Fiquei andando há mais de três horas pela estrada deserta, saindo de Bordéus. Meus dedos estavam com calos e comecei a sentir sede, parando em um posto de beira com bêbados, prostitutas e safados em volta. Uma cabine telefônica com vidros quebrados estava exposta, consegui comprar um cartão na conveniência antiga com algumas moedas que estavam no bolso da minha bermuda. Disquei os números de Tina, torcendo para que ela me atendesse.— Alô?
— Graças a Deus, você atendeu. — Passei as mãos no rosto.
— Você deu sorte que no trailer tem sinal.
— Desculpa te incomodar mas eu preciso de ajuda.
— O que aconteceu?
— Eu fugi de casa, não sei aonde eu estou mas já saí de Bordéus há muito tempo. — Tentei me encontrar naquela imensidão de nada.
— COMO ASSIM VOCÊ FUGIU? POR QUE VOCÊ FUGIU?
— É uma longa história mas não posso te contar muita coisa, não tenho muito crédito. — Rolei os olhos, estava um pouco cansada. — Eu não sei o que fazer, não posso voltar para a casa!
— Eu quero saber o por quê de você ter fugido, Sophia.
— Já disse que é uma longa história.
— Eu tenho tempo! — Pausou. — Não posso te buscar pois estou muito longe de Bordéus. O máximo que posso fazer é te dar um conselho, para você voltar.
— Eu não vou voltar. — Respondi confiante. — Se eu voltar, eu vou morrer. E eu não quero morrer, eu não quero acabar como a Léa.
— Quem é Léa?
Respirei fundo para não matar Tina. Eu tinha que fazer alguma coisa, rápido.
— Eu te ligo quando der, quando eu conseguir crédito para ligar de novo.
— Sophia se cuida, por favor! Eu não quero ver você sofrendo desse jeito, tendo que fugir de casa.
— Eu também não queria.
— Te amo. Por favor, se cuida!
— Pode deixar. Também te amo. — Desliguei a ligação antes que a falta crédito desligasse por mim.
E literalmente eu estava no meio do nada. A sujeira e velhice do posto conseguiu me dar asco, quase voltando para trás e deixando aquele lugar. Eu poderia ir até à casa da mamãe mas não gostaria de escutar sermões do papai, ou um questionário para saber o por quê de estar ali, descalça e descabelada.
Estava perdida, com o pensamento em Micael, estudando em como me livraria daquela situação.
— Você está perdida?
A mulher magra e de cabelo preto me parou. Usava uma mini saia, saltos enormes, um top e tinha um piercing no umbigo. A maquiagem pesada e o jeito de falar já dizia quem era ela.
— É, mais ou menos. — Estava trêmula por conta da fome. — Onde fica esse lugar?
— Bruges. Você está em Bruges! — Pensei que seria muito longe para o tanto que eu andei. — Quem te deixou aqui?
— Eu estou fugindo do meu marido, uma longa história. — Não queria entrar em detalhes. — Preciso de uma cidade mais próxima ainda para conseguir alguma ajuda, não sei. — Coloquei as mãos no rosto, desesperada. — A entrada de Bruges fica muito longe?
— Olha, mais ou menos. — A mulher foi sincera. — É melhor ir de carro mas não temos um carro. A não ser que você faça uma rapidinha com o senhor Bernard. — Soltou um risinho e apontou com a cabeça, me mostrando o velho barrigudo que estava dormindo em uma cadeira de balanço.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sete Pecados
RomanceSophia é uma jovem que convive com pais extremamente conservadores. Vivendo sua vida às escondidas, ela acaba conhecendo Micael, onde irá descobrir o que é viver às escondidas de verdade! Com ele, Sophia irá saber o que é sedução, pecado, sexo e ou...