Capítulo Sessenta e Um

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O clima conturbado estava acontecendo na cozinha da minha casa. De um lado, Francis e Tina no maior amor. Do outro, Micael e eu tentando raciocinar o que estava acontecendo, como havia acontecido e o por quê.

— Eu não sabia que você era amiga da Tina. — Francis apontou para mim, de um jeito engraçado.

— Somos melhores amigas, eu já te contei isso umas duzentas vezes. — Tina soltou um riso e recebeu um cheiro no pescoço.

— Há tantas mulheres no mundo e você escolheu justo a Tina? — Micael cruzou os braços.

— E qual o problema, Micael? Você está incomodado do Francis estar namorando uma gostosa como eu? — Tina balançou a cabeça como uma bonequinha havaiana de carro.

— Gostosa. — Riu pelo nariz. — Desde quando você é gostosa? Os homens que você transou disseram isso para não te deixar constrangida?

— Micael, menos. — Toquei o seu braço. — Acho que devemos aceitar o fato do Francis estar apaixonado pela Tina, de um jeito... Diferente. — Arqueei uma sobrancelha e senti estranheza quando os dois deram um beijo de língua, bem nojento.

— Eu gostaria de respeito dentro da minha casa, Francis. — Micael coçou a garganta, falando do beijo.

— É um pouco impossível. Eu amo essa mulher! — Os dois se entreolharam. Tina estava realmente apaixonada.

— Estamos vendo datas para um casamento. — Tina disse, empolgada.

— Casamento? — Fiquei surpresa. — Não era você que nunca iria se casar?

— Imprevistos acontecem, Sophia. — Ela ainda tinha um sorriso nos lábios. — Você casou com um monstro e eu ainda sigo ao seu lado.

— Tina, você já foi se foder hoje? — Micael cutucou. Os dois se fuzilaram com o olhar.

— Gente, por favor! — Parei aquela discussão de criança. — Vamos nos respeitar. Francis e Tina são os nossos convidados e amigos, Micael.

— Está mais para inimigo. — Micael ficou bravo, balançando a perna de segundo em segundo. — Como foi a sua desastrosa viagem, Francis?

— Minha viagem foi ótima! Como foram as coisas por aqui?

— Levando ao fato os acontecimentos terríveis que aconteceram que não são da sua conta. A vernissage foi ótima! — Micael soou irônico. — Vendi quase todos os quadros e quase bati em um homem, que estava dando em cima de Sophia.

— Sempre acontecendo momentos incríveis quando eu estou longe. — Francis soltou um risinho.

— Sophia, eu quero falar com você. — Tina se levantou da cadeira, Francis nos observou.

— Está tudo bem, meu raio de sol? — Raio de sol? Pelo amor.

— Tudo, meu amor! — Tina depositou um beijo rápido em Francis. — Eu volto já.

— Tudo bem.

Me levantei, indo junto com Tina. Ficamos na sala enquanto Francis jogava conversa fora com Micael.

— Certo. Que porra aconteceu? — Foi direto ao assunto.

— O Micael me bateu e eu fugi. Só não sabia que o pai dele iria me encontrar.

— O pai dele te encontrou? Puta merda! — Tina ficou boquiaberta. — E então? O que aconteceu?

— Eu fui parar em um lugar totalmente estranho, cheio de putas e quase fui estuprada. Enquanto minha amiga estava fazendo uma viagem de trailer com o seu grande amor! — Fui sarcástica, gesticulando arco íris e corações. Tina revirou os olhos.

— Sophia, eu não posso parar a minha vida para cuidar da sua. Entendeu? — Foi certeira. — Você casou, você decidiu sair da casa dos seus pais e decidiu se enfiar nessa porra de vida. Eu não tenho culpa!

— Você poderia ter me ajudado, sabia?

— E eu iria fazer o que? Te salvar e ficar presa junto com você? Me poupe. — Se estressou, assim como eu.

— Você poderia pelo menos ter impedido muita coisa, mas não, estava viajando e esqueceu da vida.

— Não posso mais ser feliz?

— Claro que pode! Só estou dizendo que eu precisava da sua ajuda, Tina. E você não estava lá para me ajudar.

— Sophia, qual foi? — Riu incrédula. — Eu não posso viver a sua vida. Eu não posso! Francis é um homem bom, me trata como eu devo ser tratada.

— Está querendo dizer algo do meu casamento?

— Não posso fazer nada se o seu casamento é uma merda. — Soltou.

Fiquei encarando Tina até Micael aparecer, junto com Francis. Observaram o clima que estava na sala, não dizendo nada.

— Está tudo bem por aqui? — Francis ficou ao lado de Tina, tocando o seu ombro.

— Perfeitamente bem, meu amor. — Sorriu para o namorado. — Sophia estava me dizendo o quanto está feliz com a querida vida de casada dela!

— Você vai querer jogar a merda no ventilador, Tina? — Bati de frente, cerrando os meus dentes. Micael franziu o cenho.

— O que aconteceu? — Decidiu perguntar.

— Nada que você não precise saber. — Fez a mesma resposta que Micael deu à Francis, minutos atrás. — Só estava dizendo à Sophia que agora eu preciso ser feliz, viver a minha vida.

— Faça o que você quiser com a sua vida, Tina! E muito obrigada pelas coisas que você anda fazendo. — Me irritei. Micael me encarou, querendo saber de algo mais.

— Acho que foi uma péssima ideia termos vindo aqui. — Francis sentiu o clima pesado na sala. — Voltamos outra hora para rever alguns negócios.

— Negócios? — Questionei Micael que me encarou, querendo saber da discussão minha com Tina.

— Até mais! — Francis se despediu. Tina foi atrás, ficando em silêncio.

Fecharam a porta e saíram. Micael cruzou os braços novamente, esperando uma explicação digna.

— Estavam brigando por que?

— Por nada. — Mantive a calma.

— Vai mentir para mim de novo?

— Não vou mentir, só não tem nada para contar. — Me embolei, não conseguia disfarçar muito.

Micael ainda me encarava. Não iria conseguir esconder, eu deveria contar.

— Eu liguei para Tina quando havia fugido. Queria que ela me ajudasse, mas ela não podia ajudar porque estava viajando.

— Você queria que ela te ajudasse a sair daquele lugar?

— O mínimo. — Bufei. — Foi uma discussão boba, não valeu à pena.

— Eu acho que você deveria desgrudar um pouco da Tina. — Micael me abraçou de lado, nos sentamos no sofá. — Eu sei que ela é sua melhor amiga mas, ela não vai mais ligar para você.

— Você falando tão calmo da Tina? O que está acontecendo? — Achei graça.

— Sophia, ela precisa seguir o caminho dela! Eu pensei que não teria mais a Tina na minha vida, só que eu estava errado. Quem diria que ela iria namorar o Francis?

— Essa também me pegou! — Remexi os meus lábios. — E você e Francis? O que são esses negócios?

Micael coçou o maxilar, sorriu amarelo para mim, um pouco sem graça.

— O que são esses negócios? — Repeti a pergunta.

— Ainda não posso dizer mas creio que você irá adorar! — Beijou a minha testa e saiu.

Fiquei pensativa até a hora do almoço, deixando Micael trabalhar em seus quadros em paz.

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