Apaixonado Pelo Valentão - Shameron

Escuro

Zayn Malik

Algumas pessoas tem uma idéia deturpada e romantizada de ser o vilão da história de alguém. As vezes, torcem pelo vilão, como se ele mesmo gostasse de estar naquela posição: alguns podem até gostar, mas eu odeio. E não quero pegar minha culpa e jogar em outra pessoa, me vitimizar, porém é realmente chato estar nesse papel.

Enfim, nem sei por que estou reclamando, eu me coloquei aqui. Eu mesmo e mais ninguém. Sou o causador de minha própria dor.

Foda ver seu próprio irmão não querer nem te olhar na cara, te tocar ou apenas lhe dirigir a palavra. E a quem quero enganar? Eu não gosto Nenhum pouco da Zendaya! Não sei o motivo de a ter pedido em namoro, a não ser por uma tentativa de mostrar a todos que terminar com o Liam não me afetou, que eu realmente estou bem e pronto para outra. Mas é totalmente o contrário.

Eu nunca estive pronto para relacionamento nenhum. Muito menos com o Liam.

A verdade é que sou imaturo e não tenho vergonha alguma de confessar isso a alguém, pois assumir seu erro é o primeiro passos para a melhora de seu próprio caráter. E é exatamente isso que devo fazer.

Eu amei o Liam, de verdade. Mas, eu não, eu não o amava da forma como eu entendia amar. Não um amor de namorado, apenas o amor de alguém que vê outra mais frágil e sente necessidade de proteger. E nesse sistema, acabei por envolver o desejo sexual e me convenci que tinha de namora-lo, para tê-lo.

Eu queria muito transar com o Liam, mas quando isso não veio, eu comecei a me cansar. Comecei a ver ele não apenas como uma pessoa que eu amo e sim como um corpo, um corpo que eu precisava desesperadamente ter em minha cama.

E fui ficando frustrado, perdi o respeito e o estresse me tomou. Comecei a culpar ele por não me dar o que eu queria, perdi totalmente a empatia. Nesse passo, o dia da festa chegou e eu já tinha me envolvido com a Zendaya e ali vi a oportunidade de botar para fora o que eu realmente sentia. O problema é que o que eu realmente sentia, saiu de forma destorcida pela frustração de não o conquistar e totalmente se filtros.
Vomitei uma montanha de merda em cima do garoto que jurei proteger.

Caralho! Cacete! Porcaria! Merda! Caralho!

Mexi em uma das feridas mais profundas do Liam, uma das pessoas mais sensíveis e fortes que conheci. Sim, forte. Não é todo mundo que passe por tantas situações traumáticas e continua de cabeça erguida, capaz de sorrir e inclusive, me olhar no rosto depois do que eu fiz.

Eu sou lixo, merda!

— Ei, Bin Laden! — Ouço a voz do Austin atrás de mim e prefiro não me virar para olhar.

Estou fervendo depois de saber que o Cameron pegou suspensão depois da merda que ele fez. Quem sou eu para julgar, afinal? Somos iguais em caráter, apenas temos problemas diferentes. Eu sou um lixo com as pessoas que amo e ele com todos, pelos motivos mais escrotos possíveis.

É só continuar andando, Zayn. Não caia na provocação dele e seja suspenso como o seu irmão...

— Não me ouviu, Habib? Anda causando explosões de mais e ficou surdo como sequela?

Por que todos tem de fazer piada com minha ascendência árabe?

Continuo andando em direção a minha mesa e pisos sentir os olhares de todos em minha direção. Vejo Shawn no fundo da sala me olhando, não é deboche ou graça. Algo entre compaixão e uma certa... Raiva.

Ele e o Liam são amigos.

— Me conta uma coisa — a voz de Austin está mais próxima e tenho a impressão que ele se levantou da cadeira dele, apenas para me afrontar. — Sua mãe se matou ao fazer o papel do homem-bomba?

Ah, vai se foder! Podem brincar com qualquer coisa, menos com a minha mãe.

Me viro já pronto para socar seu rosto, mas sou impedido por dois braços e em seguida um par de braços femininos começou a me ouxar para o fundo da sala. Olho para o lado de vejo Zendaya com um olhar bem preocupado e o dono das mãos masculinas, é Shawn.
Ele diz em meu ouvido:

— Quer acabar sendo expulso da escola? Seu irmão teve sorte de só ter sido suspenso por uma semana.

