Paradoxo

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De onde vem esse conflito, 
que invade a minha mente, 
rasga o peito, confunde o coração? 
Amo-o com uma força 
que me faz querer seu bem, 
mas, ao mesmo tempo, 
desejo que ele caia, 
que tudo dê errado, 
que ele me mostre o pior de si.

É como se eu quisesse destruir 
essa imagem doce que construí, 
essa visão perfeita, 
tão distante da realidade, 
mas tão próxima dos meus desejos.

Quero que ele seja horrível, 
tão horrível que não reste dúvida, 
que eu possa finalmente dizer 
com convicção: 
“Não, eu não o amo.”

Mas ele continua, 
com essa doçura que me sufoca, 
com essa bondade que me mata, 
e tudo em mim se contorce 
em uma dança de ódio e amor, 
de querer e repelir, 
de desejar e temer.

Como posso querer seu mal 
e ainda assim amá-lo? 
Como posso desejar 
que ele se torne alguém desprezível, 
só para justificar 
meus sentimentos conflitantes?

Quero que ele cometa 
um erro tão grave, 
tão irreparável, 
que não haja volta, 
que me dê a liberdade 
de odiá-lo sem culpa, 
de afastá-lo sem remorso.

Mas a cada gesto, 
a cada palavra suave, 
ele me prende mais, 
me envolve nessa rede de afeto, 
e eu me vejo perdida, 
presa em um paradoxo, 
onde o amor se mistura 
com o desejo de afastamento, 
onde o ódio e a ternura 
se encontram em um mesmo espaço.

Se ao menos ele fosse cruel, 
se ao menos ele me ferisse, 
se ele fosse o vilão da minha história, 
eu poderia ser a heroína 
que se liberta do jugo, 
que rasga as amarras, 
que sai vitoriosa, 
mas não, ele é doce, 
ele é gentil, 
e isso me corrói por dentro.

Quero vê-lo cair, 
quero que suas falhas 
sejam tantas e tão profundas 
que eu não tenha mais escolha 
senão afastar-me, 
mas ele insiste 
em ser tudo o que eu não posso odiar, 
e isso me enlouquece.

Como posso continuar 
amando alguém 
que eu desejo tanto odiar? 
Como posso querer o bem e o mal, 
em uma mesma medida, 
em um mesmo instante?

É uma batalha dentro de mim, 
onde o amor luta contra o desejo 
de fuga, 
onde o carinho é uma lâmina 
que corta em duas direções.

Se ao menos ele mostrasse 
um lado sombrio, 
um lado que justificasse 
meu afastamento, 
eu poderia finalmente 
dizer adeus, 
mas ele é luz, 
ele é calor, 
e eu, que queria o frio, 
me encontro perdida 
no calor desse amor que sufoca.

Desejo vê-lo errar, 
quero que ele tropece, 
que caia tão fundo 
que eu possa olhar para baixo 
e dizer: “Eu sabia, 
ele não era tão bom assim.”

Mas não, ele continua a brilhar, 
e eu, no meu canto, 
em silêncio, 
luto contra esse amor, 
luto contra esse desejo 
de vê-lo fracassar, 
de vê-lo ser menos do que ele é.

E cada dia, 
essa luta se intensifica, 
essa guerra interna 
que não tem fim, 
onde eu sou ao mesmo tempo 
a guerreira e a derrotada, 
onde o campo de batalha 
é o meu próprio coração.

Quero o mal para poder amar menos, 
quero o erro para poder fugir, 
quero a queda para poder me erguer, 
mas ele, com sua suavidade, 
me mantém presa 
nesse ciclo sem fim.

E assim sigo, 
desejando o que não posso ter, 
amando o que quero odiar, 
presa nesse labirinto 
onde a saída parece 
tão distante, 
onde cada passo 
me leva de volta ao início.

Se ao menos ele fosse horrível, 
se ao menos ele me mostrasse 
o que eu tanto procuro, 
eu poderia, finalmente, 
me libertar desse amor, 
mas enquanto ele for doce, 
enquanto ele for gentil, 
eu estarei aqui, 
presa, 
nesse eterno conflito, 
onde o amor e o ódio 
são apenas duas faces 
de uma mesma moeda.

Minha Coleção de PalavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora