Capítulo Dezessete

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Na manhã seguinte, o barulho dos talheres ecoavam na minha cabeça enquanto papai tomava um mingau de aveia, feito por mamãe. Anthony não estava em casa, ou seja, um milagre durante o café, que seguia absurdamente em silêncio.

— Sophia. — Papai chamou a minha atenção. — Eu conversei bastante ontem, com o Micael. — Franziu as sobrancelhas. — Ele é um garoto muito bom! — Papai não era de dar críticas positivas.

— O senhor acha? — Mexi a colher dentro do meu leite, sem ter contato visual com papai.

— Você não? — Nos encaramos.

— Ele é... Gentil! Tenho muito à agradecer o que ele fez ontem, por mim. — Engoli seco. Eu não tinha nada à agradecer ele por ontem. Chorei duas vezes debaixo do chuveiro, quando lavei o machucado que se formou em minhas costas, graças ao asfalto.

— Eu também tenho à agradecer. Você podia ter morrido! — Papai ficou um pouco bravo. — E a partir de hoje você está proibida de ir na casa da senhora Johnson. — Disse por fim, terminando o seu mingau.

Eu ficaria um ótimo tempo sem pisar na casa da senhora Jonhson.

— Sim, papai. — Abaixei a cabeça.

Mamãe deu um sorriso leve no canto da boca, antes de levar a sua xícara até os lábios, provando do café fresco feito por ela. Papai arrastou a cumbuca de cerâmica para frente, dizendo com gestos que estava satisfeito. Limpou a boca com um guardanapo de papel.

— Micael nos chamou para um jantar na casa dele. — Arregalei os meus olhos e deixei de lado a colher, dentro do meu leite. — Amanhã! — Encarei o papai, que arrastou a cadeira para sair da mesa.

— Amanhã? — Fiquei surpresa com o jantar.

— Sim. Você tem algum compromisso que não possa ir ao jantar? — Soou grosso.

— Não, é que... — Balancei rápido a minha cabeça. — Que horas? — Fingi estar interessada, quando na verdade, estava com medo.

— Sete. — Papai se observou pelo espelho, limpando sua camisa social com três botões abaixo da gola. — Vai ser interessante! — Teve sua maleta em mãos, caminhando até à porta. — Carlota, não esqueça de trancar. Até mais. — Era assim que ele se despedia.

— Não irei. — Mamãe respondeu, mesmo ele não estando mais ali. — Ansiosa para o jantar? — Me empurrou de leve, rindo em seguida.

— Não sei. — Franzi meu cenho. Dei uma golada no leite quente, fazendo mamãe se impressionar um pouco.

— Ficou maluca? Isso vai queimar a sua garganta! — Tirou a caneca das minhas mãos.

Mas antes que pudesse responder, me levantei da mesa, indo embora. Não podia perder o ônibus e também, minha vida não podia parar por conta do jantar.

Dei um beijo em mamãe e sai, direto para o ponto. Por um milagre eu estava no horário e o ônibus havia me pegado, sem ter feito eu me atrasar como todas às vezes.

Quando cheguei, não encontrei Tina e muito menos Amélie na porta, como ficavam antigamente. Fiquei de cabeça baixa até passar o portão, caminhando pelo pátio e subindo às escadas.

Era ruim ficar brigada com alguém, ainda mais quando esse alguém é nem mais e nem menos do que Tina, seguido de Amélie. Senti uma pontada no coração e meus olhos encherem d'água quando avistei as duas, conversando em seus lugares e me observando sentar, do outro lado da sala.

Engoli o choro e sentei ao lado da janela, mas não prestei a atenção na aula. Minha cabeça estava muito cheia para acumular revisões que eu já sabia.

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