Capítulo 9: A Vila de Papel

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Depois de viajarem para oeste por dois dias de carruagem, chegaram à aldeia natal do médico charlatão. Ficava ao lado de algumas montanhas e uma floresta, rio abaixo da nascente do grande rio que dividia o país ao meio. Valas seguiam o rio, mas parecia que apenas ervas daninhas estavam crescendo nos campos.

Maomao olhou para eles atentamente e o charlatão, que adorava conversar, foi gentil o suficiente para explicar. Ele manteve a voz baixa, talvez por deferência a Basen, que estava sentado na diagonal em frente a eles. Jinshi sentou-se ao lado de Basen, mas o charlatão ainda não havia descoberto quem ele era.

"Isso é cevada", disse ele.

"Cevada, senhor? Parece extraordinariamente bem irrigada." As valas corriam ao redor dos campos, mas Maomao não achava que a cevada precisasse de tanta água.

Maomao, a gata, estava aos seus pés. Ela havia se cansado de cavalgar em sua cesta e alternadamente relaxava nos joelhos do médico e espreitava pela janela. Ela, pelo menos, parecia saber quem Jinshi era, e ocasionalmente se aconchegava contra seus tornozelos. Basen mantinha distância dela - talvez nunca tivesse lidado com gatos antes. Parecia haver muitas coisas com as quais ele não lidava muito bem.

"São para a temporada de arroz de verão. Eles cultivam duas safras por ano aqui, você vê, arroz e cevada."

"Ahh."

"Mantenha o arroz de sequeiro, e você pode cultivar outra safra no mesmo campo sem esgotar o solo", acrescentou o charlatão.

Cultivar duas safras no mesmo ano significava retirar muitos mais nutrientes do solo - mas a água para os campos de arroz na verdade restaurava nutrientes no solo, protegendo contra o esgotamento. Uma forma ideal de cultivo para uma área tão rica em água.

Ao ultrapassarem os campos, a floresta surgiu, a vila aninhada perto dela.

"Parece haver uma ampla gama de recursos naturais por aqui", observou Maomao. Tantos, pensou ela, que não parecia haver uma razão compulsória para se concentrar em fazer papel; mas havia outros fatores em jogo.

"Quando chegamos aqui, a planície já pertencia a outra pessoa", explicou o charlatão. "Mas eles não deram uma segunda olhada na floresta."

Aquela floresta, com a água das montanhas próximas correndo por ela, fornecia os recursos para a indústria de papel da vila. Não era o suficiente para permitir a produção em massa, mas eles haviam conseguido o sucesso focando na qualidade. Felizmente, o rio também servia como uma forma conveniente de transportar seu produto. Os dois grupos faziam coisas diferentes, então os aldeões se davam bem com os habitantes originais da terra.

"Quando chegamos aqui, o proprietário era um bom sujeito", disse o charlatão.

Algo incomodava Maomao, no entanto. Ao passarem pelos campos, seus olhos haviam encontrado os de um fazendeiro pisoteando a cevada. Era uma forma de tornar o grão mais forte, mas a maneira como ele o fez parecia quase irritada.

O olhar que ele lhe dera era penetrante, escuro.

Maomao fingiu que não o havia visto, voltando-se para continuar a conversa com o médico.

Quando chegaram à aldeia, foram recebidos por uma mulher que parecia ter cerca de quarenta anos. A suavidade de seus olhos, e a maneira como caíam, lembrou Maomao do próprio charlatão. A mulher devia ser a irmã mais nova do charlatão, ela supôs.

O charlatão passou a gata para a mulher, que sorriu e acariciou seu pelo. Ele devia ter contado a ela com antecedência que traria o animal. Evidentemente, ele não a avisou, no entanto, que estaria viajando com toda uma comitiva, pois ela olhou para Maomao e os outros com surpresa.

Kusuriya no Hitorigoto - "The Apothecary Diaries"Onde histórias criam vida. Descubra agora