Capítulo Setenta e Três

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Tive alta à noite, quando uma enfermeira loira me fez um questionário, tirando o meu acesso e pedindo para que eu preenchesse uma folha rosa com frases intencionais para um aborto! Eu tinha acabado de perder meus dois filhos e estava sem cabeça para nenhuma piada no momento.

Durante o caminho, Micael fez questão de parar em um restaurante de fast-food, pedindo lanches com molho picante, como se minha saída da clínica fosse uma festa à ele. Já que, não teríamos mais filhos.

— Eu deveria ter encomendado canapés! — Micael bateu a porta do carro, sorridente. — Você está bem, querida? — Caminhamos até à porta de entrada.

— Você ainda ousa em perguntar se eu estou bem? — Estava com ódio de Micael.

— Sophia, não me leve à mal. — Micael passou pela porta, abrindo os braços. — Eu fiz isso para o nosso próprio bem!

— Bem? — Me virei, achando alguma força que ainda estivesse em meu corpo. — Você teve coragem de MATAR os seus filhos! MATAR! — Fiquei trêmula. — Que tipo de gente mata os próprios filhos?

— Ainda eram fetos.

— Essa vai ser a sua desculpa? — Cruzei os braços. — Vai dizer que eram fetos quando for para o inferno?

— Ah, pelo amor de Deus. — Estava na cozinha, abriu a geladeira. — Como você quer ter uma vida estável sendo que iríamos ter dois filhos? — Buscou uma garrafa d'água com gás. — Não era você que queria estudar? Fazer faculdade?

— Incrível como você está achando desculpas para algo que não é normal! — Passei a mão em meu rosto. — Você matou os nossos filhos, isso nunca vai ser normal Micael! — Me irritei.

— Para mim é absolutamente normal. — Deu de ombros. — Vamos viver juntos! Felizes! Podemos viajar o mundo inteiro ainda e quem sabe no futuro, quando tivermos uns... Quarenta anos? Podemos tentar um bebê, quem sabe.

— Sério, vá se foder. — Dei às costas, subindo as escadas.

Escutamos a campanha tocar aquela hora da noite. Estava no quinto degrau quando escutei Micael abrir, porém, não sabia que ele iria levar tapas e mais tapas, seguidos de chutes.

— SEU CAPETA! — Tina deu socos na barriga de Micael. — COMO VOCÊ OUSA EM FAZER ISSO COM ELA? VOCÊ MATOU OS BEBÊS, SEU DOENTE DE MERDA! — Deu um chute em sua canela, fazendo Micael grunhir.

— Tina, Meu Deus! — Desci as escadas correndo, segurando os seus braços.

— EU VOU MATAR ESSE INFELIZ! VOCÊ FAZ PESO NA TERRA SEU FILHO DA PUTA! — Chutou as bolas de Micael que me fizeram arrepiar por inteira.

Tina parou quando vimos o mesmo se deitar no chão, rolando de um lado para o outro. Fiz uma careta mas não ousei em ajudá-lo. Ele mereceu!

— Meu Deus, Tina. — Toquei os seus braços.

— Meus Deus digo eu. Como você está? — Ela tocou o meu rosto, me deu um abraço apertado. — Eu sinto muito, Sophia!

Não consegui respondê-la já que estava aos prantos. Depois da clínica, me segurei muito para não chorar durante o caminho, já que Micael decidiu fazer aquele dia como se fosse uma festa importante. Eu precisava de alguém para chorar e contar como eu estava me sentindo, eu precisava que alguém me escutasse e me entendesse.

— Eu quero sair daqui! — Sussurrei em seu ouvido. Tina assentiu.

— Vai me prometer que não irá voltar para essa espelunca? — Segurou o meu rosto.

— Eu quero sair daqui! Eu não quero mais viver nesse inferno. — Neguei, ainda aos prantos. — Ele matou o meu bebê. Os meus bebês! — Corrigi.

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