A razão voltou e engoli todo o ódio ao ouvir por maldito Mahone falar da minha mãe daquele jeito. Estou cansado dessa droga de escola, desses malditos alunos e todo esse sistema escolar que destrói os adolescentes e nos tornam pessoas mentalmente e emocionalmente instáveis para a vida adulta.

De onde as pessoas acham que vem a origem dos problemas psicológicos e de autoestima da nossa geração?

Dessa maldita prisão.

°°°°°

— O que queria conversar comigo, meu amor? — Zendaya se jogou na cama e pareceu tentar se sensualizar para mim.

Ignorei essa tentativa de me levar para cama, pois por mais incrível que pareça não estou com mente para isso. Apenas quero fazer o que vim fazer, que é acabar com toda essa palhaçada criada por mim mesmo. Mas ela não parece entender e vem até mim, engatinhando na cama e começa a tentar tirar minha camisa.

Passo a mão em minha cabeça e sinto meus cabelos curtos. Um novo corte que adotei para esse ano, uma forma de renovar tudo, mas que no fim não deu certo. Eu preciso renovar o meu caráter, deixar de ser a porra de um canalha, mas não consigo. É como se estivesse entranhado em mim e não posso fazer mais uma pessoa sofrer por causa disso.
Zendaya é a última vítima de minha mentiras. Eu não a amo, como não amei o Liam da forma como imaginei:

— Não estou afim. — Afasto as mãos dela, mas ela torna a tentar me tocar e eu me levanto de forma brusca. —  Eu não quero transar!

Zendaya fechou a cara e por um instante, não gostei de seu olhar. Profundo, vidrado, como se fosse o próprio mal encarnado. Ela se sentou na cama:

— Pare de me desprezar, Zayn. O que é? Voltou a sentir falta daquele garoto patético? — ela se referiu a Liam daquela forma mais uma vez e eu odeio isso. Quantas vezes já não lhe chamei de patético mentalmente... — Faça-me o favor... Aquele garoto deve estar aproveitando bastante a Suíça, ainda mais ao lado de um irmão gostoso que nem o Nick.

— Está insinuando que o Liam e o Nick tem um caso? Eles são irmãos! E no que isso interessa? Não citei o nome dele em momento nenhum, mas você sempre tem que por ele no meio de nossas conversas. — Digo e esfrego meu rosto com força

Ela se afasta levemente, dá uma volta em torno de si mesma e então quando me olha é para dizer:

— Qual outro motivo para você não querer transar comigo?

— Não estou com vontade, sem tesão nenhum. — tentei me acalmar. — Na verdade, eu estou sem tesão nenhum nessa porra de relação.

Agora ela pareceu levar uma pedrada na cabeça e quase caiu no chão. Seu rosto pareceu surpreso, assutado, irado e um pouco confuso. Lágrimas começaram a descer pelo seu rosto e eu me senti impotente, incapaz de dizer nada além do que já dito. Mas, sinceramente, não sei se quero dizer alguma coisa. Mais fácil ficar calado e observar do que tomar mais alguma decisão para pesar em minhas costas:

— O que isso quer dizer?! — ela quase gritou, sacudindo os braços e chutando a cadeira do computador. — Que eu não sou o suficiente? Que não me ama?

— Eu nunca te amei! — o desabafo saiu pelos meus lábios e eu me senti mais leve. — Para de tentar se enganar... Nós nunca nos amamos de verdade, sempre foi sexo e nada, nada além disso!

— Está terminando comigo. — Foi uma constatação.

— É o melhor, para nós dois. Assim ninguem sai mais machucado.

Dei as minhas costas, me sentindo mil vezes mais leve. Toquei a maçaneta para abrir a porta e sair daquele quarto que parecia carregar uma energia pesada, mas antes de gira-la, senti um baque em minha cabeça e me desequilibrei. Minhas pernas ficaram bambas e eu caí de barriga para cima.

Com minha visão turva, apenas vi a silhueta daquela garota se abaixando e pude sentir seus lábios no meus. Não tive força para reagir ao seu toque, apenas deixei a escuridão dominar tudo.

E tudo ficou escuro.