Capítulo Cinquenta e Um

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Fui caminhar de manhã, enquanto Micael estava sedado por conta de seus remédios. Preparei o café da manhã e o acordei para a outra dose de remédio, o mesmo chiou mas a dor havia melhorado uns cinquenta porcento, ele mesmo dizia. Tanto que conseguiu terminar o seu quadro, para a vernissage da semana que vem.

— Está lindo! — Coloquei as mãos no bolso da minha jardineira e observei o quadro, agora pronto.

Algumas flores e linhas expressivas percorriam a tela, com cores quentes e... Tristes? Não conseguia me expressar muito bem nas obras de Micael. Eu não conseguia entender!

— Obrigado. — Ele também observou o que havia feito. — Você acha que alguém pode comprar? — Pediu uma opinião sincera.

— Eu não sei mas acredito que sim. — Mexi os ombros. — Você vai vender por quanto?

— Depende do valor. — Micael coçou a nuca. — Mas venderia por oitocentos mil dólares.

— Oitocentos mil dólares? — Arregalei os meus olhos. — Alguém compraria isso por oitocentos mil dólares? — Apontei para o quadro.

Micael me fuzilou com o olhar, havia extrapolado no comentário.

— Querido, é uma obra marcante mas acho que ninguém compraria isso por oitocentos mil dólares. — Refiz o meu comentário. — É muito dinheiro!

— Você realmente não sabe o que é muito dinheiro. — Micael riu consigo. — Mas eu entendo o seu ponto de vista. Oitocentos mil dólares para você é muito dinheiro, para mim não é nada. — Soou irônico, respondendo o meu comentário sobre sua obra de arte.

— Certo. — Juntei minhas mãos e suspirei. — Eu vou fazer alguma coisa da minha vida.

— Folhear jornais de empregos? Hum. — Micael estava olhando a porta de vidro, parado.

— Você se incomoda com isso?

— Você se incomoda de não trabalhar? — Virou para me encarar.

— Micael, eu quero fazer alguma coisa. — Fui sincera. — Eu não aguento ficar trancada aqui com você, aturando a sua grosseria. Essa é a verdade!

— Ah, então eu sou grosso? — Riu incrédulo. — Você diz como se passasse fome ou algo do tipo.

— Eu só estou tentando dizer que não quero passar todo o tempo olhando para esses quadros, enquanto você é grosso ou falta com educação.

— E você quer fazer o que? — Cruzou os braços. — Quer estudar? Quer um emprego meia-boca em Bordéus? Limpar pratos ou banheiros sujos de vômito? É isso que você quer?

— Eu quero me ocupar com alguma coisa, Micael. Só isso! — Rolei os meus olhos. — Eu sinto que ficarei trancada aqui.

— Adote um gato. — Micael andou até à mesinha de centro, buscou o maço aberto de cigarro. — Está sozinha? Adote um gato.

— Essa casa precisa de mais esperança! Cor! — Enfatizei as palavras.

— Podemos pintar ela depois da vernissage, simples. — Acendeu um cigarro.

— Não é disso que eu estou falando, Micael. — Cerrei meus olhos, cansada de explicar.

Ele tragou o cigarro enquanto observava as minhas feições, como se estivesse analisando as mensagens subliminares que eu queria lhe dizer.

— Não vou te dar um filho. — Soltou a fumaça.

Concordei plenamente, sentindo raiva.

— Alguém aqui falou em filho? — Tentei disfarçar.

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