45 - Gerard

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- Quando Mikey tinha oito anos de idade, ele me perguntou sobre amor... Porque as pessoas se apaixonavam, porque viviam ao lado uma da outra pra todo o sempre. Bom, eu não soube ao certo explicar, por não acreditar no sentimento. Não naquela época. – Meu olhar vagava por cada um dos convidados, com toda a calma que me cabia naquele instante. Eu nunca havia me imaginado, sob o olhar de tantas pessoas, falando sobre meu irmão no dia mais feliz de sua vida. Não que eu o imaginasse infeliz, mas era surreal... Minha mãe não estava ali, meu detestável pai estava sentado a algumas mesas de distância da minha, meu pequeno raio de sol estava ao meu lado, com seus olhos cor de caramelo erguidos em minha direção, ao que me posicionei de pé diante da enorme mesa que dividíamos com nossos amigos. Era atípico, mas... Eu me sentia em paz, apesar de todos os pesares daquelas semanas.

O dia não poderia ser mais perfeito.

O sol era ameno e iluminava aquela área apenas recoberta por uma tenda fina, semelhante a do altar a poucos metros dali, onde Mikey havia se tornado oficialmente um homem casado. As cadeiras eram postas de forma aleatória, formando um quadrado em certo ponto do terreno, próximo à uma área mais livre e com o piso feito de uma superfície amadeirada rústica que formava uma improvisada e chique pista de dança, onde Mikey e Alicia encontravam-se parados, ao que escutavam o discurso nada ensaiado de seu padrinho (talvez eu até fosse bom em palavras, como não esperava ser). Uma fileira enorme de mesas e cadeiras brancas amadeiradas repletas de convidados famintos com suas taças de champanhe em mãos nos dividiam, mas meu falar era intimista, como se fosse uma conversa casual com o casal que eu mais admirava no mundo.

Eu tinha uma taça de champanhe em punho, apenas pela formalidade em si, enquanto Frank cuidava da mesma mais do que olhava para mim, com o breve olhar que clamava um "Não se atreva a beber isso, Gerard Way". Mas a última coisa que me preocupava, naquele instante, era a bebida, ao que eu tinha aquele simples discurso em mente e a bela imagem de Frank com Daisy em seu colo, a pequena o observando com toda sua inocência, enquanto aquela visão me deixava claramente emocionado.

E não havia melhor inspiração do que aquela para continuar.

Frank e toda sua doçura em ajeitar a sobrinha nos braços, os olhos piscando lentamente, processando minhas palavras com devoção, enquanto ia do inocente ao preocupado, quando me via gesticular com a taça em mãos. Frank e como ele não havia se abalado nem um pouco ao ver meu pai ali, pelo contrário... Ele havia me puxado mais para si, sempre mantendo nossas mãos unidas, sorrido tanto, mas de forma tão natural, que eu não me preocupei. Ele era a razão pela qual eu estava em paz durante aqueles dias.

