Capítulo Sessenta e Quatro

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— Você precisa disso agora?

Parecia um diálogo de traficante, mas eu só estava querendo um teste de gravidez. Passei minhas mãos em meu rosto, aflita, com medo da resposta e da reação de Micael.

— É, Tina. Agora! — Fiquei um pouco sem paciência. — Você consegue me trazer?

— E por que você não vai comprar?

— Porque você conhece o meu marido. — Mordi a ponta dos dedos. — Eu te ligo depois, ele está vindo. — Desliguei a ligação quando escutei os passos pesados de Micael, vindo em minha direção.

Tinha um pano de prato nos ombros e uma espátula na mão direita. Franziu o cenho quando me viu.

— Com quem estava falando?

— Tina. — Dessa vez eu não menti. — Ela esqueceu um kit de sex shop aqui. — Micael levantou uma sobrancelha.

— Kit de sex shop? Interessante. — Deu de ombros, saindo novamente para à cozinha. — Podíamos usar antes dela!

— Melhor não. — Soltei um risinho mas prendi minha respiração ao ver o jantar posto. Estava uma delícia mas aquilo me faria vomitar tudo de uma vez. — Querido, eu posso me deitar?

— Se deitar? De novo? — Micael ficou com uma expressão séria. — Você dormiu a tarde inteira, impossível estar com sono. — Sentou em seu lugar, usando a espátula para pegar algo dentro de um molho. — Sente-se e jante comigo! — Ordenou.

— Não estou com fome.

— Você ficou o dia inteiro sem comer, Sophia.

— Mas eu não estou com fome. — Meu estômago dava sinais...

— Certo. — Micael bateu as mãos na mesa, se levantando. — Se troque, vou te levar ao médico.

— MÉDICO? NÃO! — Corri atrás dele mas logo parei, quando me dei conta de que estava correndo. — Eu estou bem. Você acha que eu estou doente?

— Está dormindo demais, não quer comer... O que falta para você desmaiar na minha frente? — Parou na ponta da escada, cruzando os braços.

— Sabe o que é? — Procurei mentiras em minha mente. — Eu acho que estou aflita com a nossa viagem. Da vernissage! — Arrumei uma ótima desculpa.

— Querida, a vernissage é só no mês que vem.

— Nova Iorque. — Rolei os olhos e cerrei os dentes. — Você já foi para Nova Iorque?

— Diversas vezes. — Micael me deu às costas, subiu as escadas e eu o segui. — Essa sua desculpa não está colando comigo. Eu quero saber o por quê de você estar assim! — Paramos no corredor.

— Eu já disse que estou ansiosa com a viagem. — Pausei. — Eu nunca fui à Nova Iorque.

— Entendi. — Micael cansou de achar explicações. — Agora se troque, vamos ao médico.

— Eu não vou. — Protestei em frente à porta do quarto. — Irei comer algumas torradas e me deitar.

— Ah, torradas? — Micael achou graça. — É alguma dieta da sua cabeça ou o que?

— Está me chamando de gorda? — Coloquei as mãos na cintura.

— Não, só estou achando motivos para você não querer comer. Vai ficar anêmica desse jeito! — Ficou irritado, resmungando sozinho e descendo as escadas.

Olhei pelo parapeito quando escutei a campainha. Vi Micael abrir a porta e dar de cara com Tina, sem Francis.

— Oi, querido amigo. — Empurrou Micael, entrando.

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