Capítulo Quarenta e Um

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Fiquei a tarde toda solucionando lugares para colocar a minha desastrosa mudança. Mamãe encaixotou minhas roupas, acessórios e até trajes íntimos em caixas preparadas, com uma etiqueta escrito "Casa Nova Sophia e Micael".
Alguns móveis do Micael eram rústicos, o cheiro de madeira maciça estava fazendo meu estômago se embrulhar um pouco, mas, a boa notícia é que consegui arrumar todas as roupas no cabide, junto com as dele, assim como calcinhas, sutiãs, calças e meias.

Desci as escadas com duas caixas vazias em mãos, tendo cuidado para não tropicar em nenhum degrau.

— Precisa de ajuda? — Micael estava em frente à tela com algumas cores. Estava pintando.

— Eu já arrumei tudo. — Fui um pouco ignorante. — Você fez o almoço?

— Eu não cozinho. — Passou o pincel delicadamente na tela. — Mas podemos pedir comida pronta, se você quiser.

— Eu cozinho. — Respondi sem paciência, indo até à cozinha.

Deixei as caixas em cima de um balcão de mármore enquanto vasculhava os armários recheados da nossa casa. Não tinha ideia do que fazer, só tinha noção de que eu estava com muita fome depois da discussão que tivemos.

Preparei um risoto rápido que mamãe havia me ensinado no natal do ano retrasado, descongelei um frango e por fim fiz uma salada de batatas com brócolis. Não estava com uma cara boa mas ainda tinha certeza que estava gostoso.

— Micael? O almoço! — O chamei, pondo a mesa arrumada na cozinha de dentro. Não estava um clima bom para usar a mesa de fora, ao ar livre.

Já estou indo.

Não tive paciência para chamá-lo de novo. Demorou alguns minutos para aparecer, antes de se sentar comigo, foi até à pia da cozinha, lavando as mãos.

— O que é isso? — Apontou para o pirex com risoto.

— É um risoto. — Me sentei. — Se você não quiser comer, tem comida pronta no congelador. — Me servi com a salada de batatas.

— Eu disse alguma coisa de que não queria comer? — Se sentou.

— Mas pensou. — Rebati.

— Sei que você deve estar chateada por hoje mais cedo. — Buscou um prato. — Mas eu já te pedi desculpas.

— Não quero mais falar sobre isso. — Despejei o suco em meu copo.

Micael se serviu em silêncio, querendo falar algo mas com medo de falar asneira.

— Sua professora vem amanhã. — Puxou assunto. — Você tem quatro aulas para ganhar o diploma de formanda.

— Como sabe que eu tenho só quatro aulas? — O encarei.

— Porque eu perguntei. — Se ajeitou na cadeira. — Não vou ficar pagando uma professora para te dar aulas particulares, você consegue ser bem mais inteligente do que isso.

— Obrigada por você pensar assim. — Respondi irônica.

— De nada. — Tomou um gole do suco. — Vamos viajar no final de semana! — Me pegou de surpresa.

— Viajar? Para onde?

— Eu gostei de Elba. Seu pai me emprestou a chave do sobrado. — Contou. — Vamos relaxar um pouco, curtir a nossa lua de mel. — Sorriu leve.

— Que milagre que você tenha gostado de Elba. — Retruquei baixo.

— O que disse?

— Nada. — Esbocei um sorriso forçado. — Vamos conseguir curtir mais a cidade, o sobrado, as praias. — Tentei imaginar que seria uma viagem ótima. — Sem aquele povo todo nos atrapalhando.

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