Prólogo

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Dez anos atrás.

A carreira daquele pó branco encontrava-se bem posicionada na frente do garoto, que, com os dedos trêmulos, tão esbranquiçados quanto a cocaína, ajeitou o pequeno canudo sobre a superfície suja diante de si, que fazia parte da privada imunda, e, com um movimento rápido e levemente desajeitado, inalou toda a droga, de uma só vez.

- Urgh. – Os lábios pálidos crisparam na forma de uma careta, enquanto os olhos esverdeados se fechavam e, aparentemente, ele ia sentindo o corpo ser tomado por aquele torpor tão familiar.

Gerard se recostou contra a porta do banheiro sujo, aquele cheiro de urina forte não mais lhe incomodando, ao que os lábios formaram um pequeno sorriso e ele voltou a se sentar na tampa fechada daquele vaso pútrido. Os dedos pálidos roçaram a ponta do nariz afilado, enquanto ele fungou mais uma vez, para que toda a droga fosse finalmente consumida e, por alguns segundos, ele se manteve naquela posição, sentindo o coração acelerar e o cérebro começar a liberar aquela sensação tão agradável e que, por alguns instantes, o fazia esquecer que ele era um ser humano de merda.

Ele acabou por ficar mais alguns segundos ali, levando-se pela alucinação da droga, até que o barulho de alguém adentrando o banheiro acabou lhe despertando, ainda que parcialmente. Sem muita demora, levantou-se, guardando o resto da cocaína, devidamente posta naquele saquinho amassado, no bolso da calça, que igualmente encontrava-se tão suja quanto aquele banheiro. Abriu a porta da cabine, a qual se encontrava, mal percebendo que tinha companhia. Um garoto próximo a pia e que parecia entretido em lavar suas mãos pacientemente.

Seus olhos se encontraram por milésimos de segundos, mal dando tempo de guardarem suas fisionomias, assim que Gerard se aproximou da pia, ligeiramente afastada da qual o garoto se encontrava curvado, e, por mais que seu cérebro estivesse um tanto confuso, pode perceber que o rapaz era bem mais jovem do que ele. Quase uma criança.

- Você não deveria estar aqui, princesa. – Gerard passou a mão sobre os lábios, sentindo-os ressequidos, enquanto a outra mão abria a torneira e deixava a água escorrer, sem nem ao menos lembrar-se de tocá-la, tão alucinado que estava.

O rapaz ao lado encolheu os ombros, sentindo-se claramente acuado com o que o outro havia falado, apenas assentindo, sem nada a dizer, enquanto terminava de enxaguar as mãos ligeiramente gordinhas, os dedos levemente mais amorenados do que o rapaz tão branco e de aparência mórbida.

Frank era claramente um garoto um pouco acima do peso, tanto quanto Gerard, as feições de criança ainda tão aparentes, pois ainda não havia nenhum pelo em seu rosto. Ainda era descoberto das tatuagens... As mesmas que tanto encantariam o rapaz ao seu lado, em um futuro distante.

Sua estatura permanecera a mesma durante anos e o corpo era recoberto por roupas mais folgadas, que tinham o intento de esconder o sobrepeso. Usava uma camisa antiga de uma banda de punk rock local, assim como as jeans límpidas e bem lavadas por sua mãe. Ele olhou para o garoto mais velho, com ainda mais apreensão (evitou olhá-lo mais intensamente, nem se focando em sua face, já que tinha medo de ser um criminoso ou algo assim), e, com movimentos nervosos e rápidos, fechou a torneira, não fazendo questão de secar as mãos. Com passadas apressadas, alcançou a porta do banheiro, pois, naquele momento, ele sentia medo. Porque, afinal, ele havia decido entrar naquele buraco no subúrbio de New Jersey?

Exatamente pelo fato de que ali era o único lugar onde vendiam cigarros para menores de idade. E Frank, com seus doze anos, sendo um adolescente pseudo-rebelde, precisava disso. Sim, ele havia começado cedo com seus vícios.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora