Capítulo Trinta

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— Senhora Abrahão? A cirurgia foi um sucesso!

O médico que fez a cirurgia nos avisou, me dando um alívio imenso. Mamãe chorou de alegria, me dando um abraço apertado daqueles e perguntando ao médico quando o papai poderia receber visitas no quarto. Ele disse que após cinco horas, papai estaria no quarto mas ainda sim sedado. As visitas começariam amanhã de manhã, caso ele não se sentisse tão cansado.

— Graças ao bom Deus, doutor. Meu marido está vivo! — Mamãe estava muito emocionada. — Que Deus o abençoe imensamente. — Juntou as mãos, desacreditada com a notícia. — Eu orei tanto mas tanto que Deus ouviu às minhas preces. — Sorriu.

— Que bom que deu tudo certo, senhora Abrahão. O seu marido irá ficar bem! — O médico assentiu. — Com licença. — Deu às costas, saindo.

— Graças a Deus, meu amor! Graças a Deus! — Mamãe me abraçou, dando diversos beijos na minha cabeça. — A cirurgia foi um sucesso e logo estaremos em casa, todos juntos de novo! — Estava bem feliz.

Eu também estava feliz mas não conseguia tirar da minha cabeça onde Amélie poderia estar.

— Aconteceu alguma coisa? — Mamãe percebeu que eu estava diferente.

— Aconteceu sim, mamãe. — Tive um olhar triste à ela. — Amélie sumiu!

— Amélie? — Pausou. — Sua amiga Amélie?

— Sim, ela mesma. — Engoli seco. — Acharam o celular dela, perto da praça de Bordéus. — Meus olhos lacrimejaram. — Eu estou com medo, mamãe! — Abracei mamãe, forte, tentando tirar aquela sensação ruim que eu estava sentindo.

— Querida, não fique assim. — Alisou os meus cabelos. — Eu sei que é um momento delicado para nós e para a família, mas não há o que fazer!

— E se fôssemos atrás? — Encarei a mamãe. — Podíamos ficar em grupo e procurar, talvez, eu não sei. — Dei opções malucas para aquela altura do campeonato.

— Sophia, não há o que fazer! Acredito que a polícia deva estar atrás disso. Não podemos fazer mais nada!

— Podemos salvar ela, mamãe. — Estava quase implorando.

— Sophia, é perigoso! Não há nada que possamos fazer nesse momento. — Mamãe estava ficando um pouco brava. — A única coisa que podemos fazer é ler um salmo da Bíblia e pedir para que Deus guarde ela, onde estiver. Ela vai ser encontrada!

Entendia a mamãe ser bastante religiosa em momentos como esse, mas, de certa forma me irritou um pouco. Eu estava preocupada com a possibilidade de Amélie estar até morta, porém, não podia ir sozinha atrás de respostas, eu também me daria mal.

Fiquei um pouco com ela antes de pedir um táxi, indo embora. Já estava bem tarde para ir embora mas não queria passar a noite no hospital. Dei o endereço de Tina para o taxista, que me deixou em sua porta em trinta minutos.

Estava sem coragem de dormir em casa, mesmo com tudo acontecendo.

— Pensei que não fosse dormir aqui. — Tina abriu a porta, ficando surpresa com a minha visita. — Seu pai está bem?

— Ele está repousando, a cirurgia foi bem! — Sorri leve, Tina fez o mesmo.

— Mesmo ele me odiando, ainda bem que ele não morreu. — O mesmo humor de Micael. Impressionante! — Eu estava revirando a cama, não consigo dormir.

— Foi mal pela hora, eu tinha que vir para cá. — Soltei um suspiro. — Nada de notícias?

— Nenhuma. A mãe dela não disse mais nada e minha mãe não deixou eu sair daqui, para ajudar. — Tina fez uma careta. — Como você conseguiu vir para cá? O Micael não disse nada? — Levantou uma sobrancelha.

— O Micael saiu igual à um doido quando eu disse que Amélie estava sumida. — Me lembrei do acontecido. — Parecia até que... Sei lá, ele sabia de alguma coisa.

Tina ficou pensando, bem séria.

— Pera. — Pausou. — Ele foi embora quando você contou que a Amélie estava sumida?

— Sim.

— Você tentou ligar para ele?

— Ainda não, na verdade eu não tive tempo para isso. — Tateei o bolso da minha calça mas Tina me parou, de novo.

— Estranho! Mas é melhor não ligar, eu não confio muito nesse cara. — Mordeu a ponta dos dedos.

— Eu também acho isso um detalhe estranho mas ele não conhecia a Amélie, nesse ponto.

— Sophia, ele não gostava dela! Ele sempre falou mal da Amélie desde o dia em que você conheceu ele.

— Por um propósito!

— Sim, eu entendo esse propósito mas é a Amélie. A nossa querida Amélie que sai com velhos! — Tina debochou.

— Você acha que o Micael pode estar envolvido nisso? — Meu coração ficou apertado.

— Olha, eu não duvido de mais nada da capacidade dele. — Tina levantou os ombros. — Pode ser que sim, pode ser que seja alguma coincidência, não sei.

Andei pela sala de Tina, pensativa. Minha cabeça estava fervilhando para saber aonde Micael poderia estar.

— Eu vou ligar para ele! — Encarei Tina, com toda a decisão do mundo.

— Ficou maluca? — Ela correu até mim. — Ele é doido! E se ele tiver algum rastreador no seu celular? Babou o esconderijo.

— Ele não seria capaz.

— Realmente, você não conhece ele como eu achava que deveria conhecer. — Tina negou com a cabeça.

— Ok, eu não vou ligar. — Desisti. — Mas agora quero saber o por quê dele ter ido embora.

— Quando ele chegar você pergunta tudo para ele, mas agora, temos que focar na Amélie. — Saiu andando, eu a segui até o quarto. — Eu tentei entrar no iCloud dela para saber de alguma informação mas ela desativou, aquela piranha! — Estávamos subindo as escadas.

— Nem mesmo o localizador?

— Nada! Amélie desativa tudo quando ganha algo novo, justamente para a mãe dela não saber aonde ela está. — Isso era verdade! Ela sempre fazia esse tipo de coisa quando ganhava um celular novo. Os encontros com velhos não ganhavam nenhum vestígio, pois, sua mãe poderia rastreia-la com a localização.

Entramos no quarto de Tina, que como sempre, estava desarrumado.

— Tina. — Tive sua atenção. — Você acha que...

— CRUZES! CLARO QUE NÃO! — Tina se remexeu toda, desviando os pensamentos ruins. — Ela só sumiu! Ela deve estar por aí transando como uma doente viciada em sexo, eu tenho certeza disso! — Tina estava aflita, pela primeira vez pude perceber.

— Eu estou com medo. — Nos encaramos. — Medo do que possam ter feito com ela!

— Sophia, não fizeram nada com ela. Entendeu? Para de jogar energia ruim! Eles vão encontrá-la! — Tina juntou as mãos. — Eles vão encontrá-la!

Repetiu a frase como a mamãe, orando por dentro. Não tínhamos o que fazer mas, eu estava quase indo atrás de Amélie e Micael para saber dessa situação, se ambos tinham algo relacionado à isso.

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