71 - Frank

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Encarar a parede branca, mal iluminada pela escuridão do loft, não me pareceu a melhor opção do momento, mas a cena era menos depressiva do que aparentava ser. Eu estava muito longe de estar triste e reflexivo, mas a tensão em meu rosto era algo que eu sequer conseguia esconder, desde que havia saído da clínica no começo da manhã e dado início ao meu plano. O que se tratava do presente de natal de Gerard Way.

Sim, eu sei, eu havia estipulado que o presente seria outro, de caráter corporal, mas... Veja só, eu até sabia mentir e omitir muito bem, mais do que eu imaginava, não havia sido complicado fazer com que acreditasse que só seria sexo. Nem ele, nem ninguém havia notado que Frank Iero sorria docemente, enquanto entrava em pânico por dentro.

Eu estava prestes a desistir. Dois dias atrás, largado na cama desconfortável da clínica, eu havia entrado em um desespero completo, chapado de remédios que pareciam desconjuntar meu emocional, até decidir ligar para o meu velho pai e colocar cada pedaço dos meus pensamentos loucos para fora. Se eu me mantivesse guardando tudo para mim, eu duvidava que fosse ter estruturas para fazer o que iria fazer naquela noite.

Frank-pai havia sido o melhor ser humano do mundo, como sempre (minha mãe também havia cooperado com seu surto de felicidade e apoio, mas ele havia sido o principal fator para que eu continuasse com aquela ideia fixa). Contar tudo e receber seu apoio, seu discurso tão amável e sincero, fez com que eu consolidasse o plano, ao invés de mantê-lo como aquele sonho surreal, quase inalcançável, no qual eu mergulhava todas as noites. Era possível, claro que era, e eu já havia passado do estado de conformidade para o de "Frank, você precisa fazer alguma coisa". E eu estava, não havia mais volta, e eu sequer pensava em dar meia volta e largar tudo de mão.

Desde o primeiro minuto daquela manhã, ao que acordei, após uma madrugada mal dormida, pela falta de sono e estruturas para relaxar, eu sequer deixava de pensar nele. No sorriso tão bonito, em como eu precisava estar ao seu lado e estava cada vez mais próximo de fazê-lo de verdade novamente. As noites ainda tinham altos e baixos, culpa da abstinência cada vez mais fraca, mas estavam suportáveis e quase tranquilas. E desde que eu havia tido aquela ideia em questão, era como se eu fosse o Frank que havia entrado pela primeira vez naquele apartamento.

Mas com melhorias... E elas ficavam cada vez mais evidentes. E até para mim, que mal levava fé naquele Frank do passado, acreditava em toda aquela confiança.

E foi ele, aliás, eu, quem, todo sério e decidido, pediu para que meu pai me levasse à casa de Mikey, antes de qualquer coisa, para que eu jogasse a "bomba" para as duas pessoas que iriam me ajudar no restante do plano. Claro que pensei em ligar para Bert, eu até havia mandado uma maldita mensagem desaforada para ele, algo com um "grandes mudanças estão chegando", que o fez mandar áudios enormes para mim, cujos ignorei com pesar. Não podia falar nada, não para ele, o que era traumatizante, pois Bert seria o primeiro a dar com a língua entredentes e sair correndo atrás de Gerard na hora errada, já que os dois haviam se tornado amiguinhos demais.

Assim, após alguns longos minutos de surto do casal Way, nós demos continuidade ao meu plano e não demorou muito para que Alicia partisse comigo para a tarefa mais árdua de todas. Era engraçado como, no ano anterior, eu havia lhe dado algo "fútil", e, naquele ano em questão, eu lhe daria tudo o que ele mais desejava no mundo.

E em um resumo breve daquela manhã, enquanto eu e Alicia íamos em busca do principal, Mikey e as crianças ocupavam Gerard com qualquer coisa que o impedisse de correr atrás de mim. A loucura a respeito de encontrá-lo logo me tomou durante toda a manhã e a tarde, mas, ainda sim, o medo vinha sorrateiro, acertando-me, a cada vez que recapitulava o plano em minha mente. E eu tinha quase 42 por cento de certeza de que eu poderia desmaiar quando o visse diante de mim.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora