Meus dedos estavam perfeitamente encaixados nas notas certas. Era o que eu esperava, ao menos assim me parecia correto, mesmo sob aquela gritaria toda que o público fazia. A guitarra era nova, uma Epiphone que havia sido presente da gravadora e eu ainda precisava me acostumar com o modelo criado especialmente para mim, aquele tom acinzentado e quase prateado chamando um tanto de atenção em meio às minhas roupas pretas e sempre mórbidas. Eu tinha mesmo que prestar atenção para não foder com aquela guitarra novinha, ainda mais quando eu me metia a fazer minhas maluquices no palco sob o efeito daquelas coisas que eu resolvia usar antes de começar cada show.Burn Bright era tocada no automático e meus companheiros de banda não mais se irritavam com isso ou com o meu comportamento ridículo ao longo da música. Era melhor ter alguém que tocava as músicas da banda, do que um viadinho que chorava antes mesmo de entrar no palco. Mesmo que o meu mal fosse ser sempre transportado para as memórias de cada estrofe daquela música, eu me segurava. Eu não ira deixar aquilo ser o meu fim, não agora.
As palavras saíam dentre meus lábios de forma dolorida e que arrebatava meu peito. Gostaria de ser o Frank daquela noite onde o beijei na frente de todos... Gostaria de ser forte, como seu sempre propunha a ele... Gostaria, mas não era possível. Eu era um caos e eu tinha absoluta certeza de que não poderia ser mais patético do que aquilo. Até me lembrar de que já estava sendo, como sempre, quando me colocava no papel de masoquista extremista.
Eu usava aquela máscara de Frankenstein, a que ele havia me dado, como se fosse um troféu daquela dor. Veja só e me diga se isso não é o cúmulo do suicídio. Aquele pedaço de plástico esverdeado era uma das minhas melhores memórias... Ele era decorrente de um dos dias em que Gerard Way havia me feito o homem mais feliz do mundo e não havia demonstrado vergonha quanto a isso.
A máscara chamativa pendia em meio aos meus fios, bagunçando meu moicano e eu não me importava de provavelmente parecer uma catástrofe diante do meu público. Afinal, eu era mesmo... Não havia o que esconder ali. Enfim... Há dias eu usava aquele objeto, tentando me mostrar forte e seguro de meus atos, uma pseudo-âncora para os meus problemas ou algo assim. Por fora, eu era rude e inatingível, por dentro... Bom, eu estava tão quebrado e frígido quanto a minha voz soava naquela estúpida música.
Eu poderia dizer que era lindo ver cada rosto naquela multidão entoando minhas músicas, mas era ainda mais ridículo de notar que eu não conseguia enxergar absolutamente nada diante de mim. Só vultos, sorrisos desconexos e luzes... Dezenas de pontos brilhantes. E era sempre assim.
Toda noite.
E nunca iria mudar, pois eu era teimoso demais para continuar me afundando naquilo.
Eu havia conquistado o meu sonho, eu começava a ascender e não me lembrava de absolutamente coisa alguma desde que eu me deixei fracassar por um babaca que não dava a mínima para mim. Por mais que eu tenha acreditado, desde o momento em que vi todas as suas virtudes, desde que eu o conheci de verdade, que Gerard era o meu grande amor. Mesmo que ele fosse um completo imbecil, estúpido e covarde, o que, com o tempo, estava ofuscando todas as suas qualidades e... Eu acreditava naquilo. Eu ainda acreditava que ele era a única pessoa certa para mim.
Ah, merda, eu preciso parar de pensar em alguém que não dá a mínima para mim. Esse é o mal do "clube do coração partido", nós vamos sempre nos lembrar daquilo que nos corrói até o fim dos tempos. Daquilo que deveríamos esquecer.
Assim como aquela maldita sensação. O frio na espinha a cada vez que a música terminava e a minha guitarra era ofuscada pelos berros da multidão. O meu olhar era doentio, permeando a plateia, vagando cada maldito ponto daquela casa de shows no Brooklyn. Dias... Meses... Anos poderiam se passar, mas eu ainda gravava aquela esperança ridícula dentro de mim. A esperança de vê-lo ali, olhando para mim e fascinado, como sempre havia sido ao meu respeito. Como se eu fosse a criatura mais importante no mundo para ele. Por mais que, no final, ele tenha me provado o contrário.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...