53 - Um ano e onze meses atrás

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- Você vai dar essa desculpa do braço até o fim dos dias. – Frank retrucou, quando o primo lhe fez o pedido: buscar uma pilha de DVDs sobre as prateleiras reservas que ficavam em cima da prateleiras comuns dos filmes que estavam para ser alugados. A ordem seria boba e simples, se não fosse por Frank ter um pouco de problema com altura (além da falta dela) e Timothy incansavelmente se livrar daqueles trabalhos mais braçais, em questão do ferimento que havia sofrido a quase um ano. O Iero menor poderia reclamar, mas, veja só, era tão bobo e inocente quanto uma criancinha do maternal que tem seus brinquedos roubados, que não demorou em rumar para o fundo da loja, resmungando para si mesmo. – E é assim que você trata a família, muito bom. – Esperou mais alguns minutos de caminhada entre prateleiras, para concluir seu pensamento, encarnando o próprio adolescente de dezesseis anos de idade, revoltado com os pais que não o entendiam. No caso, a falta de compreensão vinha do primo, que o tratava como empregado quase todo tempo. – Não vejo a hora de dar um tempo desse cara, ter o meu dinheiro e poder ver minha família de verdade.

Frank sentia uma falta absurda dos pais. Das brincadeiras bobas com os irmãos. Dos cachorros babando sua cara pela manhã e que utilizavam suas pernas como objeto sexual, quando estavam no cio. Da sua cama quentinha, da bagunça de todo o quarto e de acordar com a mãe gritando seu nome. De fugir de madrugada para ir ao bar da esquina, encher a cara sozinho ou acabar esbarrando com estranhos apetitosos por aí.

Mas Frank tinha uma nova vida em Nova Iorque, que sabia muito bem que não poderia deixar para trás. Tudo antes tinha o toque dos pais e dos irmãos e agora tudo era muito seu. O amigos loucos, a faculdade na qual se dedicava, o trabalho nada revigorante e o pequeno quarto que ocupava na casa do primo (ainda que não o pertencesse literalmente, ainda sim era um pedacinho seu). Tinha seus hábitos solitários ou partilhados com Bert e Mikey, algo que estava construindo naquela cidade. Não poderia chamá-la de sua, mas estava cada vez mais próximo, com o passar dos dias.

O emprego na locadora não remunerava muito, mas era o suficiente para que Frank ajudasse nas despesas, pagasse um pouco da faculdade e, somado a alguns bicos que fazia por aí, conseguia, vez ou outra, extras para sua própria diversão. E não seria diferente naquela noite, onde iria sair com Bert e alguns amigos, para uma boate que o mais louco deles havia sugerido. Era algo mais na periferia, Frank tinha certo receio, mas ainda sim havia concordado em ir. Pouco saía, pouco conhecia gente nova e tinha certeza de que sua juventude estava sendo sugada dentro daquela locadora que cheirava intensamente à chiclete de tutti-frutti e meias velhas. Se é que isso é possível.

Frank não era amante do local, mas sim de seus filmes, e se o dono fosse escolher ele ou o primo como melhor funcionário, Frank definitivamente ganharia. Sua dedicação era clara, gostava sempre de fazer tudo nos mínimos detalhes e dar o seu melhor. O pequeno rapaz havia adotado o sendo de responsabilidade do pai e se amaldiçoava por não ter herdado a altura também, quando se deparou com a enorme escada encostada em um canto escondido da locadora, logo ao lado da porta que levava à sessão pornô.

Revirou os olhos ao perceber que encarava um grande pôster de um homem vestindo apenas um avental de galinha (isso mesmo) e tratou de puxar a escada, com toda a calma do mundo, embora estivesse sem muita paciência. Estava praticamente pronto para sair e só não havia realmente o feito por Bert não ser a criatura mais pontual do mundo... Se o fizesse, ele estaria longe dali há muito tempo e o primo teria que se virar sozinho.

A roupa que vestia não ajudava em seus movimentos: a jaqueta velha estava bem justa no corpo, assim como a camisa de banda que escondia suas tatuagens, a calça era incrivelmente apertada e até difícil de se movimentar para lá e para cá, como ele constatou, ao tentar levar a escada até seu destino. Os tênis haviam sido substituídos por coturnos, que escondiam a barra da calça, uma combinação que Frank havia classificado como "gostoso demais para que a humanidade pudesse resistir". Havia completado tudo aquilo o com o cabelo bagunçado, o lápis no olho e o novo piercing no nariz, já que havia perdido o anterior.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora