O dia não havia começado muito bem para mim.Estava agachada em frente ao vaso sanitário do banheiro social, fazendo de tudo para não acordar Micael, que estava em sono profundo. O ácido do meu estômago estava acabando comigo, já que não havia comido na noite anterior. Minhas convulsões estavam indo de mal à pior, eu não aguentava mais vomitar.
Segurei nas bordas do vaso quando vi algo passando no corredor, parando em frente à porta do banheiro. Estava com uma calça xadrez, descalço e com uma blusa de manga velha. Me observava com desânimo, sem reação.
— Você está doente. Não está?
Micael estava parado, ainda em transe por me ver daquele jeito. Respirei fundo e fechei a tampa, recuperando o meu fôlego e força.
— Acho que sim. — Estava pálida e gelada.
— Eu falei que deveríamos ir ao hospital. — Entrou no banheiro, se agachando junto comigo.
Começou a retirar o meu pijama, sem dizer nada.
— O que está fazendo? — Fiquei sem forças para responder. Estava muito fraca!
— Dando um banho em você! Vamos ir ao hospital. — Disse sério, me levantando pelo braço e me colocando debaixo da ducha.
Eu não tinha forças para discutir ou mentir. De um jeito ou de outro, Micael descobriria cedo ou tarde. Eu descobriria cedo ou tarde, mas não tinha dúvidas de que estava grávida.
Quando voltei ao quarto, me sentei na cama enquanto Micael escolhia um vestido solto, me vestindo e penteando os meus cabelos. Descemos às escadas e entramos no carro, indo em direção ao hospital.
___________________________________
— Sophia Borges, é você?
O médico bem educado nos atendeu. Micael levantou primeiro, me ajudando. Entramos na sala juntos, eu já estava morrendo naquele instante.
— Então Sophia, o que você me conta? — Foi simpático ao ler minha ficha, colocando a prancheta de volta na mesa. Juntou as mãos e nos encarou.
— Ela não quer comer, está dormindo demais, cansada demais e hoje acordou vomitando. — Micael se prontificou em dizer. — Gripe ou câncer?
O médico soltou uma risada gostosa, balançando a cabeça em seguida. Quando tivemos contato visual, ele viu minha expressão de medo. Deveria ter entendido.
— Senhor Borges, eu gostaria de fazer esse exame sem a sua presença. — Disse calmo. — Ordens do hospital! Não posso ficar com mais de duas pessoas no ambiente. — Apontou para uma placa em cima dele, com um aviso de protocolo. Micael queria resmungar mas preferiu sair em silêncio.
— Vai ficar tudo bem! Estarei lá fora. — Beijou minha testa e saiu, batendo a porta.
Respirei aliviada ao médico, que entendeu tudo.
— Você está atrasada há quantos dias? — Buscou mais algumas folhas.
— Eu não sei. — Eu não havia me ligado nesse detalhe. — Mas eu tenho cem por cento de certeza!
— Eu preciso que você faça um exame para termos total certeza! Depois, você precisa voltar ao hospital para o encaminhamento de um obstetra.
Aquilo me fez engolir seco. Mesmo não sabendo da resposta, eu já deveria estar preparada.
— Onde eu faço esse exame?
— No laboratório do hospital. É simples! Se chama Beta HCG. Você já ouviu falar?
O voz do médico ecoou na minha cabeça. Parecia que eu estava drogada ou algo do tipo. Franzi meu cenho quando ele me chamou, diversas vezes, me acordando do submundo onde eu estava passeando.
— Sophia? Está tudo bem? — Acenou as mãos sob os meus olhos, me acordando.
— É, sim. Sim, está tudo bem. — Respirei fundo. — Irei fazer o exame.
— Ótimo! Eu vou te dar essa guia aqui. — Me entregou uma folha. — E essa será a guia que vamos deixar em segredo! — Piscou para mim, sorrindo leve.
Tinha uma guia para o exame e uma receita médica: gripe.
Achei graça quando dobrei os papéis, lembrando de ler o resto que estava escrito.— Obrigada, doutor.
— Espero você aqui amanhã, para abrirmos o resultado. — Me deixou mais tranquila.
Acenei e sorri, me levantando e saindo da sua sala. Micael estava lá fora, balançando as pernas enquanto estava sentado na cadeira. Se levantou rápido quando me viu, quase voando em cima de mim.
— E então, o que ele disse? — Estava bem preocupado.
— Aqui está. — Entreguei o papel falso à ele. Micael abriu rápido, lendo tudo em segundos.
— EU NÃO DISSE! Gripe. — Soltou com razão. — Ele ainda riu da minha cara quando eu disse que era gripe.
— É, você venceu. É uma gripe! — Andamos pelo corredor.
— Você precisa tomar soro, ele receitou no papel. — Micael ainda estava lendo. — Se você está com gripe, deveria ter coriza e febre. Você não acha? — Franziu o cenho.
Parei por segundos mas continuei a andar. Tive a mão de Micael em minha testa, aferindo a minha temperatura.
— O que está fazendo? — Questionei.
— Você está meio quente. Deve ser a febre! — Micael estava bem preocupado. — Vou te esperar aqui fora. Provavelmente você não pode entrar com outra pessoa na sala de medicação.
— Tem razão. — Comprei sua neurose em relação à doença falsa. — Me espere aqui, eu já volto!
Andei pelos corredores do hospital até achar alguma enfermeira, que me ajudasse com os papéis de guia para o exame.
Fomos ao subsolo em uma sala totalmente fria, com cheiro de éter e equipamentos para coleta de sangue. Me sentei na poltrona estofada, colocando meu braço no apoio e virando o meu rosto para não assistir o que iria acontecer. Me estremeci ao sentir a picada da agulha e logo em seguida o algodão.
— Prontinho! — A enfermeira escreveu algo na minha guia, deixando em um porta-papel, que estava ao lado da porta.
— Quanto tempo demora para ficar pronto?
— Geralmente em um dia útil. Vamos te ligar para avisar!
Arregalei os meus olhos.
— Não, não. É... Eu prefiro vir aqui, é melhor!
— Ok, então... — A enfermeira ficou um pouco sem graça. — Sugiro que você venha depois das duas.
— Certo, obrigada. — Sai às pressas.
Nunca pensei que ficaria ansiosa para o próximo dia chegar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sete Pecados
RomanceSophia é uma jovem que convive com pais extremamente conservadores. Vivendo sua vida às escondidas, ela acaba conhecendo Micael, onde irá descobrir o que é viver às escondidas de verdade! Com ele, Sophia irá saber o que é sedução, pecado, sexo e ou...