Capítulo Vinte e Nove

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Mamãe estava andando de um lado para o outro feito uma doida. Micael rasgava um copo descartável enquanto estava sentado na poltrona de espera, e eu, fiquei arrumando um jeito de colocar na minha cabeça que o papai iria ficar bem.

— Sua tia está em casa. Eu deixei uma massa congelada, eles devem estar jantando! — Mamãe deu um sorriso leve mas voltou a ficar preocupada. — Será que já acabaram? — Encarou o enorme relógio na parede.

— Devem nos avisar, mamãe. — Tentei tranquiliza-la. — O papai vai ficar bem! Ele é forte, você não lembra? — Toquei seu ombro, alisando em seguida.

— Eu sei que ele é forte querida mas ainda sim fico preocupada. — Tocou o meu rosto.

— Ele vai ficar bem! — Beijei a testa da mamãe.

Dei uma observada em Micael que estava super atento enquanto rasgava o copo descartável, parecia um doido! Analisou os milímetros cortados com os olhos em cima do plástico, voltando à igualar os cortes até que sua obra de arte ficasse pronta.

E mais horas se passaram, nada de notícias do papai! Eu estava quase indo no centro cirúrgico chamar o médico mas é claro que barrariam a minha entrada. Não conseguia deixar o meu corpo relaxado sabendo que o papai estava sendo cortado, em uma sala cirúrgica. Mamãe estava sentindo a mesma coisa, tentando achar um jeito de relaxar, assim como eu.

— Trouxe... Macarrão instantâneo de pote. — Micael apareceu com duas embalagens de macarrão instantâneo, ambos prontos. — É a única coisa que tem naquela máquina super saudável. — Fez uma careta.

— Obrigada, querido. — Mamãe aceitou, estava com fome.

Micael me entregou o macarrão mas eu não aceitei, o que lhe fez se irritar um pouco.

— Você precisa comer, Sophia. — Soltou. — Precisa estar forte para ver o seu pai.

— Eu estou sem fome. — Fiquei cabisbaixa. — Só quero notícias dele. — Encarei Micael.

— E vai desmaiar quando o médico te fornecer alguma notícia? — Me entregou novamente o macarrão. — É melhor você comer! Precisa estar forte e bem alimentada. — Foi acolhedor.

Gostei dele estar cuidando de mim, esquecendo do copo descartável que havia rasgado por inteiro. Foi gentil! Micael estava mudando o seu jeito de ser aos poucos, me mostrando que era mais responsável do que eu pensava.

Tive a embalagem de macarrão bem quente em mãos, me preparando para comer quando senti o meu celular vibrar, no bolso da calça. Mamãe me olhou, assim como Micael.

— Algum problema? — Micael ficou sério, me assistindo retirar o celular do bolso.

— Anthony. — Menti. Não era Anthony e sim Tina!

Entreguei a embalagem à Micael que estava sério. Me levantei, saindo pelo corredor em busca de atender o celular, sem ninguém por perto.

— Você precisa parar de me ligar desse jeito, sabia?

— Oi para você também, sua grossa!

— Você está bem?

— Eu estou. Mas quero saber como estão as coisas por aí? Fui na sua casa e Anthony me contou tudo. — Anthony...

— Papai ainda está em cirurgia e viemos no convênio do Micael. — Coloquei minha mão dentro do bolso, ainda andando.

— Ele está com você?

— Sim. — Não me virei para vê-los, mesmo estando longe. Ele está sendo receptivo no momento, é estranho!

— Ele é estranho! — Tina soltou um suspiro. — Mas o que é mais estranho será a notícia que eu tenho para te dar.

— Aconteceu alguma coisa? — Me preocupei.

— Ligaram para a minha mãe, era a mãe da Amélie, desesperada. — Minha expressão ficou séria. — Parece que ela sumiu! Encontraram o celular dela perto da praça de Bordéus e então, ninguém viu mais nada.

— Que horror, Tina! E agora? — Entreabri os meus lábios. — E as buscas? A polícia está agindo nesse caso?

— Estão procurando mas não encontraram ainda. Precisam ver onde Amélie foi vista da última vez!

— Meu Deus. — Estava triste e aflita por isso. Apesar de tudo, eu tinha um sentimento forte por Amélie. — Eu não sei o que dizer, Tina. — Passei a mão no rosto.

— Eu estou igual à você, não temos o que fazer no momento. Quanto mais gente ajudar, pior fica.

— Estranho ela ter sumido nada. — Pensei. — Se ela estava perto da praça de Bordéus, então, ela deveria estar naquele barzinho que frequentava! Será? — Mordi a ponta dos dedos um pouco apreensiva.

— Acho que não. Ela parou de frequentar aquele barzinho.

— Mesmo? Eu não acredito muito na Amélie, ela sempre mentia para ir nos lugares que queria.

— Você acha que algum velho sumiu com ela?

— Eu estou pensando em tantas coisas no momento. — Fiquei em frente à porta do hospital. — Espero que encontrem ela, rápido! E qualquer notícia você pode me ligar.

— Você acabou de me dizer que eu preciso parar de ligar para você!

— Tina, você entendeu. — Revirei os olhos. — Eu fiquei aflita com esse negócio da Amélie, eu não quero que nada de mal aconteça.

— Eu também não mas o que nos resta agora é esperar. — Tina tinha razão. — Melhoras ao seu pai, qualquer coisa você me liga.

— Obrigada. — Sorri leve e desliguei a ligação.

Mas não esperava ter Micael atrás de mim, me dando um susto daqueles, onde meu celular caiu no chão, com tudo.

— Senhor. Micael! — Fechei os olhos e coloquei a mão no peito.

— Eu não sou tão feio assim. — Pegou o meu celular do chão, me entregando. — Precisava ir tão longe para falar com o Anthony?

— Aconteceu uma coisa. — Decidi contar. Ele saberia por mais rápido que fosse. — Amélie está sumida! A mãe dela ligou lá em casa e acabou de contar, estão procurando.

— Sumida? Em Bordéus? — Micael levantou uma sobrancelha.

— Eu também estou estranhando pois parece um sequestro, eu não sei dizer. — Estava bem aflita com a situação. — Pode ter acontecido...

— Sophia, eu preciso ir! — Micael me pegou de surpresa. — Eu volto assim que resolver uma coisa.

— Assim? Do nada? — Franzi o cenho.

— Eu apenas preciso ir! Avise sua mãe e diga que estarei aqui quando puder. Qualquer coisa você pode me ligar. — Me deu um beijo rápido nos lábios, passando por mim e saindo.

Não consegui falar pois sua reação foi rápida demais. Vi Micael saindo como um tiro do hospital, sumindo para fora. Tentei processar o que havia acontecido e lembrei que tinha uma companhia à fazer: mamãe.

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