- Então Mikey cresceu... Mikey e eu tivemos nossas diferenças... Mikey e eu seguimos caminhos aleatórios... Mikey e eu fortalecemos um ao outro por anos. Até o meu irmão mais novo encontrar essa maravilhosa mulher. – Pontuei os fatos, sem me estender muito, afinal, ninguém precisava saber dos pontos baixos de nossas vidas. Aquele dia era o dia dos sorrisos, de falar sobre amor e, por isso, eu continuei, mais firme que antes, por mais que minhas bochechas corassem drasticamente a cada vez que me dava conta dos olhares de todos os convidados voltados para mim. – Sei que é completamente clichê, mas existe um Mikey antes e depois da Alicia... E o que mais me deixa gratificado em vê-lo aqui, ao lado da mulher que ele ama, é saber que ele sempre esteve em boas mãos... De alguém finalmente conseguir controlar esse louco com amor... Até hoje, não consigo acreditar como esse nerd esquisitão conseguiu fisgar um mulherão como a Ali... Mas, a vida tem dessas, não é mesmo? – Algumas risadas ecoaram e eu ri baixo, ainda vermelho, levando uma das mãos aos cabelos e ajeitando-os, naquele corte mais curto do que o anterior, antes de suspirar e prosseguir. – Não só existe alguém que o ama, mas que faz Mikey alguém melhor... E que, juntos, se tornaram a família que eu tenho orgulho de fazer parte. Que só cresce... – E alguns olhares se direcionaram a Frank com Daisy nos braços, assim que o fiz, cheio de um sentimento que não cabia em mim... Eu precisava falar um pouco mais e, pelos olhos lacrimejantes de Mikey, a poucos metros de mim, eu tinha toda permissão de fazê-lo. – E me faz querer ser um homem como o meu irmão... E é engraçado... Eu cresci tendo a responsabilidade de ser um exemplo para Mikey, enquanto, no fim de tudo, ele sempre foi aquele em que eu me espelhava, quem eu queria orgulhar... Era em Mikey que eu pensava, quando enfrentava meus problemas, quando construía a minha vida... Eu pensava em dar ao meu pequeno irmão algo com que se orgulhasse... Que falasse para os amigos "Hey, aquele cara ali é o meu irmão mais velho"... Não sei se estou nesse ponto, mas acredito que um dia eu chegue lá. Mas hoje, eu tenho a oportunidade de dizer que é você quem sempre me orgulhou sendo esse ser humano maravilhoso que você é, o cara que sempre foi correto, que sempre me fez correto, acima de tudo... Que cuidou de mim, quando ninguém mais quis, que esteve comigo quando eu estava sozinho e que... E que fez com que eu conhecesse o amor da minha vida com um acaso tão especial. Obrigado por ter colocado Frank no meu caminho... Obrigado por ser o maior irmão do mundo, mesmo eu sendo a pessoa mais difícil de se lidar quase todo o tempo. – Naquele ponto, Mikey já havia levado uma das mãos ao rosto, fingindo coçar a lateral deste, quando eu sabia muito bem que chorava, enquanto eu sequer olhei para meu pai ou até mesmo Frank. Aquele momento era apenas meu e daquele magrelo desajeitado. E, recebendo aquele beijo sutil de Alicia em sua bochecha, ele esboçou uma careta, o nariz vermelho e o rosto tentando não ceder às lágrimas, enquanto eu igualmente me expressava da mesma forma, tentando não me debulhar ali. Respirei fundo, trocando o peso do pé direito para o esquerdo, erguendo um pouco mais a taça, me enchendo de motivação. – Não vou mais enrolar, acho que vocês estão loucos pra comer esses pratos que a minha querida cunhada tão bem selecionou durante semanas e... – Pude escutar Frank pigarrear, me cutucando com um dos pés, naquele sinal de que eu estava me desfocando do assunto, o que não era muito comum. Os remédios que eu estava tomando me deixavam daquela forma, ás vezes desorientado, precisando que Frank me orientasse por algumas vezes. O fitei de soslaio, sussurrando um "Obrigado, amor", recebido com um sorriso e aumentei meu tom de voz, para finalizar aquele breve discurso. – Desculpem. E eu gostaria de voltar a agradecer à Alicia... Pela sobrinha adorável, pelas noites de conversas jogadas fora, por cuidar diariamente de Michael... Por torna-lo um homem de verdade. Ali, você e Mikey são perfeitos um para o outro, não existe dúvida alguma a respeito disso. E o amor de vocês não só me inspira, como inspira todo o mundo. Que esse seja apenas um dos vários capítulos iluminados da vida de vocês. Aos noivos! – Exclamei mais alto aquela saudação, vendo Frank levantar-se ao meu lado, Daisy bem presa ao seu corpo quando a segurava com um dos braços, ao que ele se ajeitava para erguer a taça de champanhe juntamente à mim e aos convidados.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora