- Ou você me paga, cara... Ou você não volta inteiro para casa. – O rapaz tão sujo quanto o maior tinha um tanto de seriedade na voz, os olhos mal focados em Gerard, mas a arma que segurava em mãos tremulava em sua direção. Se estivesse um tanto mais sóbrio, Way definitivamente teria medo, mas, naquele instante, tudo o que ele conseguiu fazer foi sorrir debochadamente e desafiar sua sorte.
- Ei, não precisa se estressar, eu... Eu... Argh. – Gerard mal conseguia falar. O efeito da droga misturado com o da bebida mais do que alterada que havia tomado na festa que recém havia saído estava fazendo um efeito. Ele sentia dormência no corpo e imaginou que fosse cair naquele chão sujo daquele quarto de motel igualmente sujo, quando se amparou contra a parede ao lado da porta de saída do quarto, rumo que ele deveria ter tomado de início. Ou melhor, que ele não deveria ter tomado.
Pouco havia se lembrado da viagem de trem até NJ. Gerard realmente nunca entendeu muito bem o real motivo de sempre acabar por lá, ao fim de algum surto decorrente da droga misturada à bebida. Talvez fosse pelo atual índice de impunidade de criminalidade da cidade, o que facilitava suas transações proibidas, busca por entorpecentes e coisas que pudessem aliviar sua dor... Ou... O que ele não fazia a menor ideia de ser o motivo verdadeiro, fosse simples obra do destino. Ele era guiado pelas drogas, por sua fraqueza, enquanto o seu real vício estava a poucos metros de distância do local onde estava. A sua força, o seu menino... O seu inocente Frank. Bom, inocente ao menos naquela época... Um garoto sem malícia alguma que, futuramente, não faria ideia do fracasso que ele era.
Gerard revirou os olhos, fingindo insolência, enquanto, na realidade, ele sentia medo. Falsos corajosos, como ele, sempre são temerosos bem no fundo. E ele estava tão no ápice de tudo, das drogas, da dor e da solidão, que se sentia um pequeno cãozinho com o rabo entre as pernas, sob o olhar nada amistoso do traficante diante de si.
Estava ali, naquela breve enrascada, não entendendo muito bem o que havia lhe dado na cabeça para cometer uma burrice como aquela... Contatar um traficante sem dinheiro algum, que merda. Queria mais, mas estava cada vez mais difícil arranjar dinheiro. Os pais estavam cercando Mikey, o irmão já havia usado todas as suas armas para tirá-lo do fundo do poço, já havia se desgastado tanto... E Gerard também se sentia dessa forma. Sentia o peso dos esforços do irmão e o peso por nem ao menos ter força para se reerguer.
Exausto.
Não só seu corpo adquiriu tal estado, como também sua mente, sua alma. Sentia uma forte dor dentro de si, além dos efeitos não mais tão agradáveis da droga, que parecia o arrebatar e não lhe proporcionar as viagens alucinógenas de antes. Sentia-se como um verme, algo tão repugnante quanto tal, e seu ego encontrava-se ferido por rebaixar tanto a si próprio. Não precisava, nunca precisou ser tão baixo a esse ponto, se tornar aquele homem irreconhecível e que definhava, acabava com a própria vida. Havia formas diferentes de lutar e ele sabia muito bem disso. Mas, como foi dito, Gerard era um falso corajoso... E falsos corajosos pegavam a primeira saída para os seus problemas, geralmente a mais fácil de todas. E drogas eram exatamente o fraco dele.
Pela primeira vez, em anos de vício, Gerard se deparou diante de outra opção, ou melhor... A buscou naquela noite específica. Pois ele ainda tinha chance, ele era capaz de sentir que poderia lutar e não ser o covarde que o pai tanto jogava em sua cara. Gerard precisava provar para si, não para aquele homem repugnante, por isso, sentindo os efeitos da droga apaziguarem apenas um pouco, o que fez com que ele decidisse tomar a caneta que escrevia sua história firmemente entre os dedos e reescrever o seu futuro quase certo.
O passado não poderia ser pagado ou riscado, muito menos amassado e jogado fora, como um de seus primeiros rascunhos quando decidiu que iria voltar a desenhar. Já estava enraizado em seu sistema, juntamente do vício. Gerard teria que se esforçar, se tornar outro homem e ele passou a acreditar que era capaz de fazê-lo. Ele tinha um pouco de esperança guardada dentro de si.
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Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...