Capítulo Noventa e Quatro

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— Ele falou com você?

Tina e eu estávamos no supermercado, ela empurrava o carrinho com besteiras, verificando as prateleiras de chocolate.

— Ele está desconfiado. — Pausei.

— Você e Alexander? — Jogou quatro barras dentro do carrinho.

— Sim. — Rolei os olhos. — Eu não quero fazer isso mas serei obrigada.

— Sophia, é um milhão! Eu daria minha bunda com transmissão ao vivo por um milhão. — Voltou a empurrar o carrinho. — Você vai viver feliz, longe daqui, dá para criar o seu bebê sossegada.

— Eu não quero sair de Bordéus, Tina! — Parei no meio do caminho.

Tina teve sua atenção em mim, já que agora, havia começado a chorar.

— Meus pais estão aqui! Minha vida está aqui! Você está aqui!

— Então você prefere morrer ao invés de seguir sua vida com o seu marido pinel da cabeça? — Arqueou uma sobrancelha.

— Não quero viver isolada.

— Sophia, você casou com Micael Borges. É a mesma coisa que dar um tiro na própria cabeça! — Fomos ao corredor de produtos higiênicos.

Tina adentrou o corredor junto comigo, paramos em frente dos diversos absorventes, com marcas diferentes.

— Você tem preferência em algum? — Encarei ela, que estava pensativa.

— Sei lá. — Tina ainda estava em transe, olhando a prateleira.

— Como assim, sei lá? — Achei graça.

Tina esticou o braço para a prateleira do lado, colocando dois testes de gravidez dentro do carrinho. Arregalei meus olhos e abri meus lábios para dizer alguma coisa.

— Não diga nada, por favor. — Voltou a empurrar o carrinho, ainda pensativa.

— É por isso que você está comendo como um dragão! — Fiquei incrédula. — Está grávida!

— Não, eu não estou grávida. — Ficou brava. — Só estou levando os testes para essa sombra sair da minha cabeça.

— Faz tempo que você está atrasada?

Tina não me respondeu, preferiu seguir o caminho para o caixa, calada.

— Precisamos voltar! — Ficamos na fila preferencial.

— Tina, não foge do assunto. — Toquei seu braço. — Se você estiver grávida...

— Sophia, qual foi? Você nunca teve um susto na vida? — Se irritou. — Eu só quero ter certeza de que não estou grávida, porquê eu não estou grávida!

— E se você estiver?

— Irei abortar, como o seu marido que levou você em um médico meia boca clandestino. — Soltou, sem medir o que estava falando. — Soph, me desculpa...

— Sério, eu cansei! — Rendi minhas mãos, saindo de perto. Tina correu para me seguir, largando o carrinho.

— Sophia, foi uma brincadeira de humor negro. — Tentou se explicar. — Você sabe que eu sou assim.

Saímos do mercado, Tina ainda me seguia.

— Engraçado que você adora fazer esse seu humor negro comigo, desde a época da escola. — Lembrei.

— Sou sua amiga e você me conhece muito bem!

— Eu sei que você não gosta do Micael, mas não dá o direito de você fazer uma piada tão ridícula com os meus filhos!

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