Eu estava bem, não estava? Eu tinha que estar, afinal de contas. Bom, era uma pergunta que adquiria vários sentidos, tratando-se do estado em que eu me encontrava, mas, bem ali, analisando a mim mesmo, eu me referia a minha aparência.
Encarei meu reflexo através do espelho do closet entreaberto em meu quarto, ajeitando a jaqueta que havia recém comprado em uma saída aleatória. A peça era de um jeans um tanto quanto surrado, com alguns bottons a adornando e colocados prontamente por mim, assim que a vesti naquele dia. Inclusive, a maioria deles era da Leathermouth, cujos eu havia adquirido no último show que fui, incluindo a camisa que vestia por debaixo da jaqueta. Aquela preta, com o símbolo peculiar da banda em branco, na altura do lado esquerdo do peito. E é... Eu estava ótimo por fora, vestindo a calça jeans preta que Frank tanto gostava e os tênis também escuros recém lavados por mim, impecáveis como sempre. O interior não estava lá essas coisas, mas eu sabia fingir bem.
Me encarei um pouco mais, sempre como fazia quando me deparava a ponto de sair do meu apartamento para ver Frank em segredo, naquela esperança muda para que me visse. Eu sempre queria estar do jeito que lhe chamava atenção, do jeito que fazia Frank voar sobre meu pescoço, enlaçar-me em um beijo de tirar o fôlego e me arrastar para aquela cama vazia com aquele sorriso gostoso nos lábios. Tentando livrar-me de tal memória, sentei-me sobre o colchão confortável daquele móvel, encarando a vista da janela do cômodo, enquanto sentia perfeitamente como se ele estivesse ali, sussurrando que sentia saudades de mim e queria que eu voltasse para ele. Eu sempre o imaginava daquele jeito, carente, manhoso, como sempre ficava comigo, assim que me visse em um de seus shows e ele desistisse de tudo, do gelo, da distância, das decepções... E eu poderia parecer um louco em me forçar àquilo, mas... É, eu era louco.
Era a forma que eu havia encontrado de me punir. Pois eu merecia todas as palavras que Frank dizia a cada vez que tocava Burn Bright ou qualquer outra música que supostamente lembrava o nosso amor. Eu sempre estive ali, desde o primeiro dia, desde o primeiro show oficial do Leathermouth como a banda promissora daquele EP fantástico e que estava com o CD quase pronto para gravar e lançar-se ao mundo. Desde que eu havia prometido a Frank, não iria descumprir com minha palavra, por mais que ir para o backstage, como ele antes queria, era inviável em tal situação. De qualquer forma... Eu não ia deixar de assisti-lo, de vê-lo em seu momento de glória. Por mais que fosse a sua miséria também.
E ninguém fazia a menor noção de que eu me prestava àquele tipo de tortura silenciosa/barulhenta ao mesmo tempo. Nem Bob, nem Ray, nem Mikey... Agora só Bert, incrivelmente, partilhava daquela informação comigo e eu tinha certeza de que estava bem guardada com ele. Eu tinha a agenda da Leathermouth sempre atualizada em meu celular e eu não me importava aquelas datas me mandavam para o outro lado do país, vez ou outra. Eu ia atrás. Eu usava um pouco da minha fortuna em jatinhos, abusando um pouco daquela fama, para chegar ao meu destino. Para seguir Frank.
Suportei de tudo, dentro daqueles dois meses e meio o perseguindo em demasia. Palavras cheias de dor, raiva, amargura... Xingamentos, como se Frank soubesse que eu estava bem ali, para receber aquilo tudo de bom grado, conscientemente. Aguentei Adam e suas tentativas de se aproximar, mas também reparei como Frank se esquivava e se aproximava de meu irmão para alguma brincadeira estúpida, deixando aquele desgraçado abusado de lado. Por inúmeras vezes, quase tive uma de minhas críticas síndromes de ciúmes, mas eu me segurei... Pois eu não tinha o menor direito de me intrometer naquilo, de querer pagar como namorado enciumado, eu era só o cara que o havia deixado na merda. Eu não era mais seu namorado e eu estava fazendo algo pior em comparação a Adam querer abusar de Frank, por mais que eu não tocasse Justin direito desde a noite em que Ray e Bob resolveram ser a dupla de amigos que jogaram toda a verdade em minha cara. Eu sentia que seria uma espécie de traição às memórias de Frank e sabe-se lá por quanto tempo mais eu ficaria assim.
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Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...