48 - Halloween de 1997

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- Mamãe! Essa roupa é de... De... "Deconfotável" – o pequeno Frank, em seus recém feitos seis anos de idade, resmungou, puxando o tecido estranho do corpo, recebendo uma risada branda em resposta da mãe, ajoelhada diante de si. Ajustava os trapos que havia feito especialmente para o filho, que mal conseguia ficar quieto com aquela máscara verde enorme em sua face. O menor ajeitou a peça contra a face, tão inquieto, que a mãe não demorou em suspender a máscara de Frankenstein do rosto do filho, ajeitando-a sobre seus cabelos acastanhados e encontrando aqueles olhos cor de âmbar bem abertos e vivos. – Não quero mais ser Frankenstein.

- Frankie... Você está lindo, meu filho. Você insistiu tanto pra mamãe fazer essa fantasia pra você... Venha cá, dê só uma olhada. – A mãe pegou o filho no colo, com certa dificuldade, recebendo seus bracinhos curtos sobre seus ombros, ao que caminhava em direção ao hall de entrada da casa dos Iero, para que o filho visse seu reflexo diante do largo espelho que havia na parede.

O pequeno visualizou-se com aquele macacão amarronzado, de jeans desbotado, a camisa comprida preta e rasgada em alguns pontos por debaixo deste, acompanhado das pequenas luvinhas verdes de monstro que sua mãe havia comprado para ele. O restante da fantasia, menos as botinhas pretas, havia sido feito customizado por Linda, inclusive a máscara, fruto da pintura do marido, em um pedido atendido aos desejos do filho. Frank havia demonstrado seu desejo em ser aquele clássico monstro dos cinemas e da literatura, assim que viu o filme com seu irmão mais velho e subitamente mostrou-se fascinado. Passou duas semanas inteiras exigindo que todos o chamassem de Frankenstein e não foi surpresa quando desejou aquela fantasia em seu aniversário.

A mãe não pensou duas vezes em ceder ao capricho do filho, sempre tão excêntrico, ainda mais por ser naquele dia em especial. Ela havia preparado uma festa e tanto, na casa dos avós Iero, em uma rua não muito longe da onde moravam, e, antes de chegarem ao local, ela e Frank fariam a tradição de sempre: caminhariam atrás de doces pelas casas da vizinhança, parariam perto da praça, onde Joe, um vizinho conhecido, distribuía mais doces do que a classe média americana normalmente oferecia, e seguiriam até os avós de Frank, onde a extensa família Iero estava à espera do pequeno aniversariante.

Frank estava começando a tornar-se o menino com gosto peculiares que era e a mãe reconhecia seu jeitinho especial desde cedo... Como o pequeno já parecia responsável e atento à música, como o avô era... E como aprendia com o mais velho, todas as vezes em que iam visita-lo. Frank já demonstrava interesse em mexer em violões e baterias por aí e a mãe não o repudiava por isso. Havia tido filhos o suficiente para saber que eles precisavam ter suas próprias escolhas e não se importava com o menor já decidindo por si só em uma idade tão prematura. Ele era talentoso, era só olhar.

Da mesma forma com que Frank tinha amor às coisas pequenas e era um detalhista nato com seus olhos cor de mel atentos, permeando seu reflexo no espelho, cuidando de como parecia maior do que o ano passado, os cabelos mais longos e bagunçados, o sorriso sapeca e a fantasia larga em seu corpo, como haveria de ser, embora o incomodasse um pouco. Por mais que as mangas quase recobrissem os dedinhos da luva verde, Frank se viu bonito naquele reflexo, satisfeito em parecer um Frankenstein aparentemente fofo e assustador. Sua mãe havia feito um bom trabalho.

- Obrigado, mamãe... Eu estou bem. – Ele disse, as mãozinhas verdes esticando-se no ar e apertando as bochechas da mãe, com todo o carinho que o jovem Frank já exalava. – Aposto que vou assustar todas as crianças! – A alegria do menor era contagiante e fez com que a mulher imediatamente sorrisse em um tom semelhante ao do filho. Eram só os dois ali, o resto da família já estava reunida, os irmãos mais velhos de Frank corriam pelas ruas da cidade, atrás dos doces, e Linda sabia que manteria aquela tradição com Frank durante anos. Era uma coisa dos dois e ninguém poderia lhes tirar isso.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora