4 - Gerard

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- Você vai beber mais disso? – Justin me perguntou, os olhos curiosos indicando o copo que eu tinha em mãos, conforme eu apoiava meu corpo contra o balcão do bar em que nos encontrávamos. O copo quase cheio de um drink azulado e forte adornava minha mão, enquanto eu decidia não prestar atenção em meu "precioso" namorado. Justin nunca iria me prender como o real dono do meu coração, nem mesmo tentando bancar o namorado preocupado, o que Frank fazia com frequência.

- Vou. E o quanto eu quiser. Estou precisando. – Eu soei ríspido? Não quis saber. A bebida muitas vezes assumia um poder não muito agradável sobre mim. Eu ficava um pouco mais elétrico e destemido, algo com o qual Justin não era acostumado e eu pouco ligava em fazê-lo lidar com aquilo da melhor forma possível. Sinceramente, eu não estava a fim de agradá-lo e, se eu poderia beber até não aguentar mais, eu iria beber.

Estávamos em mais um dia tedioso de nossa rotina. Três dias após meu aniversário haviam se passado e, insistentemente, a parte criativa da editora, aquele pessoal desocupado e descontrolado da área de marketing também, havia dado a genial (!) ideia de criarmos uma festa em minha homenagem. Todos sabiam que eu odiava festa de aniversário, eu odiava comemorar aquela maldita data, mas eu me rendi. Contanto que eu bebesse o bastante para que aquelas pessoas não passassem de borrões sob os meus olhos, eu seria "feliz".

A boate era pequena e constituía de apenas um andar, localizada no subsolo de um prédio antigo. A decoração e ambiente undergrounds davam certo ar despretensioso ao local, havendo apenas aquele bar gigantesco, localizado no centro da grande pista de dança, rodeada por sofás de couro vermelho. Eu poderia me acomodar em um destes, mas nada no mundo iria me tirar da beirada daquele balcão, enchendo o meu copo a cada meia hora que se passava.

Bom, era o que eu supunha.

Quatro doses depois, eu ignorava cada ilustre convidado que se atrevia a me parabenizar, provavelmente nem sabendo que meu aniversário já havia passado, levando Justin a ser a criatura simpática que era e conseguir amenizar aquela minha antipatia com alguma desculpa esfarrapada a respeito do famoso Gerard Way estar indisposto. O que não era verdade, visivelmente. Para alguém que estava muito ruim, eu estava perfeitamente bem e bêbado devido àquela coisinha azul e muita alcóolica que eu tinha em mãos, cuja nem ao menos me lembrava do nome direito.

Alguns aspirantes a atores tentaram uma proximidade, provavelmente já visando fazer parte do grande elenco que constituiria a continuação do filme sobre os Killjoys, já prevista sem nem ao menos ter lançado o primeiro filme direito. As HQs faziam tanto sucesso, que não era pretensão apostar em uma saga fiel ao que eu havia criado. E por falar em criação... Minha inspiração continuava indo para o ralo.

Há quase dois dias eu não criava. Eu não tinha vontade de traçar nada que não fossem desenhos aleatórios sobre papéis e telas que possuía em minha sala. Eu tinha prazos, precisava começar uma continuidade para a minha famosa saga e, simplesmente, nada saía. Eu estava me tornando um desastre em meu próprio trabalho e isso degradante. Arrumando mais uma desculpa, eu passei a beber mais e mais, acreditando que boas doses de álcool seriam capazes de trazer de volta a minha inspiração.

Como se engradados de cerveja fossem fazer Frank Iero surgir em meu apartamento novamente. Eu e minhas esperanças ridículas.

- Venha aqui, Justin. – Pedi, em um tom rouco de voz e nem ao menos notando que meu jovem namorado mantinha uma expressão descontente em seu rosto. Talvez eu estivesse me tornando um maldito bêbado insuportável, mas eu não era de me importar muito com aquilo, não naquele instante. Ainda mais me importar sobre Justin ficar irritado com aquele tipo de comportamento... Eu lhe comprava coisas caras, eu lhe dei fama... Ele tinha que suportar. Oh, merda, o que eu havia me tornado?! – Você me escutou? – Insisti e o rapaz de expressão inocente e sorriso tímido voltou a transparecer nele, ao que Justin se aproximava de mim com alguns simples passos. – Está muito bonito hoje. – A verdade era que eu nem sequer havia reparado no que ele vestia, só esquadrinhei o sorriso bobo dele, notando como Justin se deixava levar por meu falso elogio, enquanto eu me focava em um ponto um pouco atrás dele, sem deixar de disfarçar meu real intento com aquela proximidade praticamente obrigada.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora