Surrender The Night || Frerard version

63 - Um ano e três meses atrás

- Eu deveria ter marcado outro lugar pra encontrar aquele louco. – Frank resmungou consigo mesmo, ciente de que havia sido uma péssima ideia se orientar pelo mapa que Bert havia feito para ele. Era um garrancho mal elaborado, com dezenas de setas, desenhos idiotas e comentários dispensáveis de McCracken, que lhe diziam absolutamente nada. Como sempre.

Em algum momento da vida, todos nós esbarramos em um amigo complicado, enrolado, que precisa de basicamente um cão-guia para se locomover na rua, caso não quisesse esbarrar em pessoas por aí. No caso, Frank era esse amigo e Bert havia gentilmente tentado ajuda-lo, da melhor forma, mais do que já estava fazendo ao lhe arranjar aquele emprego na biblioteca. Da sua maneira, McCracken se esforçava para fazer com que Frank se habituasse à vida nova-iorquina, mas, nem sempre, obtinha sucesso... Ele era tão americano quanto sua mãe canadense e nem sempre parecia motivado a entender aquela cidade grande e cheia de sonhos.

E por falar nestes, naquele dia em questão, os de Frank começariam a ganhar forma e se concretizar, não apenas naquele emprego que havia caído do céu, mas ao finalmente esbarrar de vez nele. De se encontrar em definitivo.

Não, sem, claro, cruzar o caminho de Gerard uma última vez naquele dia, sem que os dois percebessem que estavam sempre com seus corações entrelaçados. Como aquela típica brincadeira sem a menor graça que o destino pregava nos dois... Fazendo com que se sentissem ainda mais preocupados, até mesmo desesperados por dentro, por estarem quase lá... Capazes de encontrarem algo grande, mas nunca tocando diretamente. A certeza de que algo estava faltando, de que precisava ser desvendado, mas sem a menor ideia do que exatamente.

O verdadeiro presente da vida de Frank estava à mais de dez metros de distância dele, em um ponto qualquer do Central Park, caminhando errante, semelhantemente perdido, como ele. Enquanto Frank estava ali, à pedido de Bert, para que se encontrassem e seguissem até a biblioteca (logo, Iero descobriria que ir direto do apartamento que antes dividia com o primo era mais eficaz do que dar voltas na cidade), Gerard parecia mais atordoado do que os pombos que giravam sobre a cabeça de Frank, caçando alguma migalha de comida largada no parque.

Mas, primeiro, era preciso falar de Frank, de como o garoto caminhava com lentidão pelo caminho terroso, evitando esbarrar em crianças que corriam com seus cachorros e idosos que se sentavam ali para lerem seus jornais, tomarem o café da tarde ou coisas do gêneros. Casais de namorados também, mas Frank não estava atento ao amor... Não ainda. Primeiro, ele precisava achar o ponto de encontro, próximo a 72nd street, o metrô assinalado por Bert naquele amassado pedaço de papel.

- Ás vezes eu acho que esse palhaço gosta de me pregar pegadinhas, não é possível. – E Frank se arrastou, os tênis gastos e rasgados pisando, por algumas vezes, na barra da jeans que usava, a peça sendo grande demais para aquele rapaz pequeno. Amassou ainda mais a folha, a guardando no bolso do moletom, antes de decidir procurar por conta própria... Afinal, placas não deveriam mentir e ele tinha quase certeza de que havia passado por uma enorme, cuja anunciava uma das entradas do metrô.

Com as mãos afundadas dentro dos bolsos do casaco escuro, seguiu caminho sem olhar para o chão, a cabeça erguida e os olhos buscando desesperadamente por qualquer coisa que lhe levasse ao ponto de encontro, ou quiçá, McCracken. Andou por longos minutos e nem um ruído sequer da voz escandalosa de Bert adentrou seus ouvidos, o fazendo sentir-se ainda mais idiota. Talvez fosse um pouco estúpido de sua parte achar que não deixaria de se perder naquele enorme parque, mas não poderia fazer muita coisa... Ele parecia ter nascido sem coordenadas para a vida e aquele poderia ser um sinal de que deveria deixar de lado. Desistir da ajuda do irmão de Mikey, da faculdade, voltar para New Jersey e ajudar a mãe nos negócios da família, ainda que a memória do seu velho avô o estimulando o impedisse veementemente disso.