Não venha quando eu não estiver, eu gosto de saber das minhas visitas. — Buscou uma faca de ponta na gaveta. — Falo com você depois! — Desligou a ligação e deixou o telefone de canto, se concentrando na caixa.

Me agachei perto das madeiras de proteção da escada, como uma criancinha que está vendo coisa errada pela primeira vez. Lambi meus lábios e mordisquei minha língua, ansiosa por Micael abrir aquela caixa para saber o que havia dentro. Suas mãos fortes apoiaram no papelão, enquanto ele passava a faca de ponta pela fita crepe. As hastes foram arrancadas para fora e Micael parou tudo o que estava fazendo.

— Te darei quatrocentos dólares se você sair daí. — Soltou.

Arregalei os meus olhos e vi Micael me encarar, com a cabeça levantada para cima.

— Ãnn, aaaaaaan. — Fiquei sem graça, me levantando.

— O que está fazendo aí?

— Nada. — Fiquei ereta. — Só estava vendo você... Com a caixa. — Apontei.

— Sophia, não tem nada para você ver na caixa. — Rolou os olhos. — Termine o seu banho!

— Se não tem nada, por que eu não posso ver? — Cruzei os braços.

— Porque é uma coisa pessoal. — Micael estava se irritando. — Sua mãe não te deu educação o suficiente?

— Eu sou a sua esposa e quero ver o que tem dentro da caixa! — Cruzei os meus braços, descendo os degraus.

Micael me fuzilou com o olhar. Desci todos os degraus lentamente, indo até à cozinha, com alguma coragem que havia comprado em algum lugar da minha cabeça.

— Não tem nada dentro da caixa.

— E por que eu não posso ver?

— Querida. — Micael respirou fundo, teve as mãos na caixa, cobrindo. — Será que você pode se retirar, por favor?

— NÃO! — Silabei.

— Tudo bem. — Se concentrou ao máximo para não fazer nenhuma besteira. — Você é minha esposa e está disposta à saber tudo da minha vida, não é mesmo? — Me perguntou sério.

Eu jamais teria acreditado se Micael não ficasse perto da caixa, se preparando para me dizer, como se aquilo fosse alguma apresentação de natal.

— Me responda uma coisa. — Afastou a caixa, que dançou pelo mármore da cozinha. — Você foi conversar com Cinthia?

— Como você sabe?

— Você foi? — Rolou os olhos. — Eu quero saber apenas isso.

— Fui.

— E por que?

— Para saber dessa maldita caixa, saber do seu maldito segredo, saber porquê você surta do nada. — Andei de um lado para o outro. — Que tipo de monstro em me casei? — Eu havia surtado. 

Micael assentiu cabisbaixo, puxou á caixa novamente e por fim, abriu a caixa. Fiquei perplexa ao vê-lo jogar a caixa de cabeça para baixo, me mostrando o que havia dentro.